Agronegócios
22/04/2019 10:15

Perspectiva: negociações EUA/China e clima nas lavouras norte-americanas devem orientar CBOT


Por Leticia Pakulski, Tomas Okuda e Gustavo Porto

São Paulo, 22/04/2019 - Investidores do mercado futuro de soja, milho e trigo na Bolsa de Chicago (CBOT) devem começar a semana atentos às negociações comerciais entre Estados Unidos e China e às condições climáticas em território norte-americano. Na sexta-feira, o mercado permaneceu fechado em virtude do feriado de Sexta-feira Santa.

Os futuros de soja terminaram em alta no fim da semana passada. O vencimento julho subiu 1,75 cent (0,20%), para US$ 8,9425 por bushel. Segundo o consultor Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, o mercado fechou a semana passada em um tom mais calmo após perdas recentes. "Os números de exportação norte-americanos vieram fracos mas dentro da expectativa, e os sinais de que a temperatura segue baixa nos EUA acabaram ajudando", disse. "Está um clima muito frio, o que vem afetando os números de plantio no sul do cinturão. Aparentemente não tem quase nada de soja plantada."

O Departamento de Agricultura do país (USDA) disse que exportadores venderam 382.100 toneladas de soja da safra 2018/19 na semana encerrada em 11 de abril. O volume representa alta de 41% ante a semana anterior, mas queda de 46% em relação à média das quatro semanas anteriores. Para a safra 2019/20, foram vendidas 21.100 toneladas. As vendas totais, de 403.200 toneladas, vieram mais próximas do piso das estimativas de analistas, de 350 mil toneladas.

Quanto ao clima nos EUA, para os próximos dias, são esperadas chuvas no leste do cinturão, em Iowa, Kentucky, Tennessee, Arkansas, norte do Alabama e noroeste da Geórgia, centro-oeste do Kansas, Nebraska, grande parte de Dakota do Sul, norte de Dakota do Norte, Texas, Oklahoma, Louisiana, Mississippi, Alabama, grande parte da Geórgia e Missouri, conforme boletim meteorológico da corretora Labhoro.

Em boletim, a IEG FNP assinalou que a alta de quinta-feira foi motivada por compras técnicas após os preços caírem à mínima desde novembro de 2018 na véspera. Conforme a consultoria, a cobertura de posições diante do fim de semana prolongado por feriado ofereceu suporte aos futuros.

Em boletim semanal, a Labhoro apontou que as cotações foram pressionadas ao longo da semana passada "pela total ausência da China, grande oferta no mercado mundial e pelas posições extremamente vendidas dos fundos". A Labhoro ressaltou que, no contexto da guerra comercial, foram divulgadas novas datas para encontros entre EUA e China. O representante comercial dos EUA Robert Lighthizer viaja a Pequim no fim de abril, e o vice-premiê chinês, Liu He, deve ir a Washington em 6 de maio, fato que retarda a possibilidade de acordo nas próximas 3 a 4 semanas. "Com estes novos compromissos agendados, especialistas estimam que as assinaturas do acordo devam ser finalmente realizadas no final de maio ou início de junho", disse a Labhoro.

O milho terminou praticamente estável na quinta-feira na CBOT. Dados de vendas externas dos Estados Unidos vieram acima da expectativa do mercado e deram algum suporte às cotações, mas esse fator foi contrabalançado pela queda do trigo e pelo fortalecimento do dólar ante as principais moedas. O vencimento julho do milho ganhou 0,25 cent (0,07%) e terminou em US$ 3,6725 por bushel. De acordo com o USDA, exportadores venderam 947.600 toneladas de milho da safra 2018/19 na semana encerrada em 11 de abril. O volume representa aumento de 73% ante a semana anterior e de 33% em relação à média das quatro semanas anteriores. Para a safra 2019/20, foram vendidas 18.400 toneladas. A soma das duas safras, de 966 mil toneladas, veio acima do teto das estimativas de analistas, de 900 mil toneladas.

