Economia & Mercados
31/05/2021 09:40

Especialistas veem conta de luz mais cara, mas descartam racionamento


Por Anne Warth e Marlla Sabino

Brasília, 28/05/2021 - Em meio à pior seca da história, os consumidores devem enfrentar uma elevação expressiva nas tarifas, com o aumento da geração de energia mais cara de termelétricas a diesel e óleo combustível, e o acionamento da bandeira vermelha nas contas de luz. Especialistas, no entanto, ainda não veem risco de um racionamento como o vivido em 2001, por meio do qual o País seria obrigado a cortar o consumo devido à falta de oferta para suprir a demanda.

O gerente de Preços e Estudos de Mercado da Thymos Energia, Gustavo Carvalho, reconhece, porém, que pode haver dificuldades em algum momento que a demanda for mais alta. “Se não houvesse a pandemia de covid-19, poderíamos até entrar no racionamento, mas acho que, em parte, essa situação pressionou o consumo para baixo”, afirmou.

A situação deve pesar ainda mais no bolso dos consumidores, com a perspectiva de acionamento do patamar mais alto da bandeira tarifária nos próximos meses, que adiciona uma cobrança extra de R$ 6,243 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos.

No início de 2015, o País viveu momentos de apreensão no fornecimento. Com o registro de altas temperaturas, picos de consumo registrados no início da tarde, motivados pelo acionamento de aparelhos de ar condicionado e pela parada para manutenção de usinas importantes no sistema, levaram a blecautes pontuais nos meses de janeiro e fevereiro. O abastecimento, no entanto, foi garantido às custas de termelétricas mais caras.

Para fazer frente a esses momentos e devido à situação crítica dos principais reservatórios de usinas hidrelétricas, o governo editou um decreto para regulamentar a realização de um novo tipo de leilão. Essa licitação visa a contratar usinas para aumentar a segurança do sistema elétrico brasileiro e evitar o desabastecimento de energia.

Essas usinas ficarão disponíveis para atender a demanda de energia sempre que houver necessidade, e devem repor a intermitência das fontes renováveis como o vento e o sol, já que elas dependem de fatores naturais para atender as diferentes necessidades do sistema elétrico.

Os custos para contratação dessas usinas serão rateados entre todos os consumidores finais de energia elétrica do sistema interligado, por meio de um novo encargo na conta de luz, chamado Encargo de Potência para Reserva de Capacidade, e será proporcional ao consumo.

Para o presidente da consultoria PSR, Luiz Barroso, embora o País viva a pior seca de sua história, o governo tem um arsenal de medidas para lidar com o momento. Segundo ele, a declaração de emergência hídrica serve justamente para dar transparência à necessidade dessas ações. “Naturalmente isso liga um alerta, e o governo precisa começar a se preparar para garantir o atendimento. Vejo a declaração de emergência hídrica como algo positivo, pois ainda que a mensagem não seja boa, é transparente”, afirmou Barroso.

Já o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Adílson de Oliveira é crítico em relação à postura que o governo federal tem adotado frente à crise nos reservatórios. “São medidas de quem ainda não tomou a devida preocupação com a dimensão do problema. Estão tentando ainda ver se conseguem empurrar um pouco o problema com a barriga”, afirmou. Na avaliação do professor, a restrição do uso de água para outros fins, como para agricultura, é “preocupante”.

Para ele, a equipe de Jair Bolsonaro deveria considerar medidas semelhantes às que foram tomadas quando o Brasil enfrentou racionamento de energia em 2001. Ele defende que haja uma negociação com grandes consumidores de energia, como as Indústrias, para reduzirem o consumo do insumo. Em contrapartida, o governo compensaria as eventuais perdas. “O custo para a sociedade dessas compensações é muito menor do que o custo de não ter energia nas residências e nos pequenos comércios. Vimos o que aconteceu no Amapá, espero que o governo tenha bom senso de não deixar chegar naquela situação”, afirmou.

Contato: anne.warth@estadao.com ; marlla.sabino@estadao.com
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