Política
13/04/2018 13:57

The Economist: Prisão de Lula beneficia Barbosa e Ciro; quadro partidário ajuda Alckmin


São Paulo, 13/4/2018 - Com a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a provável ausência do petista como candidato nas eleições presidenciais, os votos que seriam dados a Lula podem se dividir entre vários candidatos, diz artigo publicado pela revista britânica The Economist em edição deste fim de semana. Para a revista, a ausência de Lula nas urnas não beneficia Jair Bolsonaro (PSL), por tornar a eleição menos polarizada, e pode ser positiva para Joaquim Barbosa (PSB) ou ainda para Ciro Gomes (PDT), se Lula o apoiar. A necessidade de alianças partidárias para tempo de TV e coalização no Congresso, entretanto, ajuda Geraldo Alckmin (PSDB), de acordo com a publicação.

O texto, publicado na coluna Bello, destinada a assuntos da América Latina, lembra que Lula lidera as pesquisas de intenção de voto com quase 20 pontos à frente do segundo colocado, o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ). O PT insiste que Lula ainda é candidato, mas provavelmente será impedido de disputar o pleito mesmo que seja solto da prisão, por causa da lei eleitoral, diz a revista.

A prisão de Lula, comenta a análise, é a mais "extraordinária" reviravolta em uma eleição sem precedentes no Brasil desde 1989, quando Fernando Collor foi eleito. Nas últimas seis eleições, a disputa ficou entre PT e PSDB, quadro que pode ser alterado neste ano.

Citando Jair Bolsonaro, a revista diz que em uma eleição normal o deputado não teria chances, por conta de o Brasil ser um país tradicionalmente moderado. Mas a política brasileira tem sido virada "de cabeça para baixo" com a Operação Lava Jato, o impeachment de Dilma Rousseff em 2016 e a impopularidade do presidente Michel Temer, afirma o artigo. "Michel Temer é ainda menos popular [do que a antecessora]. Enquanto traz uma recuperação econômica ainda modesta, ele teve que enfrentar acusações de corrupção", diz o texto.

O resultado do quadro, traz a publicação, é um clima de rejeição à política. Nessa onda, Bolsonaro atrai apoio de jovens e eleitores frustrados e assustados com a violência. "O apoio a Lula pode agora ser divido entre vários candidatos. Nenhum outro líder do PT tem a estatura política de Lula. Há dois candidatos de extrema esquerda [Guilherme Boulos e Manuela d'Ávila]. E há Ciro Gomes, de centro-esquerda, ex-ministro de governos liderados pelo PT, que tem uma chance, especialmente se Lula o apoiar".

Para a The Economist, a ausência de Lula na eleição vai prejudicar Bolsonaro, com o pleito menos polarizado, e pode ajudar Joaquim Barbosa - classificado como "negro, popular e conhecido como um flagelo da corrupção". "A forma da disputa não ficará clara tão cedo antes de agosto, quando os partidos têm de escolher seus candidatos e coligações partidárias."

Com a proibição de doações empresariais, efeito da Operação Lava Jato, os candidatos ficarão dependentes de alianças partidárias para ter tempo de propaganda na televisão e coalização no Congresso. Essa situação, diz a revista britânica, prejudica Jair Bolsonaro e ajuda Geraldo Alckmin (PSDB). O tucano defenderia as reformas econômicas de Temer, mas é "profundamente não carismático", diz a revista. "No começo [da campanha] as pessoas querem novidades, mas o poder dos prefeitos e da máquina partidária vão contar", diz na reportagem o cientista político Luiz Felipe d'Ávila, que auxilia Alckmin na formulação do plano de governo.

O PSDB, o PT e o MDB são os únicos partidos organizados em mais de 90% dos municípios brasileiros, diz a publicação. Para o consultor político Ricardo Sennes, também ouvido pela reportagem, o Brasil não "mudou totalmente". "Os próximos seis meses mostrarão se isso está correto, ou se a raiva pública amplificada pelas mídias sociais rasgaram as regras da política. Muito está em jogo", diz a revista - acrescentando que o Brasil precisa de uma "experiência moderada e de integridade no topo". (Daniel Weterman - daniel.weterman@estadao.com)
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