Os futuros de trigo negociados em Chicago fecharam em baixa nesta quinta-feira, refletindo condições favoráveis no norte das Grandes Planícies dos Estados Unidos. De acordo com a empresa de meteorologia DTN, o clima na região deve ficar mais seco do que o normal por pelo menos sete dias, permitindo o início dos trabalhos de campo para o plantio da safra de primavera. No sul das Grandes Planícies, a umidade do solo continua adequada para o desenvolvimento da safra de inverno, segundo a DTN. O fortalecimento do dólar no mercado internacional também pressionou as cotações. Na CBOT, o vencimento julho do trigo recuou 2,00 cents (0,44%) e fechou em US$ 4,4825 por bushel.

Café: contratos caem 0,05% na semana
Os contratos futuros de café arábica apresentaram pequena desvalorização de cerca de 0,05% (5 pontos) na semana passada na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), que foi curta por causa do feriado na sexta-feira, base vencimento julho de 2019. As cotações encerraram na quinta-feira (18), a 92,90 centavos de dólar por libra-peso ante 92,95 no dia 12. No período, os contratos marcaram máxima de 94,20 cents (segunda, dia 15) e mínima de 89 cents (quarta, dia 17).

O Escritório Carvalhaes, tradicional corretora de Santos (SP), destaca em boletim semanal que a semana passada se encerrou mais cedo em razão do feriado da Sexta-Feira Santa, com o mercado físico de café calmo, praticamente paralisado. Segundo Carvalhaes, não adianta procurar explicação nos fundamentos de mercado para uma queda de 345 pontos na quarta e uma alta de 315 pontos no dia seguinte. "Nada mudou, apenas o ambiente é bastante propício para os fundos e especuladores em Nova York", comenta Carvalhaes. "Eles estão focados apenas nos ganhos de curto prazo. Não plantam nem industrializam café", acrescenta.

Conforme a corretora, os atuais preços não interessam para ninguém que trabalhe com o mercado físico. "Reclamam os produtores, que arcam com os prejuízos ao vender a preços abaixo dos custos de produção; os exportadores que vêm suas margens estreitarem e enfrentam muitas dificuldades para comprar café nos volumes que necessitam, e também os torradores com a disputa de preços nos pontos de venda que destroem suas margens", diz.

A colheita já começou em diversas regiões produtoras do Brasil. A primeira florada para esta safra aconteceu precocemente em agosto de 2018 e muitas lavouras tiveram até cinco floradas. Com o calor deste verão, mais a falta de chuvas no fim de dezembro e em janeiro para depois, em fevereiro, acontecerem boas chuvas, as plantas apresentam diversos estágios de maturação dos frutos. Desde frutos bem secos já caindo na terra, até frutos bastante verdes e alguns "chumbinhos". Essa heterogeneidade está obrigando os cafeicultores a anteciparem o início dos trabalhos de colheita. "Já dão como certo que terão uma safra de pior qualidade por causa dos diversos estágios de maturação. Levará ainda algum tempo para sabermos a renda média desta safra atípica", estima Carvalhaes.

Açúcar: mercado deve buscar nível acima de 13 cents
O mercado futuro do açúcar demerara na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) tenta romper a resistência em torno de 13 cents por libra-peso no contrato julho, após a disparada na sessão de quinta-feira (18), a última da semana passada. Com ajuda do etanol brasileiro, que bateu recordes de preços no período, os contratos subiram mais de 3% no último pregão. O julho avançou 45 pontos, ou 3,59%, para 12,98 cents, com máxima de 13,01 cents. O primeiro suporte está em 12,52 cents e a há uma resistência em 13,03 cents.

Michael McDougall, da Paragon Global Markets, avalia que com a disparada dos preços do etanol no Brasil o mercado abandonou, ao menos por enquanto, a ideia de que o mix de destino da cana-de-açúcar de usinas do Centro-Sul do Brasil ficaria menos alcooleiro na safra 2019/2020 e que se produziria mais açúcar. "Essa ideia agora está suspensa", afirmou. "Se pensarmos que a colheita avançará e a demanda será atingida pelos preços mais altos, o preço do etanol deve se ajustar e se acalmar. Se isso não acontecer, há sempre o risco de o governo começar a ficar nervoso, embora não seja claro o que poderia ser feito".

Contato: leticia.pakulski@estadao.com, tomas.okuda@estadao.com e gustavo.porto@estadao.com
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