Economia & Mercados
06/05/2022 14:20

Especial: TIM, Vivo e Claro começam a organizar venda de antenas herdadas da Oi


Por Circe Bonatelli

São Paulo, 06/05/2022 - As operadoras TIM, Vivo e Claro estão começando a se organizar para colocar à venda uma parte dos equipamentos recebidos após o fatiamento das redes móveis da Oi, conforme determinado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). O trio assumiu a obrigação de ofertar ao mercado metade das estações rádio-base (ERBs) recebidas nessa transação - e já existem interessados.

O Broadcast apurou com fontes de mercado que dois fundos de investimento em infraestrutura de telecomunicações já estão em contato com as teles para colocar de pé uma oferta. A ideia seria fazer uma operação do tipo “sale and leaseback”, ou seja, comprar as ERBs e fazer a locação para as próprias operadoras. As conversas ainda estão em fases iniciais. Mas a lógica é semelhante à das empresas de torres, que compraram esses ativos das teles anos atrás e hoje recebem aluguel das operadoras que penduram seus equipamentos ali.

As ERBs são equipamentos colocados em postes, viadutos, prédios e torres para ativar o sinal de telefonia e internet. De modo resumido: são antenas. Juntas, Oi, TIM, Vivo e Claro tinham quase 100% do total de antenas de telefonia no mercado. Só a Oi era dona de 14,6 mil ERBs.

Cade
Para evitar a concentração dos ativos nas mãos de apenas três operadoras após a Oi sair do ramo de telefonia móvel, o Cade determinou que TIM e Vivo deverão colocar à venda 50% das ERBs recebidas nos próximos seis meses. Para a Claro, que concentrará menos equipamentos, serão 40% nos próximos 12 meses.

A TIM tem a intenção de estruturar a oferta antes do prazo máximo definido pelo órgão antitruste. “Quanto antes concluirmos, melhor”, afirmou o diretor de assuntos regulatórios e institucionais da empresa, Mario Girasole, em entrevista. Segundo ele, um fundo de investimento já bateu na porta da tele mostrando interesse. O executivo disse que ainda não sabe ao certo o valor dos ativos nem o tamanho da demanda e acrescentou que contratará um assessor para ajudar nesse processo.

A TIM já anunciou que pretende desativar 60% das 7,2 mil ERBs recebidas da Oi (mais do que o exigido pelo Cade) porque não tem a necessidade de ficar com todas delas. Boa parte dessa infraestrutura está em zonas onde a companhia tem equipamentos próprios. Outro ponto: ao adquirir o espectro (vias no ar por onde trafegam os sinais de celular) que pertencia à Oi, precisará de menos antenas para prestar o mesmo nível de serviço.

Por sua vez, a Vivo não tem um número exato de ERBs que serão desligadas. O presidente da tele, Christian Gebara, disse, em entrevista ao Broadcast na semana passada, que cumprirá a exigência de alienar os 50% exigidos pelo Cade, mas ainda não mapeou todos os equipamentos para definir se a oferta poderá ir além dessa quantidade. A Vivo recebeu 2,7 mil ERBs, portanto deverá se desfazer de ao menos 1,3 mil. "Não é óbvio (vender as ERBs). Foi uma demanda do Cade que nós não estávamos esperando. Então, vou colocar à venda e seguir a exigência", afirmou.

Gebara disse que o mercado de ERBs é "novo" para a Vivo. Não se sabe ainda qual o estado de preservação dos equipamentos que serão recebidos, sua localização exata ou se há interessados em adquirir tais equipamentos.

A Claro confirmou que vai colocar à venda 40% das ERBs recebidas pela Oi, conforme determinação do Cade. Ao todo, ela recebeu cerca de 4,7 mil unidades, portanto, irá se desfazer de 1,9 mil dentro de 12 meses. "É o prazo necessário para que a companhia estruture sua rede após a compra, uma vez que não adquiriu radiofrequências da Oi, sendo necessária uma cuidadosa adequação das ERBs recebidas às radiofrequências da Claro", explicou, por meio de nota.

Quem vai querer?
O sócio da consultoria Teleco, Eduardo Tude, explicou que o desinvestimento não é tarefa fácil, pois o uso das antenas têm pouca flexibilidade. Isso porque os equipamentos funcionam especificamente em uma faixa de frequência. Sendo assim, o possível comprador deverá possuir, principalmente, frequências de 1.800 MHz e 2.100 MHz, que foram muito usadas pela Oi. Ou então, o comprador terá que alugar esse espectro de terceiros (como TIM, Vivo e Claro) caso queira operar as antenas por conta própria. “Não parece que existem muitos compradores. Tem boa chance de micar a venda”, observou Tude.

Dentro desse contexto, a conversa das teles com os fundos de infraestrutura pode fazer sentido porque elas continuarão como usuárias das antenas. Como as conversas estão em etapas iniciais, é preciso aguardar a confirmação de interesse de TIM, Vivo e Claro nessa estratégia. As três teles podem não precisar, de fato, de todas as ERBs. Caso não achem compradores para os equipamentos herdados da Oi dentro dos prazos definidos pelo Cade, o destino dessas unidades poderá ser apenas o desligamento.

Contato: circe.bonatelli@estadao.com
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