Agronegócios
22/09/2021 13:57

Especial/Insumos: indústria monitora entregas para safra 21/22; produtores temem falta de alguns ativos


Por Isadora Duarte

São Paulo, 22/09/2021 - A demanda aquecida por insumos agrícolas e os entraves globais no fornecimento de alguns produtos, como falta de contêineres, preocupam agricultores quanto à disponibilidade dos agroquímicos para a safra 21/22. No momento, não há registros de falta dos produtos, porém há receio dos produtores quanto ao cumprimento de entregas de alguns ativos, segundo entidades ouvidas pelo Broadcast Agro. Isso porque a safra de verão 2021/22 já está sendo semeada no País e as previsões apontam para uma temporada recorde de produção. O País plantará área 4% superior com grãos, estima a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o que demanda maior volume de insumos agrícolas.

Para as lavouras de milho verão, que estão sendo plantadas agora, o planejamento e a compra de insumos estão realizados e dentro da normalidade, diz o presidente institucional da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Cesario Ramalho. "Boa parte dos produtores já comprou a maioria dos insumos para o milho. Os agricultores estão organizados e completamente prontos para iniciar também o plantio da soja", afirmou. Segundo Ramalho, há relatos de produtores que não encontraram determinada variedade de semente e que tiveram de substituir por outro tipo. "Como há boa procura e haverá incremento de até 10% na área de milho, inclusive de verão, houve maior demanda por alguns tipos, principalmente os mais resistentes à cigarrinha. Uma ou outra variedade esgotou", relatou. Essa substituição por produto similar não prejudica a produtividade e produção do cereal, conforme Ramalho. Ele ressalta que é uma situação normal de mercado, onde há uma busca maior por variedades com índices superiores de produtividade.

Em Mato Grosso, no início de setembro algumas indústrias sinalizavam aos produtores que poderiam não conseguir entregar integralmente os insumos que já estavam contratados, contou o diretor executivo da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Wellington Andrade, em live recente do Broadcast Agro. "Há relatos nas regiões norte e sul do Estado de alguns atrasos nas entregas iniciais. Esses atrasos estão relacionados principalmente aos problemas de logística interna e importação", explicou a gerente de Defesa Agrícola da associação, Jerusa Rech. Apesar desses atrasos iniciais, contudo, a Aprosoja-MT estima que cerca de 75% dos insumos comercializados para a soja já foram entregues aos produtores. "Podemos considerar as entregas dentro do esperado", pontuou Jerusa. A Aprosoja-MT notou também relatos de atraso na entrega de máquinas decorrente de dificuldades na importação dos componentes pelas fabricantes para a montagem dos equipamentos. "Não é uma situação que possa afetar o avanço do plantio no Estado, mas ocasiona transtorno para alguns produtores", considerou Jerusa.

No Paraná, não há relatos de problemas com o recebimento de insumos, afirmou o gerente de Desenvolvimento Técnico da Organização das Cooperativas do Estado (Ocepar), Flávio Turra. Segundo Turra, no Estado produtores e cooperativas estavam preocupados com o transporte de sementes e fertilizantes em virtude da paralisação dos caminhoneiros. Porém, a situação foi contornada. "No momento, está sob controle. Temos ainda preocupação com as dificuldades na importação de cloreto de potássio (Kcl) da Bielo-Rússia", apontou. As exportações da Bielo-Rússia estão restritas diante de sanções impostas pelos Estados Unidos e pela União Europeia (UE) ao país. A Bielo-Rússia é o segundo maior produtor de potássicos do mundo e responsável por 14% do nutriente importado pelo Brasil. O cloreto de potássio é um dos principais fertilizantes usados no Brasil.

A Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) também afirmou que não há até o momento registros de falta de fornecimento doméstico do Kcl. "Embora nos preocupa o fato de a demanda mundial por cloreto de potássio ser maior que a oferta e, portanto, poder haver riscos de fornecimento, por enquanto, não constam relatos de falta de fornecimento doméstico ou dificuldade de entregas para os agricultores", apontou o diretor executivo da Anda, Ricardo Tortorella. Já Ramalho da Abramilho não acredita que a situação na Bielo-Rússia possa trazer problemas no fornecimento do insumo para a safra 21/22, já que a maior parte dos adubos está adquirida. "No momento, a preocupação é muito pequena em relação ao cloreto de potássio", pontuou. Ele acrescentou que, contudo, os preços do insumo aumentaram expressivamente em virtude dos conflitos.

Outro ativo mencionado pelos produtores como parte da lista de cautela é o glifosato. Ramalho disse não ter conhecimento de falta do herbicida no mercado nacional, mas reconhece que há preocupação dos produtores com a disponibilidade do agroquímico. Sojicultor em Giruá, no Rio Grande do Sul, e ex-presidente da Associação dos Produtores de Soja do Estado (Aprosoja-RS), Luis Fernando Fucks explica que o aperto na disponibilidade do glifosato decorre da redução da oferta da matéria-prima para produção do herbicida na China em virtude de readequações ambientais. "No Brasil, sofremos restrição de glifosato por esta questão e também de outras moléculas como o paraquate e o 2,4-D por restrições de uso. Isso faz com que produtor busque mais outras moléculas e a oferta não consegue suprir totalmente a demanda", comentou Fucks.

