Economia & Mercados
25/07/2022 09:55

Especial: ao chegar à 'maioridade', mercado pago assume epíteto de banco digital


Por Matheus Piovesana

São Paulo, 22/07/2022 - Conglomerado com licenças de instituição de pagamento, financeira e corretor de seguros, o Mercado Pago passa a se apresentar oficialmente como banco digital. Para especialistas, a mudança pode fazer com que uma parte do público veja na plataforma, nascida da varejista Mercado Livre, como um lugar para resolver a vida financeira - em suma, um banco.

"Hoje, o que a gente tem é uma proposta de banco digital completa para os nossos usuários. Muitas pessoas físicas se identificam com essa proposta", disse ao Broadcast Tulio Oliveira, vice-presidente sênior do Mercado Pago no Brasil. "O cliente já trata o Mercado Pago como sua instituição de relacionamento. Agora, estamos simplesmente começando a falar isso."

O processamento de transações foi o que marcou o nascimento do Mercado Pago, em 2004. Inicialmente, a empresa processava transações no Mercado Livre, e aos poucos, expandiu a atuação. Em 2019, obteve licença de instituição de pagamento junto ao Banco Central, e desde então, lançou um produto por mês.

O neobanco possui 36 milhões de usuários. São duas as frentes: parte são vendedores, que utilizam o Mercado Pago como a plataforma de aceitação de pagamentos, seja online ou via maquininha. Outra parte são pessoas físicas, que usam a conta digital, o cartão de crédito ou outros serviços, como a compra e venda de criptoativos e os seguros.

Enquanto outras fintechs buscam licenças bancárias para reduzir custos de captação e ampliar o leque de produtos, o Mercado Pago acredita que as autorizações que atualmente possui são suficientes. Hoje, a empresa opera como instituição de pagamento, nas modalidades de emissor de moeda eletrônica, credenciador e emissor de pagamento pós-pago. Também é financeira e corretora de seguros.

"Emitimos CDB através da financeira, usamos a conta como conta de relacionamento, e temos a credenciadora. Para o cartão de crédito, temos a emissora pós-paga", afirma.

Bruno Diniz, sócio da consultoria de inovação Spiralem, considera que ao se posicionar como banco digital de forma oficial, o Mercado Pago pode convencer faixas de público que hoje não estão na base a utilizarem seus produtos. "Talvez eles estejam tentando atrair clientes com essa visão de que, como banco digital, acomodam melhor as necessidades financeiras de um cliente", diz.

Apetite

A fintech opera na América Latina, mas, assim como o Mercado Livre, tem a maior parte da operação no Brasil. A carteira de crédito total do Mercado Pago era de US$ 2,4 bilhões em março, dado mais recente divulgado.

Neste mês, o Mercado Pago obteve uma linha de financiamento junto ao banco americano Goldman Sachs para reforçar a concessão de crédito na América Latina. O apetite para emprestar é o motor do crescimento do neobanco, que tem expandido a base de usuários em ritmo mais acelerado que concorrentes como o PagBank, da PagSeguro, segundo estima o mercado.

Dados da consultoria Sensor Tower compilados pelo Bank of America apontam que o Mercado Pago tem a terceira plataforma mais utilizada mensalmente entre fintechs e carteiras digitais no País. Com 13,2 milhões de usuários ativos em junho, ficava atrás apenas do Nubank e do PicPay.

O UBS BB, ao analisar a participação de mercado de aplicativos de pagamentos em maio, ressaltou que o Mercado Pago, com 22% do total, era o mais bem posicionado em seu espectro de cobertura. Para os analistas do banco, a combinação entre o processamento de pagamentos, o crédito e a plataforma de varejo trazem o que os bancos digitais têm buscado: engajamento.

Diniz, da Spiralem, vê nessa integração uma vantagem competitiva no momento em que plataformas rivais buscam o oposto: construir shoppings virtuais para manter os usuários de produtos financeiros dentro de seus aplicativos. "O Mercado Pago bebe da possibilidade de ter um custo de aquisição de clientes mais baixo, fora as sinergias que tem com o Mercado Livre."

A virada desfavorável do ciclo de crédito, porém, exige cautela. O vice-presidente afirma que, para o Mercado Pago, o momento é de ajustar limites, mas não de fechar a torneira. "O grande desafio está em identificar qual é o cliente que vai ser mais vulnerável na situação econômica em que estamos."

Contato: matheus.piovesana@estadao.com
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