Economia & Mercados
01/07/2022 19:19

Bird/Estevão: Brasil está muito atrasado na questão da integração nas cadeias de valor global


Por Francisco Carlos de Assis

São Paulo, 30/6/2022 - Amplamente reconhecido como um país de economia fechada, o Brasil está muito atrasado nas tratativas para a sua inserção nas cadeias de valores globais. Essa foi uma das principais observações feitas pelo diretor global de Macroeconomia, Comércio e Investimentos do Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (Bird), Marcello Estevão, e compartilhada pela professora da American University e membro da Camex, Renata Amaral.

Os dois participaram hoje como palestrantes do Prêmio Broadcast Empresas 2022 e desenvolveram o tema “Cenário Global da Cadeia de Suprimentos Pós-Covid e guerra da Ucrânia”.

Renata destacou o recrudescimento dos efeitos que a pandemia já vinha exercendo sobre as cadeias de suprimentos globais com a deflagração da guerra na Ucrânia. Com o conflito, de acordo com ela, os efeitos se deram com mais ênfase sobre a produção e oferta de semicondutores.

“O setor de semicondutores já vinha sob o escrutínio desde a época do governo Trump em 2018. A pandemia recrudesceu o problema e o problema deve permanecer no pós-conflito porque os semicondutores estão no alvo das sanções dos Estados Unidos contra a Rússia”, disse Renata.
Por isso, segundo a professora da American University, hoje em dia a política comercial está sendo feita mais no risco do que nas oportunidades.

Para Marcello Estevão, do Bird, o cenário global se mostra muito complicado porque, com todos os problemas que afetaram a oferta, a inflação se impôs e exigiu que tanto as economias centrais como as emergentes tivessem que apertar suas políticas monetárias.

O problema, de acordo com o diretor do Bird, é que num cenário de aperto monetário os países, em especial os de economias emergentes, precisam cuidar para que não haja um crescimento muito grande de suas dívidas. “Principalmente os com problemas fiscais”, observou.

O Bird, de acordo com Estevão, considerando a melhora da economia americana, europeia e chinesa e da oferta das cadeias produtivas, prevê uma também melhora da economia global.

O Brasil, mais especificamente, como um dos maiores produtores de commodities do mundo, acaba se beneficiando destes choques de ofertas pelo mundo. Peca na questão de não aproveitar as oportunidades para se inserir nas cadeias produtivas globais.

“O Brasil está muito atrasado na questão da integração das cadeias de valor global”, disse Estevão que ganhou a concordância de Renata Amaral.

Para os dois, o Brasil precisaria adotar a política de ocupar pequenos espaços na questão da abertura da sua economia. Para Estevão, o governo brasileiro deveria, por exemplo, se aproveitando da interrupção das exportações de trigo pela Rússia e Ucrânia para produzir o cereal internamente.

De acordo com Renata Amaral, mais que isso, o Brasil deveria deixar questões pontuais que não interessa à população brasileira e começar a trabalhar juntamente com os EUA naquilo que eles têm em comum, como na área agrícola.

“Hoje Brasil e Estados Unidos pregam que são os celeiros do mundo. Por que não trabalharem juntos”, questionou a professora da American University.

Estevão sugeriu que o Brasil, na política de ocupar pequenos espaços, deveria se integrar mais também com as economias sul-americanas.

“O governo precisaria colocar na dianteira temas de mais interesses do Brasil e menos temas que não interessam à economia”, disse Estevão.

Contato: francisco.assis@estadao.com
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