Agronegócios
04/06/2021 11:42

Itaú BBA: banco analisa impacto da crise hídrica em culturas agrícolas e na pecuária


São Paulo, 04/06/2021 - O banco Itaú BBA divulgou relatório sobre o impacto da crise hídrico na agropecuária. Segundo o banco, os danos já vêm sendo observados há meses, desde o atraso no desenvolvimento das culturas perenes até impactos disseminados no milho safrinha nos Estados.

São Paulo, 04/06/2021 - O Itaú BBA ressalta que "a questão ganha contornos piores pelo fato de que, na maior parte da Bacia do Paraná, as chuvas nos próximos três meses, que já são escassas normalmente, deverão seguir este padrão, o que agravará a condição dos reservatórios representando riscos para o abastecimento de energia e também no agronegócio que é uma 'indústria a céu aberto'".

Após janeiro de 2021 com boas chuvas, os meses de fevereiro a maio apresentaram volumes muito abaixo da média histórica, o que prejudicou o desenvolvimento de diversas culturas. O banco destaca setores que já apresentam nítidos prejuízos decorrentes deste quadro:

Culturas perenes e pecuária
Café: A safra 2021/22, sendo colhida neste momento, foi bastante prejudicada pela seca desde o início do ciclo, com as floradas no último trimestre de 2020 seguidas de seca e altas temperaturas, o que levará a uma redução da produção de arábica de mais de 30% frente ao ano anterior. Já a safra 2022/23, em tese de bienalidade alta, já tem algum grau de comprometimento, pois o insuficiente desenvolvimento vegetativo durante o primeiro semestre deste ano, se reflete em um menor número de internódios, e isso significará menor espaço para a formação dos botões florais e, consequentemente, menor formação dos grãos.

Laranja: No Estado de São Paulo, o mais importante para a produção citrícola, e onde a seca vem se mostrando bastante intensa, a perspectiva é de uma recuperação pequena da produção neste ano, da ordem de 9,5% segundo a primeira estimativa da Fundecitrus, isso após ter caído 30% no ano anterior. As áreas irrigadas de café e laranja também carregam preocupação para os próximos meses em função da já baixa disponibilidade de água nos reservatórios.

Cana de açúcar: A cultura já apresentava atraso de desenvolvimento causado pelo período seco de 2020 e aguardava as chuvas de verão de 2021 para sua recuperação. O baixo volume das precipitações de fevereiro a abril, porém, além de causar atraso na colheita também provocou impacto na produtividade, reduzindo a expectativa de produção. A estimativa de redução de moagem aliada à grande parte do açúcar já comprometido para exportação tem resultado na priorização da produção de adoçante.

Esse cenário contribui para uma baixa oferta de etanol e nos faz projetar um balanço de O&D do biocombustível para a safra 2021/22 mais apertado, o que deve fazer com que os preços de hidratado na bomba sigam a paridade próxima dos 70% da gasolina C durante toda a safra, e até superior em determinados momentos, por exemplo na entressafra.

Pecuária de corte e de leite: Com as pastagens já bastante deterioradas em muitas regiões importantes de produção pecuária (leite e carne), casos de Minas Gerais, São Paulo e Paraná, por exemplo, o viés é de baixa da produção, com o complicador do elevado custo da alimentação concentrada. No caso dos confinamentos, parte dos animais que poderia entrar na engorda intensiva, caso as margens projetadas para o segundo semestre não estivessem tão apertadas, pode ser mantida no pasto alongando a chegada ao ponto de abate.

Culturas anuais
Milho safrinha: Embora a condição em Mato Grosso, principal estado produtor, não tenha sido tão ruim quanto em outros Estados, também são esperadas reduções no potencial produtivo. Já as lavouras do PR, MS, MG, GO e SP foram bastante afetadas, com estimativas da safra total circulando no mercado de até 60 milhões de t, frente a um potencial próximo de 90 milhões de t. Além de 35% da área da cultura no País ter sido instalada fora da janela ideal, segundo a Conab, prejudicada pelo atraso no ciclo da soja, a falta de chuvas atingiu em cheio a cultura já na fase vegetativa.

Além dos confinamentos de bovinos e na pecuária leiteira, a quebra do milho safrinha tem impacto direto nos setores de aves, suínos e ovos, que são intensivos em ração e já vêm pressionados pelos altos custos. Com isso, um possível alívio do preço do cereal para os elos demandantes ficará mais difícil, o que em última instância aumenta a necessidade de repasse dos preços das proteínas animais para os consumidores finais.

Trigo: Embora a preocupação com as condições climáticas ainda pairem sobre o produtor, o clima mais seco e as chuvas espaçadas ajudaram no momento de plantio do trigo nas últimas semanas. O ritmo de plantio, no entanto, segue abaixo do verificado no ano passado e, até o final de maio, a área plantada do cereal no Brasil chegou a 32,4% ante 37,4% na safra anterior, segundo a Conab. No Paraná, principal Estado produtor, até o último dia de maio a área plantada correspondia a 71%, enquanto a média dos últimos 5 anos no período foi de 67%. A condição da lavoura, que encontra-se entre a fase de germinação e desenvolvimento, correspondeu a 91% em condições excelentes.

O trigo é cultura rústica em relação à necessidade de chuvas, contudo, caso haja falta de umidade em momentos críticos do ciclo, como floração e enchimento de grãos, perdas significativas poderão ocorrer. Para as lavouras irrigadas no Centro-Oeste e em SP a atenção se volta aos níveis do reservatórios locais pois a baixa capacidade poderá comprometer o potencial de irrigação.

Arroz: A preocupação ainda é pequena para a cultura visto que a colheita da safra 2020/21 encerrou há algumas semanas e apresentou bons índices de produtividade. Olhando para a próxima safra, cujo plantio inicia-se a partir de setembro, com o arroz sendo uma cultura em que 70% da produção ocorre em áreas alagadas no Rio Grande do Sul, a atenção se volta aos níveis dos reservatórios de água no estado.

Feijão segunda safra: A falta de chuvas também tem afetado a produção de feijão segunda safra. No Paraná, maior Estado produtor, dos 40% de área plantada que ainda precisa ser colhida, 45% encontra-se classificada como “ruim” influenciada por uma parcela relevante de áreas em frutificação, estágio fenológico muito sensível à redução de precipitações. Em Mato Grosso, segundo maior produtor, a produtividade também foi prejudicada, contudo, o aumento de 10% da área deve sustentar um aumento de produção frente ao ano passado.

Feijão terceira safra: Para a terceira safra, cujo plantio ocorre entre e abril e julho e é majoritariamente é irrigada, o risco também está nos baixos níveis dos reservatórios de tal sorte que poderá comprometer substancialmente a produtividade. A produção total do feijão terceira safra na temporada passada representou 27% da oferta nacional do produto.
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