Ex-atleta, Christine Lagarde compara desafios à frente do BCE à necessidade de manter serenidade e coordenação
5 de maio de 2025
Isabella Pugliese Vellani e Pedro Lima
Christine Lagarde, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), já navegou por águas bem mais revoltas do que as dos mercados financeiros atuais. Ex-atleta de nado sincronizado – medalhista de bronze ! – ela sabe que tanto na piscina quanto na economia o segredo está em um equilíbrio delicado: controle, resistência e trabalho em equipe.
“É um esporte que exige muito controle, muito trabalho em equipe, a capacidade de prender a respiração e sorrir ao mesmo tempo”, disse Lagarde em evento organizado por um jornal americano ao ser questionada sobre como o esporte moldou sua trajetória rumo ao BCE. A declaração soa como uma metáfora sob medida para seu papel atual, que exige serenidade na superfície enquanto, nos bastidores, enfrenta crises que pedem fôlego de mergulhador.
Mas nem mesmo Lagarde escapa de titubear. Ao ser perguntada sobre os desdobramentos da guerra comercial alimentada por tarifas impostas por Trump, hesitou por um instante, como se, literalmente, estivesse prendendo a respiração, antes de responder que vivemos um momento de transição.
Um raro lapso para alguém de retórica tão afiada. Talvez ainda traga consigo o ensinamento do nado sincronizado de que, às vezes, é preciso pausar para manter o compasso – o que pode justificar o contorno dado por ela para evitar dizer se as tensões comerciais estariam escalando ou desescalando.
A conjuntura econômica global tem exigido exatamente esse tipo de fôlego. Informações contraditórias e os movimentos erráticos do presidente americano, Donald Trump, em relação à política tarifária demandam atenção redobrada e cautela extrema antes de decisões, como os próprios dirigentes vêm repetindo em seus discursos.
Diante das atuais condições econômicas, é preciso “prender a respiração e sorrir ao mesmo tempo”, como bem definiu Lagarde. Embora tenha descartado anteriormente uma recessão na zona do euro, a presidente do BCE admite que as tarifas vindas de Washington devem ter um impacto “bem prejudicial” sobre o crescimento europeu. O cenário, por ora, impõe uma pausa coreografada nas braçadas da política monetária, que se torna altamente dependente de dados, exigindo da autoridade europeia mais equilíbrio do que impulso – na última reunião, o BC cortou os juros em 25 pontos-base, mas chegou a discutir um corte maior, de 50pb.
Seja na piscina ou na política monetária, a lição parece ser a mesma: não se nada sozinho. Como disse Lagarde, “se você não tiver companheiros de equipe para apoiá-lo, ajudá-lo e trabalhar com você, você estará frito”. E, no jogo global dos juros e da inflação, ninguém quer ser o primeiro a afundar. Principalmente quando é preciso enfrentar o “imprevisível”.
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