Por Isadora Duarte
São Paulo, 19/04/2021 - Após o governo argentino adotar medidas para controlar as exportações de carne bovina, o setor de trigo vê a possibilidade de políticas semelhantes serem adotadas para restringir as exportações do cereal. "Com o atual governo, lamentavelmente sempre existe a possibilidade de aumentos das retenciones (tarifa local sobre as vendas externas) ou da volta de cotas para exportação, entre outras. Porém, hoje, não sabemos nada com certeza de novidades a esse respeito", disse o presidente da Associação Argentina de Trigo (Argentrigo), Miguel Cané ao Broadcast Agro. A medida de limitar o volume de trigo autorizado a ser exportado já foi adotada anteriormente durante a gestão de Cristina Kirchner.
Preocupação semelhante foi expressa também pelas Confederações Rurais Argentinas (CRA), que reúne produtores de diversas culturas do País. O vice-presidente da CRA, Gabriel de Raedemaeker, afirmou à reportagem que é "muito provável" que essas medidas "intervencionistas" do governo do presidente Alberto Fernández sejam mais "intensas e continuem no milho, no trigo ou no leite".
Atualmente, sobre as vendas externas de trigo, são aplicadas retenciones de 12%. A Argentina exporta em média de 11 milhões a 14 milhões de toneladas do produto por safra, considerando os embarques das temporadas 2019/20 e 2020/21. "No momento, o que ocorre é que o setor de exportação está pouco ativo para não superaquecer o mercado, considerando que não há um grande saldo exportável disponível no país", comentou Cané, da Argentrigo.
Apesar do volume limitado para exportação em virtude da quebra na produção do ciclo 2020/21, Cané garante que a comercialização do cereal argentino à indústria moageira brasileira está assegurada. "Isso não significa necessariamente que falte trigo para exportar para o Brasil. Há negócios feitos que estão sendo embarcados", acrescentou. A ponderação do dirigente argentino deve-se ao fato de o Brasil depender do cereal do país vizinho para moagem de farinha e produção de derivados.
A Argentina é o principal fornecedor de trigo para o Brasil, respondendo por 85% das importações anuais. Atualmente, cerca de 60% do trigo processado pelos moinhos brasileiros é importado, volume que fica entre 6 milhões e 7 milhões de toneladas por ano.
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