Agronegócios
03/06/2019 10:12

Perspectiva: plantio da safra 2019/20 nos EUA concentra atenção no mercado de grãos


Por: Leticia Pakulski; Tomas Okuda e Gustavo Porto

São Paulo, 03/06/2019 - O mercado futuro de soja, milho e trigo na Bolsa de Chicago (CBOT) inicia a semana com as atenções voltadas para o clima nos Estados Unidos e o ritmo de plantio da safra 2019/20 no país. Traders avaliam as condições dos últimos dias, uma vez que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) só atualizará a evolução da semeadura após o fechamento do mercado. Investidores também seguem atentos à demanda por grãos norte-americanos, com a continuidade do impasse entre EUA e China e o plano do presidente dos EUA, Donald Trump, de tarifar o México.

No caso da soja, os futuros fecharam em queda de mais de 1% na CBOT na sexta-feira, pressionados um movimento de embolso de lucros após os ganhos recentes e pela imposição de tarifas dos EUA contra o México. O vencimento julho caiu 11,25 cents (1,27%) e terminou a US$ 8,7775/bushel. Mas a oleaginosa havia subido nas quatro sessões anteriores. Na semana, teve ganho de 2,76%. Os EUA anunciaram tarifas de 5% a todos os bens importados do México a partir de 10 de junho, caso o país vizinho não consiga controlar o fluxo de imigrantes ilegais pela fronteira, podendo chegar a 25% em 1º de outubro. O México é o segundo maior importador de produtos agrícolas dos EUA, com compras de US$ 1,7 bilhão de soja em 2018, conforme dados do governo norte-americano. Novos conflitos entre os dois países podem acabar prejudicando esses negócios.

Segundo a analista Ana Luiza Lodi, da INTL FCStone, além da realização de lucros, as ameaças de Trump contra o México despertaram preocupação. "O México é o segundo maior importador de soja dos EUA, atrás da China. Então essa notícia teve peso negativo no mercado", disse a analista, lembrando que a demanda chinesa nos EUA já está mais fraca por causa da guerra comercial e da peste suína e os estoques nos EUA são amplos. "Agora a questão com o México pode prejudicar as exportações para o segundo maior parceiro no caso da soja." Conforme o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), exportadores dos EUA venderam 455,8 mil toneladas de soja da safra 2018/19 na semana encerrada em 23 de maio, queda de 15% ante o reportado na semana anterior, mas alta de 92% em relação à média das quatro semanas anteriores. Para a safra 2019/20, foram vendidas 22 mil toneladas. O resultado ficou dentro das estimativas de analistas consultados pelo The Wall Street Journal, que iam de 220 mil toneladas a 605 mil toneladas.

Entretanto, as condições desfavoráveis no Meio-Oeste dos EUA limitam as perdas dos futuros. Segundo Ana Luiza, o atraso no plantio nos EUA deve continuar influenciando os preços. "O plantio nos EUA está atrasado e isso pode resultar em perdas de área. Para a janela da soja, ainda falta um tempinho para fechar, mas há regiões com solo encharcado, alagamentos e tem previsão de continuar chovendo." Ainda assim, traders seguem preocupados que, com o período ideal de plantio de milho perto do fim, possa haver migração de área para a soja. "Se parar de chover o suficiente para secar o solo e as máquinas poderem entrar no campo, a gente pode ver alguma área migrando para a soja, cuja janela fica aberta até um pouco mais tarde. Só que as previsões continuam indicando chuva, então mesmo a soja continuaria sofrendo atrasos no plantio." De acordo com Ana Luiza, a previsão era um pouco mais seca para os próximos dias, mas as chuvas podem retornar em breve ao Meio-Oeste. "Deve ter regiões que consigam avançar no plantio, mas vai voltar a chover forte novamente na metade da semana", apontou.

O milho terminou em baixa na sexta-feira na CBOT. O vencimento julho caiu 9,25 cents (2,12%) e terminou a US$ 4,27/bushel. Na semana, a alta é de 5,63%. O plano do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas às importações de produtos do México pesou sobre o milho. O México adquiriu US$ 3,1 bilhões em milho no ano passado, conforme dados do governo norte-americano, e essas compras podem estar em risco com a tarifação anunciada por Trump. A queda do petróleo e um movimento de embolso de lucros após ganhos recentes também contribuíram para a queda.

Notícias de demanda, contudo, podem dar suporte aos preços mais adiante. O governo norte-americano aprovou o uso da gasolina com uma mistura de 15% de etanol, conhecida como E15, durante todo o ano. A medida é vista como uma ajuda do governo federal aos produtores rurais que tiveram as vendas externas prejudicadas pelo conflito comercial entre Estados Unidos e China. Nos EUA, o etanol é feito principalmente à base de milho. A produção do biocombustível consome cerca de um terço da safra norte-americana do cereal. "Após anos de declínio da renda agrícola, a abertura dos mercados às necessidades adicionais de combustível para os consumidores ajuda a criar uma nova demanda que os agricultores precisam desesperadamente", disse Zippy Duvall, chefe da associação norte-americana de produtores American Farm Bureau Federation.

