Economia & Mercados
22/09/2020 19:00

Especial: Investidor segura posição vendida em ETF do Ibovespa com instabilidade do mercado


Por Matheus Piovesana

São Paulo, 22/09/2020 - O exercício de opções sobre ações e cotas de fundos de índice (ETFs, na sigla em inglês) de ontem na B3 repetiu uma tendência vista em agosto e que pode se estender ao vencimento de outubro: opções de venda das cotas do iShares Ibovespa. Analistas de mercado afirmam que isso indica a rolagem de proteções contra uma queda mais brusca do mercado. A possibilidade de que ela aconteça estaria mais próxima, considerando os padrões gráficos do índice.

As duas opções mais exercidas ontem foram de venda (put) das cotas, mais conhecidas pelo código BOVA11. Dados obtidos pelo Broadcast com operadores de mercado mostram que entre as 30 opções de maior exercício, seis eram da cota - todas puts. Ao todo, das 30 mais exercidas, apenas quatro foram de compra (call). Todas eram da ação da Vale.

Esse padrão, que repete o visto no vencimento de agosto, mostra que investidores, especialmente de maior porte, têm "segurado" posição vendida no mercado brasileiro. O iShares Ibovespa, administrado pela BlackRock, distribui a alocação dos recursos que gere de forma a replicar o desempenho da carteira teórica. Se o índice cair, o preço das cotas cai. E fica mais vantajoso exercer uma opção de venda, especialmente se for a um preço maior que o de mercado. Ontem, a venda mais exercida foi a R$ 98. O fechamento das cotas no mercado à vista foi de R$ 93,40.

"O movimento permanece o mesmo. A diferença é que a posição em aberto em agosto era de 92,4 milhões de cotas, e caiu para 87,7 milhões", comenta Yves Salomão, operador de aluguel e opções da Genial Investimentos. "Mas se manteve essa posição em short (vendida). Esse movimento de opções pode ser uma rolagem para o próximo mês." Ou seja: quem tinha opções que venciam ontem pode tê-las exercido apenas para se posicionar nas próximas, com vencimento em outubro.

De acordo com a B3, estavam em aberto ontem 52,981 milhões de opções de venda de cotas do iShares Ibovespa. No dia anterior, eram 52,044 milhões. Ontem, as opções de compra para o mesmo vencimento eram bem menos numerosas - 15,896 milhões.

Ação por ação

A intensificação do risco fiscal brasileiro combinada à volatilidade comum ao período pré-eleições presidenciais americanas explica essa rolagem. Gestores têm ressaltado a preferência pela seleção de ações específicas (o stock picking) nas últimas semanas em detrimento de ativos que espelhem o mercado de forma macro. O recado é simples: alguns setores devem seguir em alta. Isso não necessariamente se aplicará a todo o índice.

"O que vemos nos grandes fundos é que eles não estão comprando o mercado como um todo, mas fazendo stock picking e proteção contra o mercado", diz Vitor Miziara, head de alocação da Criteria Investimentos. "Muita gente exerceu essa proteção. O Ibovespa, que estava nos 98 mil pontos, entrou em tendência de baixa, e pode chegar aos 95 mil pontos e depois aos 93 mil."

De acordo com Rodrigo Barreto, analista gráfico da Necton, a curto prazo, o Ibovespa negocia no chamado canal de baixa, que é quando, mesmo com altas pontuais, o gráfico aponta para uma tendência de queda mais duradoura, com o índice oscilando em níveis sucessivamente menores. "O suporte de curto prazo vai dos 96 mil pontos aos 94 mil. O mercado só começa a ganhar tração de compra a partir dos 101,5 mil pontos", explica. Antes, porém, teria de romper a resistência dos 100 mil pontos - algo que pode não ocorrer tão cedo.

Na escolha de papéis também não houve mudança: salvam-se as ações de empresas de commodities, tanto do setor de metais, como Vale e siderúrgicas, quanto as produtoras de proteína animal, especialmente JBS e Marfrig, mais expostas ao mercado americano. "O que vemos é que se houver uma recuperação global, o setor de commodities deve se favorecer bastante", diz Miziara. Isso explica a predominância da Vale entre as opções de compra mais exercidas ontem.

Além disso, e mesmo com a forte realização de lucros vista nas últimas semanas, o setor de e-commerce também continua sendo uma aposta tanto entre investidores institucionais quanto entre pessoas físicas. "Vemos um movimento forte de clientes comprados em Magazine Luiza e Via Varejo, por exemplo", diz Salomão, da Genial.

Para operadores de mercado, no curto prazo, um possível rebote de medidas de distanciamento social com o aumento de casos da covid-19 tende a beneficiar o setor. A médio e longo prazos, considera-se que boa parte da aceleração dos canais online vista no segundo trimestre veio para ficar.

Contato: matheus.piovesana@estadao.com
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