Política
08/01/2018 14:32

Papa pede que eleição na Venezuela seja 'solução' para conflitos


Genebra, 8/1/2018 - O papa Francisco se diz preocupado com a situação na Venezuela e pede que eleições possam ser realizadas em condições para abrir espaço para uma solução ao país. A declaração foi feita nesta segunda-feira, em seu tradicional encontro anual com os 183 embaixadores de países com representações junto à Santa Sé.

"Penso na querida Venezuela, que está atravessando uma crise política e humanitária cada vez mais dramática e sem precedentes", disse, em um discurso. "A Santa Sé, ao mesmo tempo que exorta a responder sem demora às necessidades primárias da população, almeja que se criem as condições para que as eleições, agendadas para o ano em curso, sejam capazes de dar solução aos conflitos existentes, e se possa olhar de novo com serenidade para o futuro", defendeu.

A Venezuela foi um dos pontos mencionados pelo pontífice, que indicou ao longo de seu discurso setores e países considerados como alarmantes para a paz mundial. Nos últimos meses, a Santa Sé tentou mediar um diálogo entre a oposição e o governo de Nicolas Maduro, sem sucesso.

Fontes diplomáticas sul-americanas confirmaram que, com os canais de comunicação interrompidos entre a Santa Sé e Caracas, a aposta atual do Vaticano é de que a eleição possa ser uma oportunidade para dar legitimidade a um novo governo. Mas, para isso, a preocupação é com eventuais fraudes ou tentativas de manipulação.

Em novembro de 2017, Maduro anunciou que as eleições presidenciais vão ocorrer em 2018. "Em 2018, chova, troveje ou relampeje, vamos ter eleições presidenciais como manda a Constituição e confio o voto na consciência do povo", disse. Alguns dias depois, seus principais aliados indicaram que Maduro seria candidato.

Francisco, porém, também se referiu à situação em Israel e nas cidades palestinas e à decisão do governo dos Estados Unidos de transferir sua capital de Tel Aviv para Jerusalém.

"A Santa Sé, ao exprimir o seu pesar por quantos perderam a vida nos recentes confrontos, renova o seu premente apelo a ponderar bem cada iniciativa para que se evite de exacerbar as contraposições e convida a um esforço comum por respeitar, em conformidade com as pertinentes Resoluções das Nações Unidas, o status quo de Jerusalém, cidade santa para cristãos, judeus e muçulmanos", disse.

"Setenta anos de confrontos tornam extremamente urgente encontrar uma solução política que consinta a presença na região de dois Estados independentes dentro de fronteiras internacionalmente reconhecidas", defendeu.

Armas
O discurso do papa ainda foi interpretado por diplomatas na sala como um recado de que a política externa conduzida pelo governo de Donald Trump não é compartilhada pelo Vaticano. "É com negociação, e não com armas, que devem ser dirimidas as eventuais controvérsias entre os povos", defendeu.

Ele ainda destacou a "incessante produção de armas cada vez mais sofisticadas e "aperfeiçoadas" e o prolongamento de numerosos surtos de conflito". "É o que eu chamo de "a terceira guerra mundial aos pedaços".

O recado era direcionado especialmente à situação da tensão entre a Coreia do Norte e o EUA. "É de suma importância que se sustente toda a tentativa de diálogo na península coreana, a fim de se encontrar novos caminhos para superar as contraposições atuais, aumentar a confiança mútua e garantir um futuro de paz ao povo coreano e ao mundo inteiro", disse.

Para ele, os esforços humanitários e súplicas incessantes de paz "parecem ser cada vez menos eficazes perante a lógica aberrante da guerra".

Em seu discurso, Francisco ainda lamentou que, 70 anos depois da assinatura da Declaração Universal dos Direitos Humanos, "muitos direitos fundamentais são violados ainda hoje". "E, primeiro dentre eles, o direito à vida, à liberdade e à inviolabilidade de cada pessoa humana", completou. (Jamil Chade, correspondente)
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