Exportadores dos Estados Unidos venderam 906,8 mil toneladas de milho da safra 2018/19 na semana encerrada em 23 de maio, segundo o USDA. O volume representa alta de 105% ante o reportado na semana anterior e de 94% em relação à média das quatro semanas anteriores. Para a safra 2019/20, foram vendidas 76,5 mil toneladas. O resultado ficou acima das estimativas de analistas, que iam de 450 mil toneladas a 800 mil toneladas.

Os futuros de trigo fecharam em baixa na sexta-feira na CBOT, cedendo parte dos ganhos recentes. Na CBOT, o vencimento julho do trigo caiu 11,50 cents (2,24%) e fechou em US$ 5,0300 por bushel. Na quinta-feira, o cereal havia subido 4,89%. O ganho acumulado na semana chegou a 5,78% e, em maio, a alta é de mais de 17%. Exportadores dos Estados Unidos venderam 153 mil toneladas de trigo da safra 2018/19, de acordo com o USDA. O volume foi 216% superior ao reportado na semana anterior e 63% maior que à média das quatro semanas anteriores. Para a safra 2019/20, foram vendidas 411,8 mil toneladas. O resultado ficou acima das estimativas de analistas, que iam de 300 mil toneladas a 550 mil toneladas.

Os estoques russos de grãos estavam em 19,3 milhões de toneladas no começo de maio, queda de 29% em relação ao ano anterior, segundo o analista agrícola sediado em Moscou Andrey Sizov. Os estoques de trigo "permanecem significativamente abaixo de 2018 em todos os distritos federais". Como resultado dos estoques em queda, os preços domésticos estão recuando mais devagar do que se poderia esperar frente à perspectiva de uma nova safra ampla.

Café: contratos sobem 14,8% na semana

Os contratos futuros de café arábica apresentaram valorização de cerca de 14,8% (1.350 pontos) na semana passada na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), base vencimento julho de 2019. As cotações encerraram na sexta-feira (31), a 104,60 centavos de dólar por libra-peso. No mês de maio, os contratos marcaram máxima de 105,30 cents (sexta, dia 31) e mínima de 87,60 cents (terça, dia 7). No mês de maio, os contratos com vencimento em julho/19 tiveram valorização de cerca de 12%. No ano, entretanto, até o momento, a queda é de cerca de 2,5% e de 23% nos últimos 12 meses.

O Escritório Carvalhaes, tradicional corretora de Santos (SP), destaca em boletim semanal que a alta das cotações futuras do arábica pode ser atribuída às chuvas que continuaram a cair sobre parte dos cafezais brasileiros, derrubando a qualidade dos primeiros lotes da nova safra brasileira e diminuindo o porcentual de Cereja descascado em uma safra de ciclo baixo; o fortalecimento do real (o dólar fechou na sexta-feira valendo R$ 3,9250, em um ambiente político menos pessimista); a chegada do período de frio sobre os cafezais do Sudeste brasileiro e a dificuldade em encontrar bons volumes de arábica de boa qualidade neste fim de ano-safra brasileiro.

Conforme Carvalhaes, as informações divulgadas pela Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), maior cooperativa de café do Brasil, de queda de qualidade em sua área de atuação nos primeiros lotes de café da nova safra brasileira 2019/20 também repercutiram no mercado.

Carvalhaes salienta que no mercado físico brasileiro os preços reagiram e subiram ao longo da semana passada. Lotes de café arábica de boa qualidade foram disputados e subiram dia a dia. Fecharam a semana valendo a partir de 400 reais a saca. Os melhores e mais bem compostos em peneiras 17 e 18 chegaram até 440 reais. Lotes de Cereja descascada finos e graúdos passaram dos 450 reais a saca.

Açúcar: mercado deve tentar se manter acima de 12 cents

O mercado do açúcar demerara na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) tenta permanecer acima dos 12 cents por libra-peso no contrato julho. O vencimento rompeu essa resistência na sexta-feira e, no fechamento, ganhou 34 pontos sobre quinta-feira, ou 2,89%, para a 12,10 cents. É o maior patamar em um mês para o adoçante.

Otimistas avaliam que esse contrato, que entra no último mês de negociações, tem espaço para caminhar até o intervalo de 12,50 cents a 13,50 cents com ajuda de fundos e especuladores. Acima de 13,50 cents, fixações limitam novos avanços.

A alta da sessão derradeira da semana passada foi atribuída ao anúncio do presidente norte-americano Donald Trump de taxar produtos mexicanos em, inicialmente, 5%, caso o país vizinho não freie a imigração de outras nações da América Central. Isso pressionou o petróleo para baixo, mas fundos podem ter migrado para o açúcar. O dólar despencou 1,33% no Brasil, para perto dos R$ 3,90, o menor valor em um mês. A queda da moeda contribuiu para ajudar os futuros do açúcar, já que limita a oferta da commodity.

Contato: leticia.pakulski@estadao.com; tomas.okuda@estadao.com e Gustavo.porto@estadao.com
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