Política
19/06/2020 16:30

Pará segue com quadro mais adverso no combate à Covid-19 e CO vira pior região, mostra CLP


Por Thaís Barcellos

São Paulo, 19/06/2020 - O Pará se mantém como o Estado brasileiro com pior quadro no combate ao coronavírus, de acordo com o Ranking Covid-19 dos Estados, elaborado pelo Centro de Liderança Pública (CLP) e obtido com exclusividade pelo Broadcast, cuja a última atualização ocorreu na quarta-feira (17). Espírito Santo e Distrito Federal escalaram posições nas últimas semanas e agora estão em segundo e terceiro lugares, respectivamente, entre as 27 unidades federativas. Completando a lista de cinco Estados com a situação mais desfavorável no enfrentamento da Covid-19, aparecem Amazonas e Roraima.

No ranking, criado para avaliar comparativamente como as ações dos Estados têm se refletido nos números sobre a doença, quanto maior a nota normalizada e, portanto, a classificação, pior é a avaliação no combate à Covid-19. Em contrapartida, Santa Catarina segue com a melhor situação no enfrentamento do novo coronavírus, seguida, desta vez, por Rio Grande do Sul, Maranhão, Acre e Paraíba.



Para tal classificação, o CLP usa a metodologia do Ranking de Competitividade dos Estados, que vai para sua nona edição este ano, para sistematizar nove indicadores semanalmente, analisando tanto o nível quanto à tendência da doença nos Estados e no País: a proporção de casos confirmados, a evolução dos casos (em escala logarítmica) e a taxa de mortalidade de Covid-19, conforme números do SUS, assim como os mesmos indicadores para Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), fornecidos pela Fiocruz, além do Índice de Transparência da Covid-19, da Open Knowledge Brasil, e de dados de isolamento social, do Google. Desses, os dados oficiais de coronavírus e de SRAG, sintoma mais grave da doença e tratado como indicio de subnotificação, têm maior peso.

Agora que os casos de coronavírus no País parecem ter atingido o pico, o Head de Inteligência Técnica do CLP, Daniel Duque, aponta que os números de coronavírus respondem melhor às políticas públicas adotadas para contê-lo. "Antes, os indicadores seguiam mais as tendências epidemiológicas, agora que a doença está mais generalizada pelo País, é possível avaliar melhor os efeitos das políticas adotadas pelos Estados. Aqueles que estão fazendo um bom trabalho têm indicadores melhores, já aqueles que afrouxaram precipitadamente o isolamento social, por exemplo, mostram persistência nos números da doença."

Atualmente, o Brasil tem 990.164 casos confirmados de Covid-19. Os números são do boletim das 13h desta sexta-feira (19) do consórcio de veículos de imprensa formado por O Estado de S. Paulo, O Globo, Extra, G1, Folha de S. Paulo, UOL, a partir das atualizações das secretarias estaduais de Saúde. Ao todo, são 48.029 o número de óbitos pela doença no País. Até o dia 17, o número de brasileiros infectados por Covid-19 por milhão de habitantes (pmh) era de 5.678 - menos do que o dobro do número há duas semanas, de 3.120. No período, a taxa de mortalidade pela doença caiu de 3,94% para 3,55%. Segundo as projeções do CLP, com base na evolução dos casos nos Estados, o Brasil pode chegar a mais de 75 mil mortes no dia 3 de julho.

No caso do Pará, apesar de se manter com o pior quadro pela terceira semana consecutiva, a tendência tem se mostrado mais favorável recentemente, com a redução da evolução de casos, de 0,46 para 0,26, e da taxa de mortalidade, de 7,77% para 6,15%, diz Duque. Mas, como atingiu uma situação muito grave de contágio da doença, sendo o quarto Estado com maior número de casos do País, demora para alcançar um nível mais razoável. "Há chance do Pará deixar o primeiro lugar nas duas próximas semanas."

Por outro lado, o Espírito Santo e DF são encaixados pelo CLP entre as localidades que podem ter iniciado a reabertura econômica cedo demais. O governo capixaba autorizou o funcionamento de atividades não-essenciais a partir do dia 11 de maio. Cerca de uma semana depois, na primeira divulgação do ranking, o Estado do Sudeste estava na 13ª colocação. Embora taxa de mortalidade e mortalidade e número de casos por milhão de habitantes (pmh) tenham andado em linha com a média nacional desde então, a mortalidade por SRAG pulou de cerca de 18% para 40,32%, alcançando a marca de maior do País, ainda que o número de casos por milhão de habitantes (pmh) da síndrome seja baixo (15,43 contra 29,91 no Brasil). Agora, o governo ameaça implementar lockdown no Estado, se a ocupação de leitos de UTI no território capixaba alcançar 91% - hoje, está em torno de 83%.

