Ataques de Donald Trump parecem fazer efeito e já há diretores de política monetária adeptos aos cortes de juros
1 de julho de 2025
Por Fábio Alves
Não passou despercebido por investidores e analistas que os únicos diretores do Federal Reserve (Fed) defendendo um corte de juros já neste mês foram, precisamente, os nomeados pelo presidente Donald Trump, que vem pressionando o banco central americano a afrouxar sua política monetária o quanto antes.
Assim, não há quem deixe de fazer a seguinte pergunta: poderá haver uma rebelião interna no Fed a favor de uma política monetária mais expansionista, como quer o presidente republicano?
Em discursos recentes, Michelle Bowman e Christopher Waller – dois membros do Board of Directors (ou Conselho de Direção) do Fed nomeados por Trump – disseram apoiar a retomada do corte de juros na próxima reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, em inglês), marcada para os dias 29 e 30 próximos.
Primeiro, foi Waller quem iniciou essa discussão de uma redução de juros o quanto antes: “Se você começar a se preocupar com os riscos de baixa no mercado de trabalho, então não espera, aja agora”. Depois, Bowman aumentou a pressão sobre os outros diretores, dizendo que esperava “apenas um impacto mínimo” das tarifas de importação adotadas por Trump. E acrescentou que apoiava um corte de juros já nesta reunião de julho do Fomc.
O mais curioso é que, até há pouco tempo, Bowman e Waller eram considerados diretores da ala hawkish, quer dizer, mais inclinados a uma política monetária mais apertada pelo Fed.
Por enquanto, Bowman e Waller estão sozinhos: o presidente do Fed, Jerome Powell, e outros dirigentes querem esperar para ver se as novas alíquotas de importação anunciadas por Trump vão ter ou não um impacto mais significativo de pressão sobre a inflação americana.
Nos seus discursos mais recentes, Powell deu a entender que o timing mais apropriado para a retomada dos cortes de juros seja apenas na reunião de setembro do Fomc, diante dos indicadores de atividade e de inflação, mas também diante das incertezas com os eventuais impactos de uma guerra tarifária.
Aliás, é bom lembrar que Powell foi indicado por Trump para presidir o Board of Governors, mas foi o ex-presidente democrata Barack Obama quem o indicou para a diretoria do Fed.
Vale também observar que, por ora, a maioria dos dirigentes da instituição está do lado de Powell na avaliação de que é preciso esperar um pouco mais antes de retomar o afrouxamento monetário.
Desde a semana passada, as falas públicas de Michael Barr, Susan Collins, Mary Daly, Austan Goolsbee e de Raphael Bostic foram todas na linha de que um corte da taxa básica na reunião do Fomc de julho ainda é prematuro, diante das incertezas do impacto inflacionário da guerra tarifária.
E é aí que entram os números do relatório de payroll de junho, com divulgação programada para quinta-feira, dia 3.
Uma surpresa para baixo na criação de postos de trabalho – ou para cima na taxa de desemprego – poderá não somente elevar a precificação do mercado para um corte de juros em julho, como também fazer outros dirigentes do Fed mudarem de lado e apoiarem uma nova redução da taxa básica o quanto antes.
Em relação às estimativas dos analistas para o payroll, o consenso aponta para a criação de 120 mil vagas (ante 139 mil registradas em maio) e uma taxa de desemprego subindo de 4,2% em maio para 4,3% em junho.
Será preciso que esses dados venham muito mais fracos do que o estimado pelos analistas para fazer os outros dirigentes do Fed engrossarem o coro dos que querem (em especial, o presidente Trump !) um corte de juros o quanto antes.
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