Economia & Mercados
11/12/2020 15:00

Em dois anos em SP, Enel investe R$ 2,4 bi e avança em digitalização e qualidade


Por Luciana Collet

São Paulo, 11/12/2020 - O grupo italiano Enel completou dois anos à frente da operação de sua maior distribuidora de energia no País, a Enel Distribuição São Paulo (ex-Eletropaulo). No período, a companhia investiu R$ 2,4 bilhões, ou mais de 77% do plano previsto para o triênio 2019-2021. Os recursos foram aplicados principalmente em expansão, fortalecimento e modernização da rede.

"Estamos preparando a rede para o futuro, sabemos que existem desafios tecnológicos a caminho, tecnologias como mobilidade elétrica, geração distribuída, resposta pela demanda, armazenamento, que vão fazer com que o consumidor saia de uma posição de carga passiva para ser um prosumidor, ou seja, um consumidor que pode injetar energia no sistema - ora é carga, ora é fonte", afirmou o diretor presidente da distribuidora, Max Xavier, em entrevista ao Broadcast Energia.

Ele destacou, em particular, a complexidade da introdução dos veículos elétricos na cidade, que funcionarão seja como carga (consumindo energria), seja como fonte de energia, e em locais diferentes da área de concessão, ou fora dela. "Gerir isso, essa rede do futuro, vai exigir um elevado grau de inteligência artificial e de automação, que chamamos de digitalização, e precisa ser preparado agora", disse.

Os veículos elétricos já são realidade no mundo e estão sendo introduzidos no País, mais significativamente em São Paulo. "Quando atingir, 5%, 10%, 15% da minha carga, não poderei mais gerir, supervisionar e operar o sistema elétrico com os recursos que temos hoje, por isso precisamos já preparar essa rede para o futuro", diz.

Entre 2019 e 2020, a companhia realizou investimentos em oito novas subestações e alimentadores de distribuição, além de ampliar e modernizar outras 83 subestações e linhas de subestação. Também acelerou a instalação de dispositivos de automação como chaves de transferência automática, religados e sensores automáticos. O objetivo foi permitir ações autônomas ou remotas entre o centro de operações e a rede para remanejamentos e reconfiguração em casos de ocorrência, para limitar a duração e a abrangência da falta de energia. "Saímos de um patamar de 14 mil dispositivos de automação para mais de 22 mil, um aumento superior a 50%", disse. Segundo ele, a despeito da pandemia, a companhia manteve o patamar de investimentos praticamente em linha com o planejado.

Com esses investimentos, a Enel São Paulo conseguiu reduzir seus indicadores de qualidade de fornecimento na ordem de 40%. A duração das interrupções (DEC) no fornecimento de energia passou de 11,72 horas, no fim de 2017, para 7,04 horas, em setembro de 2020. A frequência das interrupções (FEC) de 6,22 vezes para 3,66 vezes, na mesma comparação. Em ambos os casos, abaixo dos limites regulatórios e entre os melhores do País - quarto e segundo melhor do ranking nacional, respectivamente. "Queremos continuar avançando", disse Xavier. O plano é ter mais 7 a 8 mil equipamentos de automação para o próximo ciclo.

Em outra frente, a empresa investiu em digitalização para melhorar o atendimento a clientes. Os canais digitais passaram a representar quase 90% dos atendimentos, ante o patamar de 75% de em 2017. O destaque foi o crescimento no uso do aplicativo, que passou de 2,51% para 35% do volume total de solicitações dos consumidores, influenciado também pela pandemia de covid-19. A companhia também aumentou o número de operadores no call center, ampliando de 499 para 1182.

Mesmo com os investimentos, Xavier admitiu haver a percepção de que qualidade do serviço precisa ser melhorada. "São avanços inegáveis (no DEC e FEC), mas percepção é uma coisa subjetiva, nem sempre bate com a realidade técnica dos dados", disse. Para ele, a área de concessão da distribuidora, que corresponde aos 24 municípios da região metropolitana paulista, com 7,4 milhões de clientes, é "peculiar", tendo em vista os dados sócio-econômicos e sua importância no País, o que tornam o consumidor mais exigente.

"Precisamos mostrar para o cliente que vive na minha área de concessão que estou promovendo melhorias... A companhia tem avançado com a Enel em relação à AES, os números de investimento vis-à-vis o controlador anterior quase dobraram, e estamos alocando esses recursos de maneira inteligente e racional, indo nos gargalos e preparando para a rede para o futuro tecnológico", disse. "A empresa nunca viu tantos recursos como nos últimos dois anos."

Medidores e enterramento

Embora a companhia tivesse o plano para instalar cerca de 1 milhão de medidores inteligentes na área de concessão até 2021, o projeto ainda está em fase de testes e aprimoramentos. "Não é só trocar medidores: requer adaptações para potencializar as funcionalidades, temos a responsabilidade de fazer isso de maneira gradual e responsável, de maneira tecnicamente e comercialmente correta, para evitar problemas", disse Xavier, em referência a discussões com a agência reguladora.

Outra frente aguardada de investimentos da Enel São Paulo, a de enterramentos de cabos, deve ter expansão em um ritmo ainda mais lento. Atualmente, a distribuidora tem 43 mil quilômetros de rede, dos quais cerca de 3 mil são subterrâneos. "Adoraríamos que toda a rede fosse subterrânea porque a rede aérea é sujeita a intempéries, árvores, galhos, vandalismo, uma série de problemas", disse. "Só que é muito caro." As redes subterrâneas são de oito a dez vezes mais caras do que a aérea.

Para ele, o País precisaria rever a metodologia para permitir o enterramento de cabos, ao menos em áreas de maior densidade de carga, necessidade de confiabilidade e poder aquisitivo, dentro de um horizonte de longo prazo. "Teria de ser algo gradual, dentro do plano de aprimoramento da infraestrutura do Brasil, com critérios bem definidos pelo regulador, para que, à medida que se atingisse determinados parâmetros técnicos, econômicos e sociais, gradualmente a distribuidora pudesse fazer isso, para um programa de 10, 15, 20 anos, esse é um negócio para gerações", disse.

Contato: luciana.collet@estadao.com
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