Agronegócios
24/12/2022 15:19

Talibã proíbe grupos não governamentais de empregarem mulheres no Afeganistão


Cabul, Afeganistão (AP), 24/12/2022 - O governo do Talibã ordenou, neste sábado, 24, que todos os grupos não-governamentais estrangeiros e domésticos no Afeganistão suspendam o emprego de mulheres, supostamente porque algumas funcionárias não usavam o lenço islâmico corretamente. A proibição foi a mais recente medida restritiva dos novos governantes do Afeganistão contra os direitos e as liberdades das mulheres.

O anúncio ocorre poucos dias após o Talibã proibir estudantes do sexo feminino de frequentar universidades em todo o país. De lá para cá, as mulheres afegãs se manifestaram nas principais cidades contra a proibição, um raro sinal de protesto desde que o Talibã tomou o poder no ano passado. A decisão também causou indignação e oposição no Afeganistão e em outros lugares.

A ordem veio em uma carta do ministro da Economia, Qari Din Mohammed Hanif, que disse que qualquer Organização Não Governamental (ONG) que não cumprir a ordem terá sua licença de operação revogada no Afeganistão. O porta-voz do ministério, Abdul Rahman Habib, confirmou o conteúdo da carta à Associated Press.

O ministério disse ter recebido "sérias queixas" sobre funcionárias de ONGs que não usavam o véu "correto", ou hijab. Não ficou claro se a ordem se aplica a todas as mulheres ou apenas às mulheres afegãs que trabalham nas ONGs.

Mais detalhes não estavam disponíveis, em meio a preocupações de que a mais recente proibição do Talibã poderia incentivar uma proibição geral de mulheres afegãs saírem de casa.

"É um anúncio de partir o coração", disse Maliha Niazai, instrutora de uma ONG que ensina jovens sobre questões como violência de gênero. "Não somos seres humanos? Por que eles estão nos tratando com essa crueldade?".

A jovem de 25 anos, que trabalha na Y-Peer Afeganistão e mora em Cabul, disse que seu trabalho é importante porque ela serve seu país e é a única pessoa que sustenta sua família. “Os oficiais nos apoiarão após este anúncio? Se não, então por que eles estão roubando refeições de nossas bocas?”, perguntou.

Outra trabalhadora de ONG, uma jovem de 24 anos de Jalalabad que trabalha no Conselho Norueguês para Refugiados, disse que foi “o pior momento da minha vida”. "O trabalho me dá mais do que... viver, é uma representação de todos os esforços que fiz", disse, em anonimato, por temer pela própria segurança.

Também no sábado, as forças de segurança do Talibã usaram um canhão de água para dispersar mulheres que protestavam contra a proibição de educação universitária na cidade de Herat, disseram testemunhas.

De acordo com as testemunhas, cerca de duas dúzias de mulheres estavam indo para a casa do governador da província de Herat no sábado para protestar contra a proibição - muitas gritavam: “Educação é nosso direito” - quando foram rechaçadas pelas forças de segurança que dispararam o canhão de água.

O vídeo compartilhado com a AP mostra as mulheres gritando e se escondendo em uma rua lateral para escapar do canhão de água. Eles então retomam seu protesto, com gritos de “Vergonhoso!”

Uma das organizadoras do protesto, Maryam, disse que entre 100 e 150 mulheres participaram do protesto. Elas moviam-se em pequenos grupos de diferentes partes da cidade em direção a um ponto de encontro central. Ela não deu o sobrenome por medo de represálias.

“Havia segurança em todas as ruas, em todas as praças, veículos blindados e homens armados”, disse ela. “Quando começamos nosso protesto, no Parque Tariqi, o Talibã pegou galhos das árvores e nos espancou. Mas continuamos nosso protesto. Eles aumentaram sua presença de segurança. Por volta das 11h, eles trouxeram o canhão de água.”

Um porta-voz do governador da província, Hamidullah Mutawakil, afirmou que havia apenas quatro ou cinco manifestantes. “Eles não tinham agenda, só vieram aqui para fazer um filme”, disse, sem mencionar a violência contra as mulheres ou o uso do canhão de água.

Houve ampla condenação internacional da proibição de universidades, inclusive de países de maioria muçulmana, como Arábia Saudita, Turquia, Emirados Árabes Unidos e Catar, bem como advertências dos Estados Unidos e do grupo G-7 de grandes nações industrializadas que a política terá consequências para o Talibã.

Um funcionário do governo talibã, ministro do Ensino Superior Nida Mohammad Nadim, falou sobre a proibição pela primeira vez na quinta-feira, 22, em entrevista à televisão estatal afegã.

Ele disse que a proibição era necessária para evitar a mistura de gêneros nas universidades e porque algumas matérias ensinadas violam os princípios do Islã. Ele também acrescentou que a proibição estaria em vigor até novo aviso.

Apesar de inicialmente prometer um governo mais moderado em respeito aos direitos das mulheres e das minorias, o Talibã implementou amplamente sua interpretação da lei islâmica, ou Sharia, desde que assumiu o poder em agosto de 2021.

Eles baniram as meninas do ensino fundamental e médio - e agora das universidades - e também proibiram as mulheres da maioria dos campos de trabalho. As mulheres também receberam ordens de usar roupas da cabeça aos pés em público e foram banidas de parques e academias.

A sociedade afegã, embora amplamente tradicional, abraçou a educação de meninas e mulheres nas últimas duas décadas, quando o governo era apoiado pelos Estados Unidos.

Na cidade de Quetta, no sudoeste do Paquistão, dezenas de estudantes refugiadas afegãs protestaram no sábado contra a proibição do ensino superior feminino em sua terra natal e exigiram a reabertura imediata dos campi para mulheres.

Uma delas, Bibi Haseena, leu um poema que retratava a situação sombria das meninas afegãs em busca de educação. Ela disse que estava infeliz por se formar fora de seu país, quando centenas de milhares de suas irmãs afegãs estavam sendo privadas de educação.

Fonte: Associated Press
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