Agronegócios
04/06/2018 10:10

Perspectiva: clima e disputa comercial entre EUA e China devem movimentar CBOT


São Paulo, 04/06/2018 - O mercado futuro de soja, milho e trigo na Bolsa de Chicago (CBOT) começa a semana com as atenções voltadas aos desdobramentos das disputas comerciais entre Estados Unidos e China e ao clima para o plantio e desenvolvimento da safra 2018/19 dos EUA. Investidores acompanham ainda as condições climáticas em outras áreas produtoras de trigo, como o Mar Negro e a Austrália. A demanda por grãos norte-americanos também segue no radar.

Na sexta-feira, a soja terminou em alta. O vencimento julho subiu 2,75 cents (0,27%) e fechou a US$ 10,2125/bushel. Na semana, a soja acumulou baixa de 1,94%. Os vencimentos oscilaram entre perdas e ganhos na sexta-feira, mas acabaram se firmando em território positivo no fim da sessão. Segundo o analista Matheus Gomes Pereira, da ARC Mercosul, o mercado segue avaliando as negociações comerciais entre EUA e China, principalmente no que tange à situação dos produtos agrícolas. Representantes norte-americanos e chineses estão negociando formas de garantir que Pequim mantenha a recente promessa de comprar mais produtos nas áreas agrícola e de energia dos EUA, com Washington insistindo em fechar contratos de longo prazo que a China está relutante em aceitar, segundo a Dow Jones Newswires.

"O mercado está bem atento a novidades sobre a guerra comercial, aos próximos passos dessas conversas", disse Pereira. O analista lembrou o anúncio dos EUA na semana passada de uma tarifa de 25% sobre US$ 50 bilhões em bens chineses importados. No comunicado, a Casa Branca aponta que a lista final de produtos chineses que serão afetados pela tarifa será anunciada até 15 de junho "e as tarifas serão impostas sobre essas importações logo em seguida". Parte do mercado aposta que se trata de uma pressão para fazer avançar a negociação entre os dois países rapidamente, conforme o analista. "O cenário da última conversa em Washington foi otimista." Entretanto, a China disse neste domingo que não elevará as suas compras de produtos norte-americanos se o presidente dos EUA, Donald Trump, for adiante com a sua ameaça de taxar bilhões de dólares em importações chinesas. A advertência da China veio depois que delegações lideradas pelo secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross, e o principal funcionário econômico da China, o vice-primeiro-ministro Liu He, encerraram uma reunião sobre a promessa de Pequim de reduzir seu superávit comercial com os EUA. Ross disse no início do evento que discutiu os produtos específicos que a China poderia comprar, mas as negociações terminaram sem declaração conjunta.

O clima nos EUA também direciona o mercado. As temperaturas no Meio-Oeste e nas Planícies devem subir depois de um dos meses de maio mais quentes da história, enquanto as previsões mostravam chuvas limitadas em alguns pontos de cultivo do cinturão. Segundo Pereira, uma massa de ar quente de alta pressão atinge Illinois, Indiana e Ohio, o que evita chuvas nessas regiões. "Isso é apenas um ponto de alerta, pode se tornar preocupante se essa condição perdurar até meados de junho." Já para o oeste e noroeste do cinturão, a previsão era de chuvas regulares e temperaturas dentro do normal, condições que permitem "um progresso de plantio excelente e uma germinação saudável", segundo o analista. Entretanto, as temperaturas subirão entre 5° e 8° Celsius em toda a região central dos EUA. "Temperatura alta só é um problema quando as chuvas são escassas", ponderou o analista. "Mas a possibilidade de falta de chuva em Illinois, Indiana e Ohio fomenta a especulação. Se essa situação for confirmada, e na segunda-feira continuarmos vendo mapas sem chuvas para essas regiões e com temperaturas altas, a preocupação começa a aumentar." Para o analista, traders devem continuar monitorando o clima nos EUA nesta semana.

A demanda também segue sendo monitorada. Conforme o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), exportadores do país venderam 273,4 mil toneladas de soja da safra 2017/18 na semana encerrada em 24 de maio. O resultado representa aumento em relação à semana anterior, quando cancelamentos superaram as vendas em 139,5 mil toneladas de soja, e incremento de 31% ante a média das quatro semanas anteriores. Para a safra 2018/19, foram vendidas 771,6 mil toneladas com boa parte do volume destinada à China (438,0 mil t). Para Pereira, embora o resultado represente uma melhora em relação à semana anterior, os compromissos de venda da safra 2017/18 foram os mais baixos para a semana em questão desde 2014. "O ano comercial dos EUA 2017/18 só acaba no fim de agosto. Ainda se olha bastante para as exportações deste ano, e o número não foi satisfatório." Ele destacou que as compras da China da safra 2018/19 são um sinal positivo, mas que precisam ser reportados novos volumes negociados para confirmar uma tendência de mudança no posicionamento chinês sobre a oleaginosa norte-americana.

O mercado também continua atento às consequências da greve dos caminhoneiros no Brasil. Na sexta-feira, o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) divulgou que as exportações de soja em grão do Brasil somaram 12,353 milhões de toneladas em maio. Na comparação com igual período de 2017, quando foram embarcados 10,959 milhões de toneladas, o incremento chega a 12,7%. Na comparação com abril, quando foram embarcadas 10,259 milhões de toneladas, as exportações subiram 20,4% em volume. Conforme Pereira, mesmo com a greve dos caminhoneiros, exportadores de soja no Brasil estavam em uma situação melhor do que os de proteína animal devido aos estoques nos terminais. "Tinha bastante soja disponível em porto, com armazéns portuários bastante cheios. Toda a safra já foi praticamente escoada das regiões centrais do País", disse. "O que parece é que boa parte dos grevistas retomou as atividades normais, mas demora um pouco para o fluxo ser normalizado."

