Economia & Mercados
13/11/2019 18:59

Em mais um dia de mau humor dos investidores, Ibovespa cai 0,65%, aos 106.059,95 pontos


Por: Simone Cavalcanti e Luis Eduardo Leal

São Paulo, 13/11/2019 - O Ibovespa não conseguiu se isolar do sentimento de instabilidade política na América Latina, que acentua a alta do dólar frente a moedas desses emergentes, e fechou mais um dia em queda. Os ventos favoráveis vindos de seus pares no exterior, assim como o decorrente da alta nas cotações do petróleo, foram suficientes apenas para limitar perdas do principal índice da B3.

No meio da tarde, porém, relatos de que as negociações entre Estados Unidos e China teriam travado de novo levaram os índices em Nova York a mudar de direção, pontualmente, e o indicador do mercado acionário local à piora. A mínima do dia foi de 105.260,78 pontos. O Ibovespa acabou mostrando alguma melhora perto do encerramento do pregão e fechou em baixa de 0,65%, aos 106.059,95 pontos.

De acordo com profissionais da renda variável, há também um componente técnico, com o vencimento de opções sobre Ibovespa podendo ter alguma contribuição para o movimento de queda. "Mas é difícil discernir o quanto", diz Glauco Legat, analista-chefe da Necton Investimentos. "Hoje, de certa forma, grande parte do desempenho negativo vem de blue chips, como Vale, Petrobras e bancos."

Na avaliação de um operador, o vencimento de opções sobre o índice pode ter influído, inclusive, no movimento de ontem, com a saída de posições dos investidores. Aliás, lembra ele, um dos fatores para a Bolsa não se segurar nesses dias é que os estrangeiros têm se desfeito mais de seus papéis e os locais não estão absorvendo.

"Nos últimos dias, houve piora lá fora e pegou o mercado muito comprado, quando renovava máximas históricas", ressalta Marcelo Faria, gestor de renda variável da Porto Investimentos. "As coisas entre EUA e China ficaram mais difíceis do que o mercado imaginava, seguem os protestos em Hong Kong e há uma questão específica de pressão sobre as moedas na América Latina."

Legat chama atenção para as incertezas no cenário político doméstico, com a iniciativa do presidente Jair Bolsonaro para criar um novo partido. Na avaliação do analista-chefe da Necton, o movimento pode contribuir para acirrar a fragmentação da base de sustentação do governo, colocando em dúvida o ritmo de progressão das reformas, especialmente em pontos nos quais a negociação com o Congresso tende a ser árdua, como as mudanças tributárias e no pacto federativo.

O investidor, especialmente o estrangeiro, já cauteloso, deve continuar a ser condicionado também, no curto prazo, pelo aumento da percepção de risco em relação à América Latina, diz Legat. "Apesar dos contextos diferentes, o Brasil, pela proximidade geográfica, pode ser penalizado pela turbulência nos vizinhos", diz o analista-chefe da Necton, casa que mantém a projeção de 112 mil pontos para o Ibovespa no fim do ano. "Não há mudança estrutural, apenas uma correção de curto prazo, saudável", com o Ibovespa tendo renovado máximas nas últimas semanas, aponta Legat.

Faria, da Porto Investimentos, ressalva que, a despeito do noticiário ruim, os fundamentos econômicos no Brasil seguem um bom caminho. "O ajuste fiscal está sendo feito de maneira tecnicamente competente, em um cenário de política monetária frouxa com inflação baixa. Assim, a procura por ativos de risco tende a aumentar."

Legat complementa que, com o movimento de queda sustentada dos juros, após muito dinheiro ter sido ganho em posições de renda prefixada, a indústria de fundos de pensão tende gradualmente a voltar a aumentar a exposição à renda variável, que em 2014 correspondia a 24% da composição das carteiras dos fundos fechados e hoje está em 18% - movimento que, se confirmado, contribuirá para sustentar os preços das ações.

Contatos: simone.cavalcanti@estadao.com e luis.leal@estadao.com
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