Economia & Mercados
03/04/2020 15:54

Montadoras adiam investimentos, recorrem ao BNDES e veem incerteza para projetar 2020


Por André Ítalo Rocha

São Paulo, 03/04/2020 - A crise econômica causada pela pandemia do coronavírus força as montadoras a adiar ou retardar investimentos no Brasil. As empresas, aliás, não esperam contar com socorro financeiro das matrizes, que também enfrentam problemas com a doença. Há, inclusive, quem tenha recorrido ao BNDES para buscar capital de giro. Além disso, a falta de clareza quanto ao fim da crise dificulta estabelecer uma nova projeção para o mercado. O que se sabe, com certeza, é que as vendas vão cair.

Em razão das paralisações causadas pelo coronavírus, as áreas de engenharias das montadoras, que recebem a maior parte dos investimentos das empresas, estão suspensas. Responsáveis pela parte de pesquisa e desenvolvimento, os profissionais de engenharia estão de mãos atadas. Apenas aquilo que pode ser resolvido de forma digital continua em atividade, mas com limitações que impedem a aplicação de recursos.

Sem receber receita a partir da venda de veículos, uma vez que as concessionárias estão fechadas, as empresas enfrentam problemas de caixa, sem, inclusive, poder contar com apoio financeiro das matrizes no exterior, que também têm buscado alternativas para lidar com a crise do coronavírus, de natureza global. "Estamos cada um por si", disse ao Broadcast o vice-presidente de Relações Públicas do grupo PSA (Peugeot Citröen), Fabrício Biondo, que também é vice-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

A falta de previsibilidade atrapalha os planos para investir, até porque está mais difícil de prever o desempenho do mercado, sem que se saiba, com alguma clareza, a extensão e a magnitude da crise. "Não temos como dar um número agora", disse Biondo. Para ele, só será possível ter uma ideia do mercado quando houver um plano de recuperação estabelecido, com condições minimamente conhecidas para trabalhar em novas estimativas.

Antes da pandemia chegar ao Brasil e paralisar as vendas, o setor automotivo trabalhava com um crescimento de 9% em 2020. Estas são, por enquanto, as projeções oficiais da Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) e da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). A Fenabrave acredita que só será possível revisar a estimativa em maio. A Anfavea, que apresentará os dados de produção de março na segunda-feira, também não vai revisar a estimativa por enquanto.

Procuradas individualmente, a maior parte das empresas não se arrisca a estabelecer uma nova projeção, por causa da incerteza. Uma das que se arriscaram foi a Fiat Chrysler. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o presidente da montadora na América Latina, Antonio Filosa, estimou que o mercado de veículos leves pode ter queda de 40% em 2020. Antes, a empresa esperava crescimento de 6%.

A Volkswagen, por sua vez, é uma das que entendem que ainda há muitas dúvidas para definir qual é novo cenário. A empresa informou que conversa com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para gerar capital de giro, não só para a montadora, mas também para os fornecedores.

Mesmo antes da pandemia, a maioria das montadoras já estava no prejuízo. A Volkswagen, uma delas, contava com o crescimento das vendas em 2020 para poder voltar a lucrar e, com isso, conseguir mais recursos da matriz alemã para investir no Brasil. O ciclo atual de investimentos da montadora no País, de R$ 7 bilhões, termina este ano. Ainda não há definição para o montante do próximo ciclo, que depende do resultado financeiro da empresa.

Há pouco, em entrevista ao Broadcast, o presidente da Fenabrave, Alarico Assumpção Jr, afirmou que as vendas em 2020 podem ter queda superior às experimentadas em 2015 e 2016, período da maior recessão econômica da história do Brasil. Em 2015, o mercado teve retração de 26,5%, a maior desde 1987. Em 2016, o tombo foi de 20%.

"Na segunda quinzena de março a queda nas vendas se acentuou e, a depender de como for abril e os meses seguintes, podemos ter uma retração do mercado maior do que as que tivemos em 2015 e 2016, os dois piores anos do setor", disse o executivo, no dia em que a federação divulgou os resultados de março.

O mercado de veículos teve, em março, o menor volume de vendas para o mês desde 2006. Foram 163,5 mil unidades vendidas, em soma que considera os segmentos de automóveis, comerciais leves caminhões e ônibus. O número, se comparado a igual intervalo do ano passado, representa retração de 21,8%. Em relação a fevereiro, houve tombo de 18,6%. No trimestre, o setor tem contração acumulada de 8,1%, com a venda de 558 mil unidades.

Contato: andre.italo@estadao.com
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