Política
06/07/2017 11:55

Geddel, o ‘Babel’, foi quem apresentou lobista da Odebrecht a Temer


São Paulo, 06/07/2017 - O lobista da Odebrecht no Congresso, Claudio Melo Filho, afirmou em sua delação premiada que foi o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) quem lhe apresentou ao presidente, Michel Temer. Preso pela Polícia Federal, Geddel é identificado nas planilhas de propinas do grupo como “Babel”.

“Foi através dele, por exemplo, que eu conheci o presidente Michel Temer em um evento em que ele foi, e o presidente Michel Temer foi com ele e eu tive a oportunidade de conhecê-lo”, afirmou Melo, em seu termo 10, de delação premiada.

O delator narra que Geddel tinha muita força no núcleo do PMDB na Câmara. “A relação do núcleo do PMDB envolvia o senhor Michel Temer, hoje presidente da República, o senhor Henrique Eduardo Alves, com quem eu não tenho qualquer relação, o senhor (Eliseu) Padilha, com quem eu tenho relação, o senhor Wellington Moreira Franco e o senhor Geddel. Esse era o núcleo que figurava do PMDB na Câmara”, afirmou Melo, aos 16 minutos e 50 segundos.

A relação de confiança dele com Geddel aumentou a confiança com Padilha, o atual ministro da Casa Civil do governo Temer. Em outro depoimento, ele relata acerto de R$ 10 milhões para a campanha de 2014 diretamente com Padilha, no Palácio do Jaburu, em que estava o presidente.

No depoimento, o delator fala sobre os pagamentos de propinas para Geddel em 2006, 2010 e 2014. “Eu posso dizer que no caso do senhor Geddel a relação com a Odebrecht se dá através de mim. Sempre que ele tinha alguma coisa que ele quisesse discutir relacionada à empresa ele me acionava.”

Melo conta que Geddel tinha também relação pessoal com o patriarca do grupo, Emílio Odebrecht - o mentor da mega delação premiada. “Sempre ele pedia um encontro com Emílio.” E que a “ajuda” da empresa para o ex-ministro era anterior à sua atuação como lobista.

“Babel” era o codinome dado a Geddel, nas planilhas do Setor de Operações Estruturadas, o departamento da propina da Odebrecht. Melo afirma que falava constantemente com o ex-ministro sobre política e sobre temas de interesse da empresa, quando ele foi deputado federal e também como ministro.

Os dois têm casa em uma mesma praia em Salvador. “Toda vez que eu passava uns dias lá, eu tinha muito contato com ele. Nós tínhamos uma relação de amizade. Saímos, caminhávamos de manhã, almoçávamos, ia na casa dele ou ele na minha.” Por coincidência, os caseiros das casas de praias dos dois são irmãos.

Pagamentos. O delator relatou pagamentos em três campanhas. A primeira em 2006, quando ele conta sobre uma reunião feita a pedido de Geddel com Emílio Odebrecht.

“Na época o senhor Geddel Vieira Lima estava buscando uma parceria com o senhor Jaques Wagner para a disputa para o governo do Estado da Bahia”, afirmou. Ele disse que o empresário foi procurado para ajudar nessa “parceria” e que solicitou “ajuda” para a campanha de deputado federal.

“Esse valor da campanha de 2006 tenha sido algo em torno de R$ 1 milhão, na época, quer seja por doação oficial ou por contribuição de caixa 2.”

Melo afirma ter pedido a Geddel atuação em uma emenda para a Medida Provisória 252, em 2005, a MP do Bem.

Governo. Em 2010, o delator relatou um pedido de Geddel com ele e Emílio para a campanha de governador da Bahia. Por sua relação pessoal como o patriarca do grupo, Melo afirma que o ex-ministro não lembrava de sua atuação em favor da empresa, quando pedia “ajuda” para a campanha.

“Em 2010, se ele viesse a ser governador da Bahia, e a gente tivesse contribuído, em alguns momentos os investimentos da Odebrecht seriam levados ao governador do Estado. É como se fosse uma prevenção, vamos dizer assim.”

O delator disse que em 2010 foram feitos pagamentos oficiais e de caixa 2 para a campanha de Geddel. Quem cuidou foi o Setor de Operações Estruturadas, o departamento de propinas.

