Economia & Mercados
25/02/2022 10:36

Especial: Apesar da demanda consistente, novos elementos podem retardar recuperação da Azul


Por Juliana Estigarríbia

São Paulo, 24/02/2022 - A Azul apresentou forte desempenho operacional no quarto trimestre, com avanço da demanda e aumento substancial das tarifas. Porém, o resultado foi ofuscado por acúmulo de juros de empréstimos e obrigações de arrendamento, além de impacto cambial. Para 2022, apesar da expectativa de retomada principalmente no mercado doméstico, novos elementos podem adiar a plena recuperação da companhia, como incertezas de novas variantes da covid-19 e, agora, a crise na Ucrânia.

No quarto trimestre, a aérea registrou prejuízo líquido de R$ 945,7 milhões, revertendo lucro de R$ 543 milhões no mesmo período de 2020. No ano, a companhia acumulou prejuízo de R$ 4,7 bilhões.

Executivos minimizaram o prejuízo citando fatores como câmbio e destacaram a forte geração de caixa medida pelo Ebitda no quarto trimestre, de R$ 1 bilhão, como sinal da trajetória positiva da companhia. "Temos trabalhado em diversas frentes para melhorar nossa eficiência, mas acreditamos que vamos voltar ao zero a zero quando a demanda do corporativo voltar, quando a Faria Lima voltar ao escritório. As grandes empresas do segmento corporativo ainda não voltaram", disse o CEO da Azul, John Rodgerson, a jornalistas.

Para o analista da Mirae Asset, Pedro Galdi, a Azul registra hoje melhor estrutura de capital do que a Gol, mas alerta que o setor de transporte aéreo necessita de uma profunda gestão da exposição ao capital de terceiros e do perfil de dívida e moeda. "Uma condição errônea pode ser catastrófica para as empresas."

O analista da Guide Investimentos, Rodrigo Crespi, aponta que o resultado da Azul foi marginalmente negativo, apesar da retomada integral de voos domésticos e parcial no internacional. "Além do aumento de custos com combustível, o destaque negativo ficou para o resultado financeiro, devido ao acúmulo de juros sobre empréstimos e obrigações de arrendamento no trimestre, levando ao prejuízo."

O CFO da Azul, Alex Malfitani, disse mais cedo que a alavancagem, medida pela dívida líquida sobre o Ebitda, girou em torno de 11 vezes em 2021, mas já está "na casa de 5 vezes" atualmente. "A cada ano, esse indicador vai gradualmente convergindo até chegar ao nível pré-pandemia, de três ou quatro vezes."

Crespi afirma que uma reversão da tendência de pressão sobre o resultado só deve acontecer no início de 2023, quando está previsto o fim do ciclo de alta de juros. "O resultado financeiro deve continuar pressionando a linha final da Azul."

Crise na Ucrânia

O CEO da Azul lamentou que o resultado da companhia tenha saído justamente no dia da invasão da Rússia na Ucrânia. Ele afirmou que a companhia não mudará a estratégia com base nas últimas horas, mas admitiu impacto nos preços dos combustíveis. Segundo o executivo, o preço do petróleo de hoje vai impactar a empresa daqui a 30 dias, porque a precificação da Petrobras é baseada numa média do último mês.

Rodgerson esclareceu que, quando o preço do combustível sobe rapidamente, o usual é cortar capacidade. "Geralmente cortamos alguns voos que não são tão rentáveis. Com o combustível a esses níveis, nosso time está olhando rotas, onde devemos cortar, talvez cortar algumas frequências nesse sentido."

Os analistas Stephen Trent, Brian Roberts e Filipe Nielsen escreveram em relatório do Citi que o combustível deve ser um alerta para a companhia. "O aumento dos preços do petróleo acompanha o cenário de incerteza geopolítica, embora seja difícil prever o que isso significa para os preços dos combustíveis no curto prazo."

Para o analista da Guide, eventuais tensões geopolíticas acabam pressionando os preços do petróleo, como ocorreu nesta quinta-feira, quando a cotação superou a marca dos US$ 100 pela primeira vez desde 2014. "Isso também pressiona o resultado operacional diante do aumento de custos com combustível", diz Crespi.

No cenário doméstico, Rodgerson reforçou que, apesar do ano eleitoral e da inflação, o desejo de voar do brasileiro não muda. "Não fazemos planos baseados somente em 2022, mas sim para daqui a 5 a 10 anos. Vai ter volatilidade, mas temos que ter uma empresa que funciona com esquerda, direita, centro, com real fraco ou forte, não podemos ter um plano de negócio vinculado a um determinado governo."

No curto prazo, porém, executivos admitiram impactos diversos. "Inflação e câmbio seguem como desafio, por isso buscamos eficiência", disse o CEO da Azul.

Contato: juliana.estigarribia@estadao.com
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