Economia & Mercados
30/11/2021 17:00

Especial: Podcast, cursos e encontros são estratégias para atrair e fidelizar investidoras


Por Bruna Camargo

São Paulo, 30/11/2021 - As mulheres ainda são minoria na Bolsa - um milhão, equivalente a 29% do total de CPFs -, mas isso não quer dizer que os escritórios de investimentos estejam menos interessados nelas. Até porque dados da B3 mostram que o valor mediano do primeiro investimento das mulheres é maior que o dos homens (R$ 385 e R$ 200, respectivamente) e que elas vêm diversificando a carteira - entre ações, FIIs e ETFs, por exemplo - tanto quanto eles. Mas o que os assessores estão fazendo para “laçar” e conquistar essas clientes?

Na One Investimentos, a investida está sendo pelas redes sociais. Em abril, o Broadcast conversou com a sócia Amanda Notini para contar sobre o lançamento do projeto One Com Ela$, cujo objetivo é compartilhar informações sobre o mercado financeiro nas redes sociais. Sete meses depois, a equipe feminina da One uniu-se a Luciana Ballesteros, do curso Financial Experts, para dar mais um passo e lançar o podcast Papo de Investidoras. “O podcast é voltado para mulheres iniciantes [nos investimentos]. Tem uma linguagem fácil e trazemos detalhes que, às vezes, podemos achar que são bobos, mas para quem não entende é importante”, explica Notini. E o feedback? “Muitas mulheres que tinham vergonha de conversar [sobre finanças] têm se sentido mais seguras”, diz. A sócia da One acrescenta que, conforme houver liberação de medidas restritivas em relação ao coronavírus, eventos presenciais com as clientes e prospects começarão a acontecer.

O contato presencial também será o foco da Renova Invest, segundo a sócia Nayara Boer. “Estamos preparando uma agenda de microeventos voltados para públicos específicos. Dentro desses públicos há o feminino. Não apenas para ter uma troca e um networking entre as nossas clientes, mas algo que possa promover um empoderamento, para elas enxergarem que há mais mulheres investidoras como elas”, explica Boer.

Já na Veedha Investimentos, sob comando da coordenadora de educação Roseli Assis, o escritório prepara o lançamento de um curso online e pago, em parceria com a Xpeed School, de finanças para mulheres. “A ideia é falar sobre crenças e tabus, produtos de investimento e empreendedorismo”, diz a sócia-fundadora Graziela Suman. E por que só para mulheres? “Homens e mulheres têm demandas específicas. A entrega de conteúdo é mais assertiva quando há identificação”, explica.

Quem é a mulher que investe?

Notini conta que as clientes da One - 34% do total - costumam ser mulheres que já têm algum conhecimento sobre investimentos ou iniciantes que fazem aplicações com apoio de figuras masculinas, como marido e filhos. “Grande parte ainda deixa o dinheiro na poupança, que entendem como mais seguro. Mas aos poucos elas ganham confiança para alcançar melhores retornos e para fazer perguntas para seus assessores”, afirma.

“Temos entre 15% e 20% da carteira composta por investidoras mulheres e o perfil é bem diverso: há grandes empresárias, há herdeiras e há quem construiu patrimônio junto com o marido. Elas têm um perfil moderado e, quando querem colocar uma ‘pimentinha’ na carteira, conhecem bem seus limites”, conta Boer, da Renova. Para ela, o diferencial dessas clientes é que elas se preocupam mais em cuidar e ampliar o patrimônio no longo prazo, com mais organização e planejamento.

Para Suman, da Veedha, em comparação com os homens, as mulheres exigem mais conhecimento antes de investir. “Isso não é demérito, é uma diferença, então a gente tem que tratar de forma diferente”, diz. Além disso, Suman observa que, se têm escolha, as investidoras preferem o atendimento de assessoras.

Mais investidoras, mais assessoras

Não é só com a ponta de clientes que os escritórios ouvidos pelo Broadcast precisam se esforçar para aumentar a presença feminina, mas também com a de profissionais. Afinal, a diferença ainda é grande: levantamento de outubro da Associação Nacional das Corretoras de Valores (Ancord), que cuida da certificação dos agentes autônomos de investimentos (AAIs), revela que as mulheres representam 21% do segmento.

Com diferentes prazos e programas de atração, os escritórios destacam a meta de chegar ao equilíbrio de gênero. “O mercado financeiro é muito conhecido pela masculinidade, mas a gente dá igual oportunidade tanto para a seleção de assessores quanto para a de outras áreas do escritório”, afirma Boer, da Renova, que possui 45% (25 de 55) do time composto por mulheres e quer chegar, em breve, a 50%.

Notini conta que, na One, o grupo de sócios seniores (ou partnership, na expressão em inglês) era composto por apenas uma mulher. No processo mais recente, nove entraram, inclusive ela. No total, entre sócios e sócios seniores, a One tem atualmente 22 mulheres (dez seniores e 12 sócias) .

Já na Veedha, o compromisso é chegar a 50% de mulheres até 2025. “Comecei há quase cinco anos sendo a única mulher da empresa. Saltamos de 14% (uma mulher entre sete sócios), para 30% (36 de 119). O porcentual vem crescendo, mas precisamos acelerar esse processo e ajudar mais mulheres que queiram trilhar esse caminho”, conta Suman.

Para isso, o processo seletivo para assessores na Veedha prioriza mulheres. Depois que entram no escritório, elas são convidadas a entrar em um grupo de apoio e dar sugestões de melhorias para a área de Pessoas e Cultura em temas como licença maternidade - relevante em um segmento que não oferece CLT.

Contato: bruna.camargo@estadao.com
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