Por Ludmylla Rocha
São Paulo, 18/04/2024 - A experiência em bolsas de energia em diversos mercados pelo mundo é o que levará a Nodal a ser bem-sucedida em sua empreitada para estabelecer uma iniciativa desse tipo no Brasil, avalia Paul Cusenza, presidente da bolsa de energia Nodal Exchange e da
clearing norte-americana Nodal Clear e, agora, também da Nodal Brazil, todas do Grupo European Energy Exchange (EEX), instituição ligada ao Deutsche Börse Group que atua em bolsas de energia em 21 países.
"Nós construímos mercados na Europa, nos Estados Unidos. Estamos construindo atualmente no Japão. Portanto, sabemos como fazê-lo. Sabemos quem são os agentes, e quais vão querer participar deste mercado. Também trabalharemos muito com os agentes locais. É muito valioso ter tido essa experiência e isso nos permitirá ter sucesso no Brasil. Ninguém tem mais conhecimento internacional sobre os mercados de energia do que o Grupo EEX", disse Cusenza em entrevista ao
Broadcast Energia.
A empresa se juntou ao L4 Venture Builder, fundo voltado a inovação apoiado pela B3, para lançar, no último mês de outubro, a joint venture N5X, que busca se estabelecer no mercado brasileiro como uma bolsa de energia.
Em março, a N5X iniciou o cadastramento de participantes do mercado livre para atuar por meio de sua plataforma de negociação. A expectativa é a formalização de negócios de compra e venda por meio do sistema de boleta seja iniciado ainda neste trimestre. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
Foto: Divulgação
Broadcast Energia: O que levou a Nodal a querer vir para o mercado de energia brasileiro neste momento?
Paul Cusenza: Eu sempre olhei o mercado internacional e nós sempre tivemos visitantes de todo o mundo na Nodal Exchange para aprender com o que estamos fazendo. As pessoas que negociam nos Estados Unidos vêm da Europa, do Brasil, do Canadá, da Ásia, de todo o mundo, e essa é uma dinâmica importante desta indústria. Frequentemente, são os mesmos players globalmente. Então, sempre estive olhando para a América do Sul e conversando com outras pessoas na América do Sul ao longo do tempo. O Brasil é o sexto maior mercado de energia do mundo, considerando uma base nacional, é um mercado muito significativo. E a desregulamentação está começando a acontecer mais. Nos próximos dois anos veremos ainda mais expansão do mercado livre. À medida que isso acontece, ser capaz de fazer a gestão de risco via contratos futuros é muito valioso. Com isso, podemos trazer mais gerenciamento de risco de crédito e de liquidez. Ser capaz de administrar o risco de preço é realmente importante para a dinâmica e o crescimento do mercado. Então, me parece o momento parece certo para fazer isso.
Broadcast Energia: E com uma matriz elétrica renovável, como a brasileira, o preço da energia tende a oscilar a depender das condições do clima...
Paul Cusenza: A energia é uma mercadoria muito volátil em termos de preço, por isso que é tão importante ter ferramentas de gerenciamento de risco como as que oferecemos. E, assim como trazemos grande expertise, temos a B3, por meio da L4, com profunda expertise em mercados de commodities e na bolsa de valores aqui no Brasil.
Broadcast Energia: Quanto tempo levará para vermos um mercado mais dinâmico?
Paul Cusenza: Levará tempo e é por isso que queremos nos adiantar. O mercado ainda está se tornando um pouco mais livre. As coisas ainda estão sendo construídas. Levará alguns anos para montar tudo isso, mas em cinco anos, 10 anos, será muito emocionante olhar para o mercado e para onde ele está indo. E é para onde ele vai naturalmente. Então, estou muito feliz por poder desempenhar um papel no desenvolvimento deste mercado para ajudar a N5X a alcançar seu objetivo.
Broadcast Energia: Há algum país que será referência para o que vocês pretendem fazer no Brasil?