No DF, o relaxamento começou no dia 18 de maio. Na semana finalizada no dia 20/05, o Estado estava na 15ª posição do ranking, descendo para 20º na semana seguinte e, desde então, em escalada: de 19º para 12º e, agora, para 3º, com a quinta maior evolução de casos do País. No momento da reabertura, o DF estava exatamente na média nacional de casos de Covid-19 por milhão de habitantes (pmh), de cerca de 1.350, mas, um mês depois, mais do que quadruplicou os casos, para cerca de 7.350, superando a média brasileira, de 5.678. A taxa de mortalidade, porém, se mantém baixa: 1,34%.

Regiões

Assim, o Centro-Oeste virou "de repente" a região do Brasil com a pior nota no combate ao coronavírus, superando, em duas semanas, Sudeste (2º), Norte (3º) e Nordeste (4º). Mato Grosso (8º), Mato Grosso do Sul (9º) e Goiás (16º) também dão sua contribuição, embora ainda estejam abaixo da média nacional de casos de coronavírus e de taxa de mortalidade pela doença.

Mas o alerta é que vem evoluindo rapidamente. Goiás, com a maior taxa de evolução de casos de Covid-19 do País nesta semana em relação à anterior, mais que dobrou o número de infectados por milhão de habitantes (pmh) em 14 dias, de cerca de 500 para em torno de 1200. No Mato Grosso, segundo em evolução, os casos quase triplicaram, de cerca de 650 para 1.600 por milhão de habitantes (pmh). Já Mato Grosso do Sul, atualmente com a menor taxa de mortalidade por Covid-19 do País (0,91%), mas o quarto em evolução de casos, alcançou 1.150 infectados por milhão de habitantes, de cerca de 500 há duas semanas.

Esses três Estados do Centro-Oeste também têm o pior desempenho no isolamento: Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, na ordem. "Temos observado que, quando o isolamento está baixando e a evolução em escala logarítmica está alta em comparação aos demais, provavelmente o Estado vai piorar na perspectiva de casos do Covid-19 ou de SRAG na semana seguinte. Foi o que aconteceu com o Espírito Santo e com o DF, e a tendência é de que Mato Grosso e Mato Grosso do Sul estejam entre os piores Estados do País nas próximas semanas, seguindo a mesma lógica", explica José Henrique Nascimento, Head de Competitividade do CLP.

"Mesmo Goiás possivelmente deve ir para o Top 10. A questão é que o número de casos de Goiás ainda é baixo em relação à população, a mortalidade não está alta, mas a evolução está. Nosso ranking, avalia a evolução e o nível. Conforme, a tendência vai ficando alta, o nível aumenta mais do que os demais. Então, a tendência é que Goiás também faça essa infeliz ascensão", completa Duque.

O que dizem os Estados

A secretaria de Saúde do Espírito Santo argumenta que não considera adequada a metodologia do ranking para avaliar a qualidade das políticas públicas de enfrentamento à pandemia. "A Sesa não entende como adequado comparar estados que se encontram em estágios avançados, como é o caso do Espírito Santo - que foi um dos primeiros estados brasileiros a diagnosticar casos de Covid-19, com estados que tiveram desenvolvimento tardio da doença, e que, somente agora, se encontram em etapas equivalentes aos que o ES viveu nos meses de abril e maio." Além disso, a secretaria informou que a letalidade atual do Estado é 30% menor do que a letalidade mundial e disse que é o que mais testa a população por número de habitantes.

O Amazonas também disse que o ranking não reflete os avanços alcançados no combate à Covid 19. Segundo o governo, em nota, houve redução significativa na taxa de ocupação de leitos nos hospitais, acompanhada da redução na curva de crescimento de casos do novo coronavírus, bem como no número de óbitos o que vem sendo demonstrada a cada semana epidemiológica. O Amazonas ainda destacou que ampliou em 99% o número de leitos para covid-19 na rede estadual. Os de UTI subiram 152% na capital e 190% no interior, segundo o governo. Assim, completou, a taxa de ocupação de leitos Covid está em 62% para UTI 39% para leitos clínicos. O governo ainda lembrou que o Estado foi um dos primeiros a ser afetados pela doença no País.

O governo de Goiás disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que, desde o início da pandemia, tem permanecido entre os Estados com menor número de casos e com menor letalidade e argumento que, devido às características da doença, com o aumento do número de casos, há um crescimento de forma exponencial. Entretanto, disse, a taxa de letalidade do Estado continua entre as menores do País.

O governo ainda afirmou que as determinações do Estado desde o início da pandemia permitiram que Goiás ficasse em 1º lugar no ranking de índice de isolamento social por semanas, mas argumentou que, em função de decisão do Supremo Tribunal Federal (que determina que os municípios têm autonomia no estabelecimento de protocolos e medidas), muitos prefeitos têm criado seus próprios decretos ampliando ou diminuindo a flexibilização das medidas de isolamento, deixando de seguir o decreto estadual.

Consultados, Pará, Distrito Federal, Roraima, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul não responderam às solicitações da reportagem até o momento de publicação desta matéria.

Contato: thais.barcellos@estadao.com
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