Agronegócios
15/04/2019 10:05

Perspectiva: Clima nos EUA e demanda por grãos devem orientar cotações em Chicago


Por: Leticia Pakulski, Tomas Okuda e Gustavo Porto

São Paulo, 15/04/2019 - A negociação comercial entre Estados Unidos e China, a demanda por grãos norte-americanos e o clima em áreas produtoras dos EUA devem ser os principais fatores a direcionar os preços futuros de soja, milho e trigo na Bolsa de Chicago (CBOT) nesta semana. Investidores acompanham nesta segunda-feira o relatório semanal de acompanhamento de plantio, a fim de verificar o efeito da tempestade Wesley, que atingiu os EUA na semana passada, sobre a evolução da semeadura, e monitoram os números de embarques norte-americanos, avaliando a procura por soja, milho e trigo produzidos no país.

Os futuros de soja fecharam estáveis na sexta-feira. Traders se mostraram relutantes em assumir grandes posições em meio a incertezas sobre como as chuvas e a neve no Meio-Oeste afetarão as decisões de plantio e sobre o desfecho das conversas sino-americanas. O vencimento julho da oleaginosa terminou sem variação, em US$ 9,0875 por bushel. "O mercado está cansado de tantas notícias a respeito da guerra comercial e quer ver uma evolução das negociações", disse a analista Andrea Cordeiro, da Labhoro. "Os prêmios no Brasil cederam e alguns atribuem isso a uma expectativa de que a guerra comercial está para acabar e acreditam que a China está ausente do País pela perspectiva de acordo. Não atribuo só a isso: os prêmios no Brasil caíram também pela competitividade com a Argentina." A analista lembra que problemas climáticos prejudicaram a colheita argentina no ano passado, o que diminuiu a participação do país no mercado internacional. Com a safra 2018/19 se consolidando na Argentina, começam a surgir mais ofertas de soja.

Em contrapartida, a demanda fraca por soja norte-americana na última semana reduziu parte do otimismo sobre um acordo comercial. "Não vimos a China no mercado comprando soja norte-americana. A performance do relatório semanal foi considerada um desastre", disse Andrea. Na semana encerrada em 4 de abril, os EUA venderam 280,4 mil toneladas de soja das duas safras (2018/19 e 2019/20), ante 1,992 milhão de toneladas na semana anterior. Enquanto alguns analistas viram como um sinal positivo de proximidade de um consenso as compras de carne suína dos EUA, outros citaram entraves no debate sobre computação em nuvem, conforme Andrea. "A mensagem de sexta-feira foi que fundos preferiram não se posicionar para o fim de semana."

A Labhoro destacou, em relatório, que não surgiram novidades importantes na semana passada sobre as negociações entre China e EUA, "apenas notícias genéricas que já cansaram os participantes do mercado que continuam esperando uma data para o fim das tratativas". O porta-voz do Ministério do Comércio da China, Gao Feng, afirmou na quinta-feira que o país e os EUA discutiram o texto para um acordo, em questões como proteção à propriedade intelectual, transferência de tecnologia, medidas não-tarifárias e mecanismos de implementação, acrescentando que "fizeram novos progressos". O secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, havia dito que as duas maiores economias do mundo concordaram com um mecanismo de monitoramento de cumprimento do possível acordo, sugerindo que um dos principais obstáculos no caminho para um entendimento foi resolvido.

A importações chinesas de soja totalizaram 4,92 milhões de toneladas em março, volume 13% menor do que o registrado em igual período do ano anterior, informou o Departamento de Alfândegas da China. No acumulado do ano, a China importou 16,75 milhões de toneladas de soja, volume 14% inferior ao reportado em igual intervalo do ano passado. "Além do conflito comercial ainda não resolvido, o surto de febre suína na China está deprimindo a demanda. Como resultado, o número de suínos caiu consideravelmente na China, o que reduz a necessidade de ração", disse o Commerzbank, em relatório. "Em vez disso, a China está usando importações para satisfazer sua demanda por carne."

O mercado observa também o clima nos EUA, segundo Andrea. "A primavera do Hemisfério Norte iniciou em condições adversas, com degelo intenso, chuvas demasiadas, alagamentos em vários pontos do rio Mississipi. E houve nova tempestade nas Dakotas e outros Estados mais no norte do cinturão", disse a analista. "O clima é uma incógnita, porque qualquer atraso na janela de plantio de milho que recém iniciou pode impactar a área de soja." Uma nevasca com ciclone atingiu na quinta-feira o norte dos EUA, limitando o fluxo e processamento de soja, milho e trigo na região do Meio-Oeste e Planícies, e uma tempestade era esperada no fim de semana para o Delta e Sudeste, segundo a Labhoro. Para os próximos dias, há chance de neve em Missouri, Iowa e Illinois, com temperaturas abaixo de 0ºC em todas as regiões, exceto no Delta e Sudeste.

