Economia & Mercados
18/02/2022 18:06

Exclusivo: Petrobras se prepara para substituir trabalhadores do pré-sal por robôs, em 2030


Por Fernanda Nunes

Rio, 18/02/2022 - Robôs e drones vão ocupar plataformas marítimas de petróleo, no lugar de seres humanos, na próxima década. No Brasil, a Petrobras se prepara para ter sua primeira embarcação sem qualquer pessoa a bordo em 2030, no pré-sal, segundo apurou o Broadcast. Quando isso acontecer, toda produção de petróleo passará, então, a ser comandada remotamente por profissionais especializados, que vão trabalhar em escritórios, em terra firme. A “plataforma do futuro” da estatal, no entanto, ainda vai ser contratada. Esse será o grande passo da empresa rumo à era digital.

A digitalização da operação é uma revolução perseguida pela indústria de petróleo no mundo todo. O único experimento, até hoje, é o da Equinor, em parceria com a TotalEnergie, na Noruega. Na primeira plataforma desabitada, a Oseberg H, não há banheiros, quartos, cozinha ou qualquer outro espaço necessário à presença humana. Apenas um ou dois profissionais embarcam na unidade uma vez por ano, somente para checar se está tudo funcionando como previsto.

O esperado, porém, é que essa experiência se dissemine nos próximos anos. Num futuro próximo, toda plataforma terá sua versão “gêmea” no computador de uma sala de controle remoto. Qualquer movimento executado em uma se repetirá, imediatamente, na outra. Em vez de pessoas, robôs vão circular pelas embarcações. Eles vão ser os olhos e ouvidos dos operadores em terra.

“Existe um processo tecnológico em andamento para diminuir as tripulações das plataformas, com a utilização de robótica, controle e técnicas de Inteligência Artificial. Outro esforço de inovação é o conceito “subsea-to-shore”, no qual a produção submarina é transferida por dutos para a costa, sem o uso de plataformas”, afirma Segen Estefen, diretor de Tecnologia e Inovação da Coordenação dos Programas de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), da UFRJ, e ex-membro do conselho de administração da Petrobras.

Na Petrobras, o programa de automação da produção foi batizado de POB0 (People On Board Zero, em inglês). O projeto está inserido num plano maior de eficiência da petrolífera, o EF100. A estatal se prepara para ser mais eficiente que a média da indústria já em 2023 e estar entre as líderes do mercado em 2027. Para isso, num primeiro momento, vai focar em cinco áreas de onde vão sair 95% do seu petróleo - os campos de Libra e Búzios, no pré-sal da Bacia de Santos, e as bacias de Campos, Espírito Santo e Santos.

O POB0 foi divulgado pela primeira vez pela Petrobras durante o evento virtual Offshore Technology Conference (OTC), no fim de janeiro. “Acreditamos que, num futuro próximo, teremos o uso intensivo de robôs em plataformas marítimas para fazer inspeções e alguns tipos de procedimentos de operação”, afirmou Marcelo Ramis, gerente-geral de Eficiência da Operação na Exploração e Produção da Petrobras, em sua apresentação. Num primeiro momento, as máquinas serão implantadas a cada ano nas plataformas existentes. Mas o controle 100% remoto só será implementado nas novas embarcações.

Ao Broadcast, a assessoria da Petrobras informou que o programa de completa substituição dos trabalhadores por máquinas, nas plataformas, está em fase inicial de desenvolvimento. Ainda faltam soluções tecnológicas para que seja viável. Na verdade, algumas unidades de produção da estatal já são operadas remotamente, em salas de controle. Ainda assim, a empresa mantém uma equipe a bordo para realizar manutenções e reparos.

A avaliação de Edmar Almeida, pesquisador do Instituto de Energia da PUC-Rio, é que a adoção de plataformas desabitadas ou a redução da quantidade de pessoas na operação das plataformas são importantes para diminuir custos.

A Petrobras não revela números de quanto deve gastar na pesquisa e aquisição das novas tecnologias. Também não diz quanto espera economizar. Mas admite uma redução dos gastos com logística. Segundo a petrolífera, o principal objetivo é diminuir a exposição de pessoas ao risco, tornando as operações mais seguras e eficientes.

Pesquisador-visitante do Núcleo de Estudos Conjunturais da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Rafael Costa ressalta que a realidade brasileira é mais desafiadora do que na média da indústria. “As experiências internacionais trazem lições importantes para o Brasil, mas há aspectos específicos das FPSOs (navios-plataforma) brasileiras que demandarão um forte investimento tecnológico”, disse.

As embarcações usadas no pré-sal são maiores e há muitos trabalhadores envolvidos nas atividades, sem contar com a complexidade geológica da região. Além disso, o uso intensivo de Inteligência Artificial ainda está associado a preocupações com a segurança física e cibernética das operações. “Uma inteligência artificial está mais preparada para responder a certos padrões do que para lidar com eventos inesperados”, analisa Costa.

Contato: fernanda.nunes@estadao.com
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