Economia & Mercados
27/01/2022 09:55

Ação do Nubank cai para mínima desde o IPO com Fed sinalizando alta de juros em março


Por Matheus Piovesana e Altamiro Silva Júnior

São Paulo, 27/01/2022 - A sinalização do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de que vai aumentar a taxa básica de juros da economia americana em março gerou novo movimento de fuga de ativos de risco pelo mundo, o que levou a ação do Nubank à mínima histórica de fechamento ontem, em US$ 7,07. Trata-se de um valor 32% menor que o definido na oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) da fintech. Para os próximos meses, a percepção de analistas é de que o contexto deve seguir desfavorável para papéis de empresas de tecnologia com alto potencial de crescimento, que para sustentá-lo precisam tomar muitos recursos no mercado.

Em decisão divulgada ontem à tarde, o Fed afirmou que será adequado aumentar os juros "em breve", e que deve reduzir seu balanço de ativos financeiros após iniciar a alta dos juros. Como a autoridade monetária americana pretende encerrar a redução das compras de ativos em março, o mercado interpretou que deve elevar os juros naquele mês.

O diretor financeiro do suíço Bank Syz, Charles Henry Monchau, avalia que o Fed deixou claro o objetivo de subir os juros em breve, com uma elevação de 0,25 ponto porcentual devendo vir já em março. Além disso, sinalizou o fim do programa de compras mensais de ativos, também em março, além de pretender começar a reduzir o tamanho de seu balanço em seguida, após elevar os juros, movimentos que tendem a retirar liquidez do mercado financeiro. O balanço do Fed superou a histórica marca de US$ 9 trilhões por causa da compra de títulos no mercado desde o começo da pandemia.

O Bank of America avalia que o Fed "deixou a porta aberta" para elevar os juros em março. O presidente do BC americano, Jerome Powell, na visão dos economistas do BofA, até tentou evitar na entrevista à imprensa na tarde de ontem entrar em detalhes que pudessem mexer com o mercado, mas não conseguiu, o que acabou aprofundando a queda nas bolsas e das ações de tecnologia em particular.

Powell foi perguntado, por exemplo, sobre uma potencial elevação de 50 pontos-base nos juros. Ele não descartou essa possibilidade, afirmando que tal tipo de discussão ainda não foi abordada. O risco, afirma o BofA, é o Fed ter que fazer mais de quatro elevações de juros neste ano.

Atualmente, os juros nos Estados Unidos estão na faixa entre 0% e 0,25% ao ano, em vigor desde o início da pandemia. Os juros baixíssimos, aliados à recompra de ativos financeiros pelo Banco Central americano, estimularam o mercado de capitais local e deram impulso em especial às ações de empresas de tecnologia, que tendem a necessitar mais de captações de recursos no mercado e, portanto, se beneficiam dos juros baixos.

Foi nesse contexto que o Nubank apresentou aos investidores globais os números de sua operação. Com 48,1 milhões de clientes na América Latina e o potencial de crescer exponencialmente nos próximos anos, a fintech chegou ao mercado avaliada em US$ 41,5 bilhões, destronando o Itaú no posto de banco mais valioso da América Latina.

Desde então, porém, o neobanco já perdeu cerca de US$ 9 bilhões (o equivalente a R$ 48,9 bilhões) em valor de mercado. Está atrás não apenas do Itaú, que fechou o pregão ontem valendo US$ 41,2 bilhões, como também do Bradesco, que vale US$ 36,1 bilhões. Entretanto, ainda vale mais que o Santander Brasil (US$ 22,9 bilhões) e o Banco do Brasil (que só negocia ADRs no mercado de balcão, fora da Nyse).

A diferença ficou ainda maior porque nas últimas semanas, os papéis americanos dos bancos brasileiros avançaram. As ações do Itaú e do Bradesco na Bolsa de Nova York acumulam altas de cerca de 19% neste ano, enquanto a do Nubank cai cerca de 25%. Se é negativa para fintechs, a alta dos juros beneficia os papéis dos bancos tradicionais, que repassam essa elevação ao custo do crédito e conseguem elevar os spreads (diferença entre o custo de captação e os juros que cobram dos clientes).

Carlos Macedo, analista da plataforma Ohmresearch, afirma que Nubank e Itaú não são exatamente concorrentes, porque enquanto a fintech tem um público mais jovem e concentrado nas classes C, D e E, de menor poder aquisitivo, os grandes bancos têm clientes mais velhos e com maior renda. O confronto entre ambos deve ficar mais intenso no futuro, avalia.

"Em algum momento, esse público jovem vai virar classe C e B, conforme amadurecer. Ele vai deixar de ir para o Itaú? Essa é a grande dúvida para os próximos cinco anos", diz.

Contato: matheus.piovesana@estadao.com, altamiro.junior@estadao.com
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