Economia & Mercados
31/01/2022 12:00

Renner demora a corresponder às expectativas por mais aquisições e angustia mercado


Por Talita Nascimento e Altamiro Silva Junior

São Paulo, 31/02/2022 - Já se passaram 10 meses desde que a Lojas Renner captou cerca de R$ 4 bilhões em uma oferta subsequente de ações (follow on). No entanto, a única aquisição da companhia no período foi a Repassa, startup de venda online de roupas, calçados e acessórios usados. A transação não teve valores divulgados, mas ficou claro que, apesar de ser um movimento estratégico, a compra era pequena frente ao montante enorme de recursos obtidos no follow on. Desde então, os papéis da empresa na Bolsa chegaram a perder 39% de seu valor e hoje estão cerca de 22% abaixo da cotação em abril de 2021, quando a oferta foi realizada. Segundo especialistas, nessa queda já está embutida alguma frustração do investidor com a falta de apetite da varejista, enquanto seus concorrentes se movem.

Ao mercado, a empresa havia dito ter de 12 a 18 meses para utilizar os recursos e, apesar da expectativa que se criou em torno de uma grande aquisição, o prospecto da oferta falava em usar o dinheiro para o desenvolvimento e fortalecimento do ecossistema de moda e estilo de vida da companhia por meio de iniciativas orgânicas (desenvolvidas dentro de casa) e inorgânicas (fusões e aquisições) além da construção do novo centro de distribuição e expansão das lojas físicas da rede. Nos bastidores, o que se diz é que as empresas com foco digital - que fariam sentido para a gigante varejista incorporar em sua operação - passaram por um período de múltiplos altos, ou seja: estavam caros.

Na época da compra da Repassa, o CEO da Renner, Fabio Faccio, disse ao Broadcast que haveria mais movimentos pela frente: "Imaginamos alguns movimentos de M&A: pequenos, médios, talvez um maior". Desde então, porém, a companhia reforça que pode continuar investindo em soluções orgânicas, o que não deixou de causar certo desconforto no mercado.

Na última semana, os analistas Irma Sgarz, Felipe Rached e Gustavo Fratini, do Goldman Sachs, lembraram em relatório que, na época do follow on, a Renner havia captado recursos com a intenção de buscar potenciais oportunidades de crescimento inorgânico. No entanto, com o passar dos meses, a administração mudou um pouco o discurso e destacou que avaliaria se as aquisições eram uma boa opção ou se priorizaria projetos de crescimento próprios.

Os analistas chamaram a atenção para o novo programa de recompra de ações da companhia, que, pelo preço atual dos papéis, pode chegar a mais de R$ 500 milhões. O banco avaliou como "um tanto inesperado" o programa anunciado. "Com o anúncio, a Lojas Renner ainda mantém essa flexibilidade (para fazer aquisições), mas acreditamos que também é um sinal de que o crescimento orgânico pode continuar na vanguarda e que a empresa continuará disciplinada com M&A", escrevem.

A líder de varejo e colíder de Equity Research da XP, Danniela Eiger, diz que o programa não inibe planos de aquisição, mas possibilita que uma porcentagem relevante dos recursos captados não sejam usados em aquisições, como se esperava. Vale lembrar que a empresa não precisa executar todo o plano. Para ela, o desânimo do mercado com a demora de novos movimentos já está no preço dos papéis. Além disso, ela acredita que, ao buscar tirar do foco os M&As, a empresa busca diminuir as expectativas para, talvez, surpreender com algum anúncio.

De olho no preço

Se no ano passado os ativos digitais estavam caros, ainda não é possível dizer que o cenário mudou. Ainda que o crescimento de vendas digitais mostre estabilização e que haja menos liquidez no mercado - o que contribuiria para uma reavaliação de múltiplos - as inseguranças ligadas à macroeconomia no ano de 2022 criam uma espécie de limbo para o avanço de negociações. "O mercado ainda deve ser agitado e há consolidações para ocorrer, mas ainda há muita incerteza no ambiente, o que dificulta negociações", diz Fabiano Milani, sócio do escritório de advocacia Stocche Forbes.

Há ainda quem diga que essa espera da Renner teve efeito contrário: em vez de encontrar múltiplos mais equilibrados, vê agora preços ainda mais elevados. Aliás, ela não é a única empresa do setor capitalizada para fazer movimentos do tipo. Arezzo anunciou nesta semana uma oferta subsequente de ações (follow on) inédita, a primeira da companhia desde que abriu o capital em 2011. Menor que a da Renner, mas ainda assim muito significativa, ela pode chegar a R$ 830 milhões com a venda dos lotes extras. E os investidores têm demonstrado interesse em adquirir os papéis, segundo fontes.

Para analistas do Citi, os próximos movimentos de fusões e aquisições da calçadista buscarão expandir a exposição a segmentos em crescimento como o de roupas femininas e, potencialmente, permitir a entrada em novos segmentos como o de roupas esportivas e roupas de praia. Segundo relatório do banco, "a Arezzo está entre as empresas de vestuário mais ativas na busca de oportunidades inorgânicas". Nas conversas com investidores, a companhia tem sinalizado a intenção de comprar marcas complementares, não grandes empresas do setor, como chegou a ser ventilado.

Contato: talita.ferrari@estadao.com; altamiro.junior@estadao.com
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