2014. O delator detalhou ainda o pagamento para a campanha de 2014 para a candidatura de senador pela Bahia. Foram dois pagamentos de R$ 1,1 milhão e de R$ 600 mil, via doação oficial.

“Ele tinha uma relação forte, em 2014, com o então candidato a vice-presidente da República (Temer). Essa ligação ele tinha e o credenciava ainda mais no Estado da Bahia”, explicou Melo Filho.

“No final do processo, em 26 de setembro, eu recebo uma ligação de Marcelo Odebrecht, que consta em meu processo, tem uma troca de mensagem dele com o Benedicto Junior, em que ele diz ‘vou orientar Claudio a ajudar mais R$ 1 milhão na Bahia, aí ele fala de outra pessoa, André Vital mais não sei quanto e Sérgio Neves mais não sei quanto’. Ele me liga e disse ‘Claudio nós vamos fazer uma contribuição adicional ao senhor Geddel Vieira Lima de R$ 1 milhão’.”

Integração. O delator relatou ainda um pedido de ajuda para Geddel, em 2008, quando ele era ministro de Integração Nacional. Dois executivos da Odebrecht solicitaram ao delator um contato como o peemedebista para que ele ajudasse em um contrato de obras do setor de transporte, na Bahia. Houve também suposto pagamento por um acordo de mercado entre empreiteiras para a obra Tabuleiros Litorâneos da Parnaíba, no Piauí.

João Pacífico, um dos autores do pedido e também delator, confirmou o pedido. O negócio era referente a um contrato de 1987 para obras do Transporte Moderno de Salvador (TMS). Segundo o delator, foram pagos aproximadamente R$ 3,6 milhões entre 2007 e 2010, na segunda etapa das obras, período em que Geddel titular no Ministério da Integração Nacional do governo Lula.

Pacífico relatou à Lava Jato que, em 1987, a Construtora Norberto Odebrecht foi contratada pela Superintendência de Urbanização da Capital (Surcap), atual Superintendência de Conservação e Obras Públicas (Sucop), autarquia vinculada à Prefeitura de Salvador. As obras, relatou, serviriam para reduzir os congestionamentos e a melhorar o tráfego dos ônibus na capital baiana.

O delator narrou que “eram frequentes os atrasos nos pagamentos pela Surcap dos valores devidos à Construtora Norberto Odebrecht, que tinha dificuldade em receber seus créditos”. O cenário, segundo João Pacífico, mudou “em função de uma alteração do contexto político que envolvia a Prefeitura de Salvador” em 2007. A mudança, disse, permitiu a Geddel que passasse a exercer “forte influência no governo municipal”.

“Eu pedi a Cláudio que falasse com o Geddel, já que o prefeito agora era do partido dele, para que houvesse uma regularidade no fluxo de recurso, que ele conseguisse que fosse regularizado”, afirmou Pacífico. “Foi quando Cláudio esteve com o ministro e, a partir daí, realmente aconteceu uma melhora significativa no fluxo de recurso referente a essa obra. Os recursos não eram muitos, mas pelo menos tornaram regulares.”

O delator afirmou que “diante da proximidade das eleições” Cláudio Melo Filho “solicitou, a pedido de Geddel, uma contribuição para o PMDB da Bahia, com o objetivo de ajudar os candidatos do partido no Estado”.

“Começaram a ter alguns pagamentos e como o fluxo de recursos foi bastante implementado a partir então de 2008, 2009 e até mesmo em 2010, as obras foram regularizadas, voltou os pagamentos das faturas atrasadas voltaram a acontecer e apesar de não ter um percentual definido de quanto era sobre o recebimento, era assim por solicitação: ‘Olha, precisa 500 mil, 200, 800, 400’. O Geddel tinha um codinome de Babel”, declarou o executivo.

No caso das obras dos Tabuleiros Litorâneos, os pagamentos foram decorrentes de um acerto entre seis empreiteiras contratadas em obras de responsabilidade do Departamento Nacional de Obras contra a Seca (DNOCS). A Odebrecht e Queiroz Galvão venceram a licitação para a obra no litoral do Piauí. (Ricardo Brandt e Julia Affonso)
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