Economia & Mercados
27/04/2022 11:44

Especial: CEO do Porto de Santos prevê leilão em 2022: 'Quem não entrar agora, só em 40 anos'


Por Juliana Estigarríbia

Santos, 26/04/2022 - A atual gestão do Porto de Santos está confiante que a desestatização da autoridade portuária deve sair do papel ainda este ano, apesar da descrença que paira no mercado acerca do certame em ano eleitoral. O presidente da Santos Port Authority (SPA), Fernando Biral, admite que sempre há riscos envolvendo esse tipo de processo, mas reforça que esta é uma oportunidade única de investimento.

“Alguns fatores no cenário global, como a guerra na Ucrânia e a inflação podem até reduzir o apetite para o leilão, mas é uma questão de ‘agora ou nunca’: se o investidor não entrar agora, só daqui a 40 anos”, afirmou o executivo em entrevista ao Broadcast.

Em sua avaliação, não só o custo de oportunidade deve atrair os investidores, mas o potencial de expansão do porto, considerado o maior da América do Sul. “É um ativo de interesse nacional, vamos ter uma grande disputa.”

Biral chegou à SPA em 2019 como diretor financeiro, após uma atuação de décadas na iniciativa privada, majoritariamente na reestruturação de empresas. “O que mais assustou no início foi a incerteza em relação às gestões anteriores, tivemos que mergulhar na companhia para analisar todos os contratos com fornecedores”, conta o executivo.

No ano seguinte, tornou-se presidente da SPA e, desde então, vem trabalhando na pauta da desestatização. “Se não houver o leilão, vai voltar aquela situação do passado”, diz Biral, referindo-se principalmente a prejuízos.

O Porto de Santos saiu de um prejuízo de R$ 469 milhões, em 2018, para um lucro líquido de R$ 329 milhões em 2021. Para este ano, a SPA estima um resultado líquido de R$ 500 milhões. Neste contexto, Biral rebate as críticas sobre o processo de desestatização.

“Na gestão do porto, lidamos com problemas a todo momento, há inúmeros imprevistos. Precisamos de agilidade e eficiência para garantir os investimentos necessários para continuar oferecendo qualidade e capacidade de movimentação e só a iniciativa privada vai conseguir isso”, defende.

O Porto de Santos tem cerca de R$ 5,4 bilhões de investimentos privados contratados e outros R$ 5,7 bilhões programados. Com o leilão, a expectativa de investimentos ao longo dos 35 anos de contrato (prorrogáveis por mais cinco) é de R$ 18,5 bilhões. “Sem estes investimentos, o porto pode demorar o dobro ou até o triplo do tempo para desenvolver as áreas necessárias para crescer e ter competitividade.”

O governo coletou cerca de 600 contribuições em consulta pública para o leilão da autoridade portuária e a SPA trabalha com a perspectiva do BNDES de realizar o certame no quarto trimestre deste ano, apesar do ceticismo do mercado. O consenso entre especialistas ouvidos pelo Broadcast é que não há uma janela - nem um ambiente - favorável para a realização do leilão em 2022, em meio às incertezas do ano eleitoral.

Outra preocupação de investidores, conforme apurou o Broadcast, é o emaranhado de disputas judiciais acumuladas ao longo de décadas no complexo. Executivos da SPA reforçam que todos os passivos já foram mapeados e provisionados.

Para Biral, este é um processo sem volta. “Se olharmos para concessões de infraestrutura, não vemos como retornar ao passado, tivemos os aeroportos e com portos vai ser o mesmo.” Segundo o executivo, investidores de diversos perfis têm demonstrado interesse no leilão, incluindo fundos, operadores logísticos e empresas que tradicionalmente não atuam nesse tipo de concessão. “Não vai faltar investidor.”

Contato: juliana.estigarribia@estadao.com
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