Política
23/08/2019 15:13

FGV/Umesh Mukhi: Bolsonaro não tem pensamento sistêmico, não tem visão internacional


Por Gabriel Wainer

São Paulo, 23/08/2019 - Bolsonaro não tem pensamento sistêmico, não consegue compreender que as suas ações podem influenciar o todo. A avaliação é do professor do curso de mestrado em gestão internacional e da graduação em administração de empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Umesh Mukhi. "O presidente não tem capacidade de absorver ou observar o impacto de suas ações e declarações. Meio ambiente não é só meio ambiente, é agricultura, é economia, é diplomacia", afirma, numa referência aos desdobramentos da questão dos incêndios na Amazônia, que está se tornando uma crise internacional para o Brasil.

Especialista na formação de líderes preocupados com sustentabilidade, o professor, nascido em Mumbai, na Índia, fez questão de frisar que suas opiniões são meramente comparativas com outros líderes do mundo. "Não tenho nenhuma filiação partidária ou preferência política", disse, ressaltando que "nem vota aqui".

De todo modo, Mukhi, que acredita que o bom gestor pensa no impacto de suas ações na sociedade, avalia que Bolsonaro pensa, sim, no impacto de suas ações, mas não em relação à sociedade como um todo. "A maneira como o presidente age é compatível com sua base eleitoral. É para eles que Bolsonaro fala", disse o professor. "No entanto, ele não tem a visão internacional que um presidente precisa ter para posicionar o Brasil no exterior".

Reflexos indesejados

O professor entende que a ausência desse pensamento sistêmico é justamente a causa das reações indesejadas por Bolsonaro às suas ações e declarações. "Hoje mesmo o presidente da França, Emmanuel Macron, disse que diante da postura de Bolsonaro em relação ao meio ambiente, a França, neste momento, não aprova o acordo entre a União Europeia e o Mercosul", afirma. "Esse é um exemplo claro de como as questões nunca são isoladas nelas mesmas, mas sim fazem parte de um todo".

Esse novo capítulo na diplomacia brasileira pode provocar reações ainda mais indesejadas para o presidente, de acordo com Mukhi. A retaliação de Macron pode ser fator relevante nas eleições argentinas que devem ocorrer em outubro, e o efeito desta retaliação pode ser ampliar o capital político do opositor do atual presidente do país, Maurício Macri, o peronista Alberto Fernández, que tem, como vice de chapa, a ex-presidente Cristina Kirchner, a quem Bolsonaro já comparou com Fidel Castro.

Dharma

O professor citou uma corrente filosófico-religiosa hindu chamada Dharma, que basicamente significa "o que é verdade, é verdade". Para Muhki, Bolsonaro precisa ampliar seu "pensamento dhármico", ou seja, parar de negar fatos por conta do pensamento ideológico. "Todo governante deveria se portar de maneira dhármica, como pessoas responsáveis que irão reagir às demandas da sociedade, e não só do grupo que o elegeu e o apoia", afirmou.

O professor acredita que o presidente Bolsonaro deveria pautar seu governo em uma única pergunta: "como quero ser lembrado como presidente? Alguém que melhorou a sociedade como um todo ou que causou impacto negativo no futuro do País?".

Contato: gabriel.wainer@estadao.com
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