Cuzensa: Eu acho que o maior guia para o mercado no Brasil é olhar como outros mercados internacionais evoluíram e se desenvolveram. Se eu voltar 25 anos atrás, não existiam mercados de energia na Europa ou nos EUA e hoje eles são muito significativos. Até mesmo a Nodal Exchange, quando a lançamos, em 2009, fizemos apenas 40 terawatts-hora (TWh) de volume no nosso primeiro ano. Agora, foram 379 TWh apenas em fevereiro e 2.700 TWh no ano passado. Então, o crescimento acontece com o tempo. Então, para mim, o melhor exemplo concreto é olhar para os mercados internacionais, ver como o Japão, a Europa e os EUA estão se desenvolvendo. Estes podem ser exemplos para o Brasil observar e tirar o melhor desses diferentes mercados e então descobrir como você aplicar isso no mercado brasileiro em suas especificidades e torná-lo bem-sucedido. E o outro ingrediente importante é que, em todos esses mercados de energia não há apenas
players locais, mas globais. Então, isso é outra dimensão chave para fazer funcionar, pois os agentes internacionais estão dispostos a apoiar os mercados em diferentes lugares ao redor do mundo, porque eles entendem a natureza da eletricidade, e há uma convergência nos mercados futuros que os tornam um mercado global.
Broadcast Energia: Como vocês estão endereçando as questões legais e regulatórias?
Cuzensa: Questões legais e regulatórias são extremamente importantes. As bolsas de mercado futuro de commodities são reguladas. Temos a vantagem de ter a experiência de trabalhar nesses ambientes na Europa, nos EUA, no Japão, em diferentes ambientes que têm isso. Também temos nosso outro colaborador nisso, a L4, ligada à B3, que tem experiência aqui do Brasil. Nos Estados Unidos, somos uma organização autorregulada, mas somos supervisionados para garantia de que estamos cumprindo as regras e eu levo esse trabalho muito a sério, porque é importante para a confiança e a integridade do mercado. Então, eu compartilho dos objetivos de muitos dos reguladores de que este seja um mercado justo. Nós estaremos nas discussões com eles conforme e quando for apropriado, sobre o que estamos tentando fazer para obter as licenças necessárias. No fim do dia, é nossa responsabilidade fazer a coisa certa.
Broadcast Energia: No Brasil, o mercado de gás natural é mais fechado que o de energia elétrica. Dado que vocês também trabalham com gás em outros mercados, como planejam lidar com esta realidade aqui?
Cuzensa: Veja, nós podemos avançar com os mercados de energia. O gás natural é importante, seria bom incluí-lo. Vamos participar e trabalhar com o mercado em discussões para incluí-lo, se pudermos, mas não é necessário. Ter energia [elétrica] é o mais importante para nós e vamos nos concentrar em tornar isso uma realidade. Mas eu ficaria muito feliz em dar as boas-vindas ao gás natural com o tempo, então, faremos parte da discussão.
Broadcast Energia: Além da clearing, que outras soluções têm sido demandadas pelos agentes brasileiros?
Cuzensa: A
clearing é realmente bem esperada, mas há outras soluções. Conforme anunciado, começaremos com alguns registros de negócios [bilaterais]. Vamos evoluir para soluções completas, atendendo às necessidades dos agentes e construindo-as de forma conjunta. Será uma evolução de serviços até a
clearing. O que é divertido e interessante nesse negócio é que, como presidente de bolsa e da
clearing, sou coordenador e ambas são como
marketplaces, são mercados que não existe sem que todos joguem juntos como uma equipe. Não funciona a menos que estejamos todos juntos, então é muito importante termos isso como um mercado coletivo. É verdade que nem todo mundo precisa usá-lo. Mas uma vez lá, é muito valioso tê-lo. Não é diferente dos mercados de ações, onde é possível levantar capital e desempenhar seu papel no mundo financeiro. Você poderia ter apenas empresas privadas, mas ter um
marketplace é útil para ações e o mesmo se aplica às commodities energéticas. Então, estou muito animado com o mercado brasileiro. O potencial é enorme. A hora é agora e são as pessoas certas na sala. Não somos apenas nós, mas nosso outro investidor, a L4, e todas essas pessoas ótimas e competentes que vão liderar e fazer acontecer. Estamos aqui para apoiá-los, dar a eles conhecimento, etc. É a empresa deles, mas estou realmente feliz em ajudá-los a serem bem-sucedidos. É realmente o que estamos tentando fazer.
contato: energia@estadao.com