Quanto ao milho, os futuros fecharam em queda na sexta-feira na CBOT, pressionados pela preocupação com a tarifa imposta pelos Estados Unidos sobre importações de aço e alumínio do México. Traders temem que o país possa retaliar reduzindo a demanda pelo cereal norte-americano. O vencimento julho caiu 2,50 cents (0,63%) e terminou a US$ 3,9150/bushel. Na semana, o recuo foi de 3,57%. Exportadores dos EUA venderam 993,1 mil toneladas de milho da safra 2017/18 na semana encerrada em 24 de maio. O resultado representa aumento de 16% em relação a semana anterior e de 12% ante a média das quatro semanas anteriores. Para a safra 2018/19, foram vendidas 149,3 mil toneladas. O México foi um dos maiores compradores, tanto da safra 2017/18 como da 2018/19. O clima mais quente nos pontos de cultivo dos EUA limitou as perdas. Segundo o serviço meteorológico DTN, está previsto calor extremo e clima seco em parte do Meio-Oeste. Ao longo da semana, as condições voltam a ficar mais favoráveis, mas na sequência é esperada outra onda de calor no cinturão.

O trigo terminou em baixa na sexta-feira na CBOT, pressionados pelo fraco desempenho das exportações semanais norte-americanas. Exportadores dos EUA venderam 29,5 mil toneladas de trigo da safra 2017/18 na semana encerrada em 24 de maio, segundo o Departamento de Agricultura do país (USDA). O resultado representa queda de 74% em relação ao desempenho da semana anterior e o menor volume do ano comercial. Para safra 2018/2019, foram vendidos 270,9 mil toneladas. Apesar da demanda mais fraca, as condições climáticas para o cultivo do cereal nos principais produtores continuam no radar do mercado, com adversidades climáticas nas Grandes Planícies dos EUA, no Mar Negro e na Austrália. Na CBOT, o trigo para julho recuou 3 cents (0,57%) e fechou em US$ 5,2325 por bushel. A queda na semana foi de 3,64%.

Café: contratos sobem 1,95% na semana
Os contratos futuros de café arábica apresentaram valorização de cerca de 1,95% (alta de 235 pontos) na semana passada na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), base julho de 2018. As cotações encerraram na sexta-feira (1º), a 122,75 centavos de dólar por libra-peso. No período, os contratos marcaram máxima de 124,95 cents (sexta, dia 1º) e mínima de 119,10 cents (segunda, dia 25).

O Escritório Carvalhaes, tradicional corretora de Santos (SP), cujo boletim semanal completa 85 anos de existência, destaca que a longa e preocupante greve dos caminhoneiros terminou parcialmente na última quarta-feira (30). Na sexta-feira, "começaram a se normalizar o mercado de café e os serviços de retirada nas fazendas dos lotes vendidos nos dias anteriores à greve". Na quinta-feira (31) terminou oficialmente a greve no Porto de Santos, responsável por aproximadamente 85% das exportações brasileiras de café, e na sexta os serviços de embarque foram retomados. Já o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) estimou que no período de greve os exportadores brasileiros foram impedidos de colocar a bordo aproximadamente 900 mil sacas do grão. Essas 900 mil sacas não deixarão de ser embarcadas, mas chegarão com bastante atraso ao seu destino.

Segundo Carvalhaes, com a greve nacional dos caminhoneiros, mais o feriado na segunda-feira (28) nos EUA e em Londres, e no Brasil na quinta (31), na prática o mercado físico de café só operou na sexta. "O mercado foi comprador e saíram alguns negócios", diz Carvalhaes. Na reta final da entressafra, são poucos os lotes à venda. "Apesar da colheita da nova safra estar atrasada (de arábica e de conilon), começam a aparecer lotes de café 2018/2019 no mercado", informa.

Açúcar: mercado deve continuar acima de 12,50 cents
O mercado futuro do açúcar demerara na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) tenta permanecer acima do suporte de 12,50 cents por libra-peso no contrato julho. Na sexta-feira (1), o mercado recuou pressionado pelo dólar em alta no Brasil, por realizações na máxima de 12,97 cents e pela insegurança com a política de preços da Petrobras após a demissão do então presidente da estatal, Pedro Parente. A possível volta do controle de preços da gasolina no País é sempre negativa para o etanol, pode limitar a oferta do biocombustível e, consequentemente, aumentar a do açúcar.

No fechamento, o julho perdeu 27 pontos (2,11%), a 12,52 cents. Mesmo assim, o contrato ganhou 0,48% na semana e avançou 6,8% no período de um mês. Em 2018, ainda há um recuo de 16,78%. A recuperação no açúcar, com mais força até meados da última semana, foi ratificada pelo relatório da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC, na sigla em inglês) com posicionamento de traders no período encerrado na terça-feira passada (29). O documento mostrou um cenário com fundos reduzindo em 33% as apostas na queda dos preços do açúcar na ICE. Fundos e especuladores diminuíram/aumentaram a posição líquida vendida de 98.896 de lotes, no dia 22 de maio, para um saldo vendido de 66.066 lotes em 29 de maio.

(Leticia Pakulski, Tomas Okuda e Gustavo Porto - leticia.pakulski@estadao.com, tomas.okuda@estadao.com e gustavo.porto@estadao.com)
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