Economia & Mercados
01/06/2022 15:15

Especial: Dispersão da inflação alcança média acima de 75% em 2022 e sustenta juros elevados


Por Renata Pedini, Francisco Carlos de Assis e Cícero Cotrim

São Paulo, 01/06/2022 - A dispersão da inflação no País, admitida ontem pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, se deve à persistência dos efeitos de choques de preços e alcança, na média do ano, 75%, quando consideradas as leituras das prévias e do indicador oficial (IPCA) já divulgados em 2022. Até que a difusão volte para ao menos perto de 60%, nível considerado confortável, junto com arrefecimento dos núcleos de inflação, para ao redor de 4%, o BC deve manter os juros elevados, dizem economistas ao Broadcast.

A medida do quanto a alta de preços está espalhada pela economia estava em 63,4% antes do início da alta da taxa básica (Selic), que saiu da mínima histórica de 2%, em fevereiro do ano passado. Um ano depois, no segundo mês deste ano, marcou 74,8%, subindo depois a 76,13% em março e 78,25% em abril, de acordo com série do BC.

Fora da série, o IPCA-15 de maio revelou dispersão de 75,2%, calcula o economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flávio Serrano, que atribui o alívio à Alimentação. Ainda assim, a média de 2022 está em 75,7%, somados IPCA e IPCA-15.


 Índice de Difusão  
 Mês   **Difusão/IPCA (%)   ***Difusão/IPCA-15 (%) 
Janeiro 73,21  
Fevereiro 74,8  
Março 76,13  
Abril 78,25  
Maio   75,2
Fonte: Broadcast e Banco Central
**IPCA de Janeiro a Abril
*** IPCA-15 de Maio


Além disso, o economista observa a proporção de itens da cesta de consumo cujas variações superaram a meta de inflação em base mensal - difusão acima da meta. Considerando 0,29% de meta "mensalizada" (3,5% em 2022), o movimento mais recente foi o seguinte: 77,2% em 15 de abril, 80,1% em 30 de abril e 74,2% em 15 de maio, conforme números da Greenbay.



O enfoque dado às altas acima da meta se justifica pelas ponderações ao uso da difusão para avaliar o comportamento da inflação. Isso porque dispersão alta não necessariamente implica em inflação elevada.

Um espalhamento de 100% é possível no caso de uma alta de 0,1% dos preços de todos os itens da cesta ou um índice menor que 1% com apenas um reajuste de 10% da gasolina, exemplifica o economista-chefe do Banco Alfa, Luís Otávio de Souza Leal. No primeiro caso, o IPCA ficaria em 0,1% e no segundo, em torno de 0,5%. "O que seria melhor? Isso posto, um índice de difusão em torno de 60% já acalmaria o mercado", diz Souza Leal.

Serrano continua: "podemos ter uma difusão alta no meio do próximo mês, mas o teto do ICMS deve produzir uma queda importante em itens que pesam muito e a inflação vai cair". O efeito é esperado caso o Senado siga a Câmara na aprovação do projeto que limita a 17% a alíquota do imposto sobre combustíveis e energia elétrica.

A despeito das ponderações, a economista para o Brasil do BNP Paribas, Laiz Carvalho, compara: de 2014 a 2016, a inflação foi alta e a difusão ficou, na média, entre 67,7% e 67,8%; já do início de 2017, quando a inflação começou a cair, até o início da pandemia, dispersão caiu a 58,4%. Por fim, do final de 2020 até agora, o resultado, de 67,9%, volta ao primeiro período, mas em intervalo mais curto de tempo.

"Vimos uma inflação muito alta no IPCA-15 de maio e, dentro dele, além dos itens com comportamentos sazonais, os que deveriam cair não caíram", diz. "Artigos de vestuário, com a saída do verão, deveriam ter entrado em liquidação, mas chegamos ao inverno e os preços continuam subindo", emenda ela. "Não dá para dizer que houve uma quebra do padrão sazonal porque são poucos meses de análise, mas tem uma inflação persistente em quase todos os grupos do IPCA", afirma, lembrando que, de janeiro a abril, o núcleo do IPCA subiu seguidamente.


Título: Difusão na série do BC
Fonte: Banco Central do Brasil (BCB)
Elaboração: Broadcast

Na AZ Quest Investimentos, a economista sênior, Mirella Hirakawa, chama atenção para Serviços. Nos cálculos dela, a difusão do grupo se manteve em 63,2% de abril para maio, mas representa um fator de atenção. "A média histórica de Serviços é próxima de 40%. O que vimos na pandemia foi uma dispersão muito baixa e no final de 2021 começa a ascensão. Este ano, seguiu em patamares altos e, no momento atual, está nas máximas desde 2014."

Em meio a esse quadro, a percepção é que a inflação vai demorar para convergir à meta e a conclusão é que o Banco Central não vai poder cortar os juros tão cedo. "Se o nosso cenário estiver certo, os choques não vão passar e, com isso, a Selic vai chegar a 14,25% neste ano", finaliza Carvalho, do BNP.

Ontem, em audiência pública na Câmara dos Deputados, Campos Neto afirmou que "há um aumento muito grande" da difusão na inflação brasileira e que os núcleos já chegam a 10%. "Vamos fazer tudo para chegar à meta."

Contatos: renata.pedini@estadao.com, francisco.assis@estadao.com e cicero.cotrim@estadao.com
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