Economia & Mercados
26/04/2021 08:03

Especial: Entidades calculam perda de até 350 mil empregos com corte em programa habitacional


Por Matheus Piovesana e Idiana Tomazelli

São Paulo e Brasília, 23/04/2021 - Entidades que representam o setor de construção civil calculam que as perdas, em termos de empregos, que uma paralisação das obras de milhares de unidades do Minha Casa Minha Vida, rebatizado de Casa Verde Amarela, podem chegar a 350 mil. O impacto não seria apenas nos índices de desemprego: algumas das principais incorporadoras do País dependem do programa para financiar obras, embora não utilizem apenas a faixa de entrada.

Como mostrou o Broadcast, com os vetos do presidente Jair Bolsonaro ao Orçamento de 2021, sancionado por ele na quinta, 22, as obras de 200 mil unidades da faixa 1 do programa habitacional podem ser paralisadas a partir de maio. Houve um corte de R$ 1,37 bilhão nas despesas que estavam reservadas ao Fundo de Arrendamento Residencial (FAR), que banca esse nível de renda. Fontes do Ministério do Desenvolvimento Regional tratam o corte como "algum erro", porque seria inviável continuar as obras com os R$ 29 milhões que sobraram.

Entidades representativas do setor já começam a calcular as possíveis perdas. O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, afirmou que 250 mil empregos diretos no setor podem estar sob risco. "Acho simplesmente uma loucura, vai paralisar obras, demitir pessoas, criar um problema seriíssimo que, para retomar, custará muito mais caro. Quem cortou não tem noção do que está fazendo. Inacreditável", afirmou Martins.

Algumas estimativas, porém, dão conta de um corte mais drástico de vagas em um momento de crise econômica. Claudio Hermolin, presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Rio de Janeiro (Ademi-RJ), acredita que até 350 mil empregos diretos podem ser perdidos, e até 750 mil indiretos. "No momento em que precisamos trabalhar na retomada, você joga mais 1 milhão de desempregados na economia. É quase suicídio."

A Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) não fez cálculos, mas também enxergou perdas relevantes do ponto de vista da empregabilidade no setor. "Entendemos que é importante a continuidade das obras em andamento, dado o déficit habitacional existente e o impacto na geração de emprego e renda que esta ação teria no atual momento da retomada do crescimento do País", afirmou através de nota o presidente da Abrainc, Luiz França.

Importante para as empresas

Hermolin, da Ademi-RJ, explicou que o setor ainda calcula as perdas financeiras para as construtoras, que em muitos casos, dependem muito da faixa 1. "Tem empresa que tem boa parte da atuação na faixa 1. Certamente vamos ter empresas fechando, com dificuldade de manter os seus compromissos", disse ele.

Nas principais operadoras do programa que têm capital aberto na B3, o programa também tem forte relevância, embora as empresas tenham buscado diversificação de receitas justamente para evitar as restrições do orçamento público. A MRV, maior operadora do MCMV/Casa Verde Amarela, destacou ao divulgar seus resultados do quarto trimestre que o programa é uma das bases de sua expectativa de chegar a entregas de 80 mil unidades até 2025. A empresa não detalha os lançamentos por faixa.

"A MRV vai ter uma operação estabilizada, fazendo 40 mil unidades por ano, 40 e poucas mil unidades por ano no Minha Casa, Minha Vida", disse o diretor presidente da incorporadora, Rafael Menin, na teleconferência de resultados do quarto trimestre. A outra metade da meta, segundo ele, virá de outras fontes de financiamento, e de linhas de imóveis com maior valor agregado.

Na Direcional, no primeiro trimestre deste ano, os lançamentos feitos através do Casa Verde Amarela chegaram a R$ 449 milhões, de acordo com cálculos do banco BTG Pactual - a empresa não detalha a quantidade de imóveis lançados em cada faixa. O volume ajudou a Direcional a mais que quadruplicar seus lançamentos em uma base anual.

Há diferenças entre as duas encarnações do programa, mas a faixa de entrada das iniciativas é de R$ 1.800 em renda familiar mensal (faixa 1 do MCMV). A faixa superior de ambos os programas dá financiamento subsidiado a famílias com renda entre R$ 4.000 e R$ 7.000 mensais.

A Direcional informou, em nota, que os projetos da antiga faixa 1 do programa, executados pela companhia, já se encontram concluídos. "Atualmente, no que se refere ao Programa Casa Verde e Amarela, a companhia opera nos grupos 2 e 3, cujos recursos não dependem de recursos do Orçamento do governo."

Procurada, a MRV não se pronunciou.

Contato: matheus.piovesana@estadao.com e idiana.tomazelli@estadao.com

*Colaborou Juliana Estigarríbia
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