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Dados pelo ralo…

Investidor pode cobrar prêmio de risco se credibilidade das estatísticas oficiais dos EUA for estragada

4 de agosto de 2025

Por Fábio Alves

Os preços dos ativos reagiram relativamente pouco ao anúncio pelo presidente Donald Trump da demissão da chefe do Escritório de Estatísticas do Trabalho (BLS, na sigla em inglês), Erika McEntarfer, após a divulgação de um relatório de emprego de julho surpreendentemente fraco, com impressionante revisão para baixo dos números para os meses de maio e junho.

Essa reação contida pode ter sido em razão de o anúncio, feito pela rede social Truth Social, de Trump, ter acontecido mais perto do fim da sessão de negócios da sexta-feira passada.

Mas a divulgação do substituto para o cargo de comissário do BLS pode causar uma forte reação por parte dos investidores, caso o escolhido por Trump seja um nome visto pelo mercado como politicamente alinhado ao que deseja o presidente americano, o que colocará em xeque a credibilidade dos indicadores macroeconômicos dos Estados Unidos, em especial os de inflação e de mercado de trabalho.

Trump prometeu divulgar o nome do novo chefe do BLS ainda nesta semana.

Só para lembrar: o presidente americano exigiu a demissão de Erika McEntarfer após a divulgação do relatório de payroll de julho, quando foram criadas apenas 73 mil vagas de emprego (ante a projeção de analistas para geração de 101 mil vagas), enquanto os números dos meses de maio e de junho sofreram uma revisão para baixo de impressionantes 258 mil postos de trabalho.

Esse resultado simplesmente enfureceu Trump, que acusou o BLS de “manipulação” dos dados num esforço de pintar um quadro pior da economia sob a gestão do republicano.

Após a divulgação do relatório do payroll de julho, dispararam as apostas para um corte de juros já em setembro, pelo Federal Reserve (Fed).

Mas uma redução de juros em setembro não pode ser dada como garantida, uma vez que o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que o banco central americano não está com pressa em voltar a cortar os juros e que ainda estava num modo esperar para ver.

Acontece que se os números do payroll de agosto, que deverão sair no início de setembro, voltarem a decepcionar os analistas e se os dos meses anteriores sofrerem nova revisão para baixo, muito dificilmente Powell poderá sustentar um discurso duro, curvando-se à precificação do mercado de um corte de juros em setembro.

O problema é: se o novo chefe do BLS a ser nomeado por Trump for considerado alguém politicamente submisso ao presidente americano, poderá o mercado confiar nos números do próximo payroll, ainda que venham fracos? E se o mercado achar que o resultado verdadeiro poderia ser ainda pior?

Em outras palavras, ao demitir a chefe atual em razão de um número desfavorável da criação de empregos em maio, junho e julho, Trump poderá ter causado um estrago irreparável à credibilidade na agência responsável pelas estatísticas oficiais das principais variáveis macroeconômicas nos EUA.

E esse estrago poderá fazer preço, isto é, os investidores poderão cobrar um prêmio de risco em razão de não confiarem mais na credibilidade nos resultados de indicadores de atividade e de inflação.
A politização da coleta de dados e de estatísticas oficiais da economia americana ainda vai cobrar seu preço. Não à toa, é grande a ansiedade dos investidores para o anúncio do novo responsável pelo BLS.

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