Economia & Mercados
23/11/2020 15:18

Vale volta a renovar máximas na Bolsa com estrangeiros e minério de ferro


Por Mariana Durão, com colaboração de Beth Moreira e Niviane Magalhães

Rio, 23/11/2020 - As ações da Vale voltaram a surfar no rali dos preços do minério de ferro, que bateram a casa dos US$ 127 a tonelada. O papel abriu a segunda-feira em nova alta histórica (R$ 70,43), após uma semana agitada pela entrada de estrangeiros na bolsa, a venda de ações pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e um potencial acordo no caso Brumadinho, que acabou adiado. Em meio à pandemia, a mineradora segue como uma das vedetes do mercado, que enxerga forte potencial de valorização da companhia na bolsa pela frente.

Penalizada pela tragédia de Brumadinho, em 25 de janeiro de 2019, a Vale segue negociada com desconto de 40% ante as concorrentes australianas. As recomendações de compra dos papéis levam em conta a perspectiva de redução dessa diferença, à medida em que a brasileira recupere a produção paralisada pelo desastre, avance na agenda ESG (ambiental, social e de governança) e tire da frente incertezas financeiras decorrentes de processos judiciais movidos contra a empresa no caso Brumadinho.

Na semana passada o BTG Pactual calculou em US$ 18 bilhões o impacto nas ações da Vale de danos referentes à percepção de risco de volumes, questões relacionadas à indicadores de sustentabilidade e provisões adicionais. O relatório destaca que mesmo que faça um acordo judicial de US$ 4 bilhões com o Estado de Minas Gerais no caso Brumadinho, isso será apenas parte (25% a 30%) do dano precificado na ação. Ao mesmo tempo, um acordo com as autoridades - agora esperado para 9 de dezembro - seria um catalisador para a Vale virar essa página.

O banco reiterou a recomendação de compra para o papel, dando o recado de que as ações devem continuar se valorizando. Os analistas do BTG calculam que a mineradora brasileira está sendo negociada com múltiplo de 3 vezes o EV/Ebitda previsto para 2021, bem abaixo do nível histórico de 5 a 5,5 vezes o EV/Ebitda.

"A Vale deu um grande passo para retomar a atratividade para os investidores globais ao retomar o pagamento de dividendos, em setembro. A mineradora é estatisticamente barata e apesar das tragédias da Samarco e de Brumadinho hoje é uma empresa mais forte financeiramente, na esteira da recuperação dos preços do minério de ferro após a baixa em 2015", diz John Tumazos, da norte-americana John Tumazos Very Independent Research.

O fim do acordo de acionistas da Vale, em 9 de novembro, liberou para a venda cerca de R$ 68 bilhões em ações - com base no valor do papel naquela data - detidas pelo antigo bloco de controle da mineradora: BNDESPar, Bradespar, Mitsui e Litel - veículo de participação formado por fundos de pensão estatais, em especial a Previ.

A rapidez com que o BNDES fechou as vendas de ações da Vale em "blocktrade" aponta que há apetite pelos papéis da companhia. O fundo norte-americano Capital Group, que já vinha aumentando sua fatia na Vale, foi apontado como a ponta compradora dos papéis do banco de fomento na semana passada. A BlackRock já detém participação relevante na companhia. As projeções otimistas para indicadores financeiros e a retomada dos pagamentos de dividendos deve elevar essa demanda e, ao mesmo tempo, evitar uma venda em massa pelos antigos controladores.

"Excetuando o BNDES, a visão dos acionistas do antigo bloco de controle é extremamente positiva em termos de geração de caixa e fluxo de dividendos futuros da Vale. A visão do investidor de longo prazo é que é o tipo de papel para sentar em cima e colher os frutos, porque o pior já passou", diz uma fonte de um banco estrangeiro que acompanha a movimentação.

Na semana retrasada, quando o minério de ferro já mostrava tendência de alta, a Vale acabou ficando em segundo plano, com as ações em determinados momentos em queda. O analista da Mirae Asset Pedro Galdi explica que isso ocorreu porque aumentou um movimento especulativo nas bolsas de valores com a definição de um governo mais amigável nos EUA e o anúncios sobre a viabilidade de vacinas.

Com a aceleração do preço do minério de ferro na última semana, o movimento comprador voltou, sobretudo na demanda de investidores estrangeiros, uma vez que tem gerado expectativa em relação aos dividendos. Somente neste mês, o minério de ferro já subiu mais de 8%. Nesta segunda-feira foi registrada um leve recuo, impulsionado pela realização de lucros após cinco sessões seguidas em alta. Ainda assim, a commodity se manteve em US$ 127,24 a tonelada.

O impulso ainda é visto em meio a esperança de uma forte demanda na China devido a uma perspectiva econômica mais favorável. "O ânimo no setor de commodities permanece forte, após dados econômicos na China positivos", disse o banco ANZ na última quinta-feira. Apesar das preocupações com o aumento das restrições no setor imobiliário, o crescimento do investimento imobiliário na China acelerou em outubro, acrescentou a instituição.

O analista da Ativa Investimentos, Ilan Arbetman vê a demanda por minério aquecida pelo ramp-up industrial chinês, que considera capaz de suportar os patamares atuais de preços da matéria-prima - o mais alto dos últimos seis anos - ao menos até a primeira metade de 2021. A partir daí pode haver uma acomodação, com a retomada de capacidade produtiva pela Vale, que busca atingir as 400 milhões de toneladas até 2022. A despeito disso, ele vê espaço para a expansão da base de acionistas da empresa frente ao desconto dados ao papel hoje.

"A Vale havia mudado sua política de dividendos, antes do colapso de Brumadinho. A política está mantida e deve pagar um dividendo com yield na faixa de 8% a 10%. Com o preço do minério em alta e o dólar em alta terá mais resultado. Então nominalmente o dividendo deve ser maior, podendo tocar o teto", apontou Galdi.

Para Tasso Vasconcellos, analista da Eleven Financial Research, mesmo que se confirme a esperada correção dos preços do minério em 2021 a Vale deve compensar isso com mais produção. Ele lembra que a entrada recorde de capital estrangeiro na B3 também favorece blue chips como Petrobras e Vale.

Contato: mariana.durao@estadao.com, niviane.magalhaes@estadao.com e beth.moreira@estadao.com
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