Política
17/06/2017 09:49

Delatores da Odebrecht acusam caixa dois a três políticos de Santa Gertrudes


São Paulo, 17/06/2017 - Nem o município de Santa Gertrudes, no oeste paulista, de 24 mil habitantes, escapou de ter as eleições contaminadas pelo caixa dois da Odebrecht, segundo delatores da empreiteira. Os três principais candidatos teriam sido financiados pela construtora, que não podia fazer doações regulares, já que detém uma concessão de água na região. Gino da Farmácia (PPS), Rogério Pascon (PTB) e Valtimir Ribeirão (PMDB) constam em planilha apresentada pelo executivo Fernando Reis, que chegou a presidir a empresa de saneamento do grupo, a Odebrecht Ambiental.

O executivo estimou que pelo menos R$ 20 milhões tenham sido doados pela Odebrecht Ambiental a candidatos, com o objetivo de manter ou obter contratos na área de saneamento. O valor mistura caixa dois e doações oficiais, muitas intermediadas entre o próprio político e a empreiteira. Na planilha, são identificados 80 nomes de políticos - 10 repasses constam com nomes genéricos, como ‘vereadores’, ‘vários’ e ‘deputado’. Entre os presentes, estão políticos do alto escalão: pelo menos cinco candidatos a governos estaduais e dois senadores. A empreitada da Odebrecht para obter contratos de esgoto assolou pelo menos 31 campanhas municipais, em dez estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Tocantins, Pará, Bahia, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraíba, Amapá, Sergipe e Piauí. O período mais voraz do lobby pelo saneamento abarcou os pleitos de 2008, 2010, 2012 e 2014.

Em muitos casos, o ex-presidente da Odebrecht Ambiental disse ter optado por financiar inclusive candidatos concorrentes para evitar que alguém que não tenha recebido doações da empreiteira vencesse as eleições e criasse obstáculos em contratos já em vigor entre a construtora e a cidade. O executivo chamou a prática de vacina ‘anti-achaque’.

Somente em São Paulo, executivos da companhia de saneamento e tratamento de água do grupo dizem ter usado quase metade deste valor, R$ 9,1 milhões, para financiar eleições municipais com caixa dois. Eles identificaram 23 candidatos cujas campanhas foram contaminadas.

A Odebrecht detém concessão para o tratamento de esgotos e a distribuição de água desde 2010, no município de Santa Gertrudes, onde segundo a empresa, em delação premiada, ‘os investimentos corriam normalmente’. Mais uma vez, com apoio da empresa centro Abril, contratada pelo diretor regional do estado de São Paulo, Guilherme Paschoal, para escolher candidatos a serem financiados pela empreiteira.

Naquele município, como já prestava serviços como concessionária, a companhia estava impedida de doar oficialmente a políticos e, por isso, escolheu apoiá-los com caixa dois. Foram destinados R$ 10 mil ao candidato Gino da Farmácia (PPS), R$ 50 mil a Rogério Pascon (PTB) e R$ 120 mil a Valtimir Ribeirão, então prefeito e candidato a reeleição no ano de 2012. Atualmente, Pascon é o prefeito (eleito em 2012, e reeleito no ano passado).

Os valores teriam sido repassados, de acordo com as delações, pelo diretor de contratos da construtora na cidade, Sandro Stroiek - que já atuava na região desde que a Odebrecht Ambiental não existia e a empresa de saneamento do grupo era a Foz do Brasil. Segundo o delator Guilherme Pamplona Paschoal, a privatização dos esgotos na cidade tinha apoio unânime dos candidatos à Prefeitura no ano de 2012.

O delator ainda diz não ter tido entraves para a manutenção do contrato pelo prefeito Rogério Pascon (PTB). “Ele não criou nenhum problema nesse mandato, é um prefeito que cobrava muito da gente. Reclamou muito da gente do aumento de tarifa que houve no período, porque a agência reguladora de lá avaliou que estava defasada a tarifa, mas cumpriu todas as obrigações contratuais dele”.

No departamento de propinas da empreiteira, Pascon recebeu o apelido ‘estressado’. Gino da Farmácia e Ribeirão teriam recebido caixa dois sob os codinomes ‘Louco’ e ‘Calmo’.

COM A PALAVRA, PASCON
“Estou sabendo disso tudo pela imprensa. As denúncias não têm lógica. Como prefeito, não tenho dado vida fácil para a Odebrecht. Eu barrei aumento de 120% nas contas de água e esgoto. Eles não têm motivos para me ajudar”, declarou. “Vou provar minha inocência na Justiça.”

COM A PALAVRA, VALTIMIR
“Não tenho nada pra dizer. Nunca ajudei a Odebrecht nem fiz caixa 2. Deve ter sido um engano”, disse.

COM A PALAVRA, GINO DA FARMÁCIA
Gino da Farmácia tem negado caixa dois da Odebrecht.

(Luiz Vassallo e Gilberto Amendola)
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