O milho terminou a sexta-feira em leve alta em Chicago, refletindo a depreciação do dólar no mercado internacional e o fortalecimento do petróleo. A queda da moeda norte-americana torna commodities produzidas nos Estados Unidos mais atraentes para compradores estrangeiros, enquanto a alta do petróleo melhora a competitiva do etanol. Nos EUA, o milho é a principal matéria-prima usada na fabricação do biocombustível, e o setor consome cerca de um terço da safra doméstica do cereal. Preocupações com o impacto do clima frio e úmido sobre o ritmo de semeadura nos EUA também deram suporte às cotações. O vencimento julho do grão subiu 0,75 cent (0,20%) e terminou em US$ 3,6950 por bushel.

Os ganhos foram limitados pela perspectiva de menor demanda da China por causa dos surtos de peste suína africana no país asiático. O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) informou na quinta-feira que exportadores do país venderam 77.700 toneladas de carne suína para a China na semana encerrada em 4 de abril. Os dados impulsionaram o mercado de suínos, mas indicaram que a necessidade chinesa de milho para ração provavelmente diminuiu por causa da redução significativa do número de animais, disse Tomm Pfitzenmaier, da Summit Commodity Brokerage.

Os futuros de trigo negociados na CBOT fecharam em alta nesta sexta-feira, com sinais de que os preços do grão norte-americano estão competitivos. Segundo a AgResource, o trigo soft vermelho dos Estados Unidos foi o mais barato ofertado no leilão mais recente da agência estatal de grãos do Egito, excluindo custos de frete. Mesmo assim, o Egito acabou comprando 240 mil toneladas de trigo romeno e ucraniano, disse a AgResource. Na licitação anterior, a agência de grãos, conhecida como Gasc, comprou 120 mil toneladas de trigo norte-americano. Na CBOT, o vencimento julho do trigo ganhou 3,00 cents (0,64%) e fechou em US$ 4,6850 por bushel.

Café: contratos caem 2,9% na semana
Os contratos futuros de café arábica apresentaram desvalorização de cerca de 2,9% (280 pontos) na semana passada na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), base vencimento julho de 2019. As cotações encerraram na sexta-feira (12), a 92,95 centavos de dólar por libra-peso ante 95,75 no dia 5. No período, os contratos marcaram máxima de 98,50 cents (sexta, dia 5) e mínima de 91,75 cents (sexta, dia 12).

O Escritório Carvalhaes, tradicional corretora de Santos (SP), destaca em boletim semanal que, até a quarta-feira, dia 10, o mercado de café apresentou-se calmo, com as cotações na ICE Futures US oscilando pouco e apresentando uma ligeira tendência de alta. Segundo Carvalhaes, o mercado físico brasileiro também se mostrava calmo com os vendedores retraídos por causa das bases de preços ofertadas pelos compradores.

Na quinta-feira (11), os contratos de café na ICE abriram em baixa. A queda se acentuou no decorrer do pregão e os contratos com vencimento em julho próximo fecharam com perdas de 405 pontos, a 92,70 cents. Na sexta, os contratos oscilaram bem menos encerraram com leve alta.

A exportação brasileira de café deve ficar em cerca de 40 milhões de sacas no ano-safra que se encerra em junho próximo. O Problema, segundo Carvalhaes, aparece quando se olha para a receita cambial com as exportações de café. Nos primeiros nove meses deste ano-safra o Brasil embarcou um volume 30,3% maior em relação ao mesmo período do ano-safra anterior, mas a receita cambial foi apenas 7,1% maior por causa da forte queda dos preços.

O valor médio por saca exportada pelo Brasil vem caindo mês após mês. No fim de junho o País vai comemorar o novo volume Record em volume, mas o valor arrecadado deixará um gosto ruim nessa "vitória". "Essa queda no valor das exportações se reflete diretamente no bolso dos cafeicultores brasileiros. São eles que arcam com as perdas no valor da saca exportada", conclui Carvalhaes.

Açúcar: futuros mostram dificuldade para romper resistências
O mercado futuro do açúcar demerara na