Representantes das revendas reforçam o relato de normalidade na comercialização e entrega dos insumos agrícolas e afirmam que monitoram o cenário. A Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (Andav) diz que não observa entre as empresas associadas reportes de desabastecimento de produtos. Presidente executivo da Andav, Paulo Tiburcio, diz que a realidade do mercado de distribuição não indica atrasos ou ausência das entregas de insumos para o plantio da safra de verão 21/22. "Há relatos apenas do reajuste de preços, puxados por custos com logística e câmbio. O que temos observado é uma mudança no cenário de preços de alguns insumos", pontuou. O executivo destaca que os números atuais de importação de fertilizantes e defensivos agrícolas, que são majoritariamente adquiridos no exterior, acompanham o volume comprado em 2020, o que mostra regularidade no fornecimento. "Ou seja, não existe evidência de falta de produto, mas sim uma alta dos preços movida pelas cotações da moeda estrangeira", acrescentou Tiburcio, mencionando que a indústria global de insumos ainda se recupera da crise provocada pela pandemia de covid-19.

No caso dos fertilizantes, de um lado, o consumo de adubos está aquecido, já que a safra de verão responde por cerca de dois terços do volume utilizado anualmente no País. Consultorias privadas projetam crescimento de 5% a 8% no consumo nacional de adubos para acima de 42,5 milhões de toneladas. De outro, há gargalos na cadeia global de fornecimento como paralisações temporárias de fábricas nos Estados Unidos em virtude do furacão Ida, possíveis restrições chinesas nas exportações e sanções às exportações da Bielo-Rússia.

Tortorella da Anda afirma que pelo fato de o País importar 85% dos fertilizantes consumidos internamente, a dinâmica global de forte demanda e escassez de oferta gera impactos importantes para o Brasil, refletindo no preço e na disponibilidade do insumo. "A Anda está monitorando a situação e atuando de maneira integrada para avaliar os desdobramentos e mitigar possíveis impactos para o agricultor brasileiro", disse o diretor executivo da Anda, destacando que a situação é um motivo de preocupação para o agronegócio neste momento do cultivo da safra.

O executivo também citou desafios de ordem logística que refletem nas cadeias de suprimento. "O mesmo acontece com os fertilizantes, que disputam espaço em portos nacionais e internacionais sobrecarregados, fretes marítimos e rodoviários mais escassos e dificuldades operacionais devido aos cuidados com a Covid-19", explicou.

Por outro lado, na contramão da instabilidade do mercado internacional, as compras dos insumos foram antecipadas pela maioria dos produtores. Analistas de mercado apontam que apenas produtores que deixaram para adquirir os insumos de última hora, como adubos, podem encontrar dificuldades na oferta dos produtos. Em Mato Grosso, o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) estima que 94% dos insumos agrícolas a serem utilizados nas lavouras de soja 21/22 já foram garantidos. No milho, o porcentual é de 70%. A compra antecipada de fertilizantes para a temporada 21/22 está ainda mais adiantada, com 99% contratados para soja e 74% para o milho.

No Paraná, a Ocepar também estima que praticamente todo volume de fertilizantes e sementes já foi adquirido. Os defensivos agrícolas, por sua vez, serão adquiridos de acordo com a necessidade de uso. "As cooperativas e revendas já possuem estoques para atender à demanda dentro de uma situação de normalidade", disse Turra.

Entregas - De acordo com os produtores e executivos de indústria, até o momento, as entregas de fertilizantes adquiridos antecipadamente pelos produtores ocorrem dentro da normalidade. Dados oficiais de entregas de adubos são disponibilizados pela Anda com dois meses de atraso. Dessa forma, os números referentes às entregas de agosto e setembro - período antecedente e de início do plantio - devem ser conhecidos em novembro e dezembro deste ano.

Segundo entidades do setor produtivo, houve atraso pontual no recebimento dos insumos na primeira semana de setembro, em virtude de bloqueios realizados por caminhoneiros pelo País. Mas, com o fim da greve e a pequena duração do movimento, a situação foi resolvida e o fluxo de entregas normalizado. "Os problemas foram superados e os insumos estão sendo entregues dentro do ritmo", afirmou Ramalho, da Abramilho. Tiburcio da Andav afirmou que os distribuidores associados à entidade não registraram atrasos ou prejuízos na comercialização e entrega dos insumos em virtude das mobilizações de rodoviários. A Anda também não observou prejuízos nas operações decorrentes dos bloqueios nas rodovias.

Contato: isadora.duarte@estadao.com
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