Política
21/02/2019 18:07

Para oposição, Previdência põe em risco discurso do governo contra velha política


São Paulo, 21/02/2019 - Um dia após a reforma da Previdência chegar ao Congresso, parlamentares da oposição avaliam que a tramitação da proposta de emenda à Constituição já configura um risco claro para o discurso do governo contra a "velha política". Ao Broadcast Político, deputados sinalizaram a insatisfação de parte das bancadas à proposta e afirmam que o governo de Jair Bolsonaro pode terminar contradizendo a tese de que não entregará cargos como moeda de troca.

"É um risco que existe. Talvez o governo tenha que usar uma arma que não queria", diz o deputado federal Júlio Delgado (PSB-MG). Ele lembra que Bolsonaro tentou romper com as antigas coalizões em que cargos nos ministérios estavam atrelados a apoio na Câmara, "mas ainda há muita gente dos partidos que gosta deste modelo de coalizão". O petista Carlos Zarattini (PT-SP) reforça a tese: "Ao recusar este modelo (de distribuição de cargos), Bolsonaro teria que colocar outra estratégia no lugar e até agora não apresentou", avalia.

Com isso, membros da oposição acreditam que o governo terá dificuldade em cumprir as projeções estabelecidas pela Secretaria Nacional da Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, de que a aprovação virá até o fim do primeiro semestre ou, no máximo, no início do segundo.

Sobre os partidos que integram o chamado Centrão, Delgado afirma que eles não se sujeitariam a sofrer com a "antipatia das ruas sem ter cargos nas mãos". Ele reforça a avaliação de que, apesar do discurso de combate a privilégios, categorias como a de trabalhadores rurais continuam desfavorecidas na nova proposta. Por isso, a aprovação do texto nos moldes atuais afetaria negativamente a imagem dos deputados junto à sociedade.

A aposta dos oposicionistas é de que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), teria um peso importante como articulador a favor da reforma. "Mas esta posição precisaria ser concedida a ele", diz Zarattini.

A tese difundida nos bastidores de bancadas de oposição é que Maia pôde atuar como principal articulador de votos para o Planalto no passado justamente porque detinha o poder de indicar nomes para cargos ministeriais. "Agora, ele conseguiu se manter na presidência da Casa e tenta recuperar o poder de decisão que tinha e não está mais nas mãos dele", diz um parlamentar.

O senador Major Olímpio (PSL-SP) investe no discurso de a argumentação e sensibilização da sociedade serão as "maiores armas" para que a reforma seja aprovada. "Quando você não tem mais o enquadramento dos partidos no modelo da chamada 'velha política', com a distribuição de cargos e emendas, tem que buscar um a um", afirma.

Nesta quinta-feira, o secretário da Previdência, Rogério Marinho, iniciou reuniões com parlamentares, a começar pelo PSL, para explicar detalhes da reforma. Entretanto, na aproximação entre Planalto e Congresso, principalmente o Centrão, ainda "não dá para dizer o que será conversado, condicionado, qual será o limite da negociação", acrescenta Olímpio.

Delgado, do PSB, cita a costura que o governo federal tenta fazer com governadores entre as opções para angariar votos em suas respectivas bancadas. "A negociação das dívidas dos Estados seria uma opção e, na contramão, o governador se comprometeria em conseguir votos a favor da reforma com a bancada federal", cita. Ele ressalta, entretanto, que esta também não seria uma das opções mais eficazes porque depende muito da situação de cada Estado e do poder de barganha de cada governador. "No caso de Minas Gerais, por exemplo, Romeu Zema (Novo) não tem sustentação para convencer 10 deputados na Câmara", afirma. (Nayara Figueiredo, nayara.figueiredo@estadao.com)
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