Agronegócios
16/01/2020 11:19

Commerzbank: persiste ceticismo quanto à compra de produtos agrícolas dos EUA pela China


Por Isadora Duarte

São Paulo, 16/01/2020 - O ceticismo do mercado quanto à efetivação das compras de produtos agrícolas pela China, acordadas na fase 1 do pacto com os Estados Unidos, continua, na avaliação do banco Commerzbank. "Representantes chineses apontaram, por exemplo, que as compras seriam baseadas nas condições do mercado. Se as condições de mercado significam que as importações dos EUA não fazem sentido - por exemplo, porque os preços dos EUA são muito altos pelos padrões internacionais - as compras não serão feitas, em outras palavras", comenta o analista de commodities agrícolas do banco, Carsten Fritsch, em comentário diário enviado a clientes.

O banco considera que o "ceticismo considerável" dos investidores pode ser observado por meio do desempenho baixista das commodities, como soja, milho, trigo e algodão, após a assinatura do documento. Traders ainda têm dúvidas quanto ao compromisso dos chineses em realmente adquirir os produtos norte-americanos, em virtude, também do documento não especificar como as aquisições serão feitas. "Isso não é consistente com o compromisso de comprar mercadorias que excedam o nível de 2017 (US$ 24 bilhões), 2020 (US$ 12,5 bilhões) e 2021 (US$ 19,5 bilhões)", acrescenta Fritsch.

Para o Commerzbank, outro fator que pode colocar em xeque o compromisso firmado entre os dois países, é a manutenção das tarifas retaliatórias sobre muitos produtos agrícolas norte-americanos. Esse fator, segundo Fritsch, é desfavorável para o incremento significativo das importações chinesas. "Mesmo que a China compre as quantidades acordadas, isso inevitavelmente levanta a questão de saber se o país precisa de quantidades tão grandes de produtos agrícolas dos EUA", pondera o analista, ressaltando que a demanda chinesa por commodities agrícolas dificilmente aumentou tão acentuadamente desde 2017.

Uma possibilidade, segundo o relatório, seria a China reduzir expressivamente suas compras de outros fornecedores como o Brasil. Hipótese esta que não estaria na intenção do país, segundo fontes chinesas consultadas pela instituição financeira. Caso não reduza a importação de outros players, a China aumenta o ricos de sobrecarregar a oferta doméstica e, assim, derrubar a rentabilidade do setor agrícola. "A China dificilmente permitirá que isso aconteça. O ceticismo entre os participantes do mercado quanto ao acordo comercial é, portanto, justificado", conclui Fritsch.

Contato: isadora.duarte@estadao.com
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