Economia & Mercados
22/12/2021 09:45

Embraer se reinventa e negócio bilionário da Eve pode ser só o começo


Por Juliana Estigarríbia

São Paulo, 22/12/2021 - A Embraer anunciou ontem um acordo para levar sua startup de "carros voadores", a EVE, avaliada em US$ 2,9 bilhões, para a Bolsa de Nova York no ano que vem e expandir ainda mais a sua atuação. O movimento sinaliza que a tradicional fabricante de aeronaves brasileira está se transformando e pode ir além da produção de jatos. Para especialistas ouvidos pelo Broadcast, este pode ser só o começo da nova etapa da companhia.

A cinquentenária Embraer está alçando voos que até pouco tempo atrás pareciam improváveis. Após o fim do acordo para fusão com a Boeing no ano passado, o mercado tinha dúvidas sobre o seu futuro, em meio às profundas mudanças da indústria aeronáutica globalmente, o que se agravou com a pandemia. No entanto, diante da aposta na EVE e sua estreia como empresa independente, a maré mudou para a Embraer.

Com a proposta de desenvolver e entregar veículos elétricos de decolagem e pouso vertical (eVTOLs, na sigla em inglês), conhecidos como "carros voadores", a EVE se encaixou rapidamente nos anseios do mercado financeiro, que aposta cada dia mais na tendência de mobilidade zero emissões, dentro do conceito das três letrinhas ESG.

Com rapidez, a EVE também chamou a atenção de uma Companhia com Propósito Específico de Aquisição (Spac, na sigla em inglês, também conhecida no Brasil como "empresa de cheque em branco"), a Zanite. Ambas anunciaram hoje um acordo definitivo de combinação de negócios em que a Embraer permanecerá como acionista majoritária, com uma participação de aproximadamente 82%.

A nova empresa já nasce com uma carteira de aproximadamente US$ 5,2 bilhões, composta de 1.735 pedidos de veículos e 17 clientes que incluem operadores de asa fixa e helicópteros, locadores de aeronaves e parceiros de plataforma de transporte compartilhado.

Especialista em mobilidade e diretor da Bright Consulting, Murilo Briganti afirma que a tendência de aposta em startups está acontecendo em diversas indústrias, como é o caso da automotiva. "A revolução tecnológica está a todo vapor e as montadoras têm que se adaptar. Não são os mais fortes ou mais inteligentes que sobrevivem, mas sim os mais receptivos a mudanças."

Ele pondera que movimentos tecnológicos ousados não são uma particularidade dos grandes fabricantes e por isso montadoras vêm apostando em startups para inovar e liderar a transformação digital.

"Para que essas novas empresas prosperem e eventualmente façam contribuições valiosas para a transformação contínua da indústria, a gestão certa é fundamental para estabelecer as bases dos negócios. As companhias tradicionais precisam fornecer orientação e recursos para as startups, que por sua vez têm que trazer celeridade e inovação ao processo", acrescenta.

O analista da Mirae Asset, Pedro Galdi, diz que, no âmbito de tecnologias disruptivas, a Embraer deve concentrar esforços, em princípio, no carro voador, mas isso não significa que a fabricante deva parar por aí. "A Embraer está atenta a outras possibilidades e produtos."

Em apresentação nesta manhã, o vice-presidente sênior de engenharia, tecnologia e estratégia da Embraer, Luiz Carlos Affonso, disse que a EVE combina o melhor de dois mundos. "A EVE traz tecnologia de disrupção e a experiência da Embraer. Nós estamos contribuindo com propriedade intelectual, ciência e acesso a nossa engenharia, além do suporte de 5.000 funcionários da Embraer."

A EVE estima US$ 4,5 bilhões de receita em 2030, quando as entregas de EVTOLs devem alcançar 1.117 unidades. A expectativa é começar a gerar Ebitda positivo em 2027, alcançando US$ 840 milhões do indicador em 2030, com margem Ebitda de 19%. A estimativa de fluxo de caixa livre é de US$ 475 milhões em 2030.

A EVE terá um grupo de investidores estratégicos que inclui Bradesco BBI, Rolls-Royce, Falko Regional Aircraft, Republic Airways, SkyWest, Azorra Aviation e BAE Systems. "Tradicionalmente, fabricantes de aeronaves são empresas de capital intensivo. A EVE tem perfil asset light, o que compromete menos a estrutura de capital da companhia, com um modelo de negócio mais moderno. Esta é uma tendência vista em outros setores também", diz o analista da Guide Investimentos, Rodrigo Crespi.

Ele ressalta que a participação da Embraer na nova empresa é alta e destrava um valor importante. "A transação é bastante estratégica para a Embraer, que se posiciona não só como uma fabricante de aviões, mas como uma empresa de tecnologia que vai liderar o mercado de mobilidade aérea urbana", avalia.

Contato: juliana.estigarribia@estadao.com
Para ver esta notícia sem o delay assine o Broadcast+ e veja todos os conteúdos em tempo real.

Copyright © 2024 - Todos os direitos reservados para o Grupo Estado.

As notícias e cotações deste site possuem delay de 15 minutos.
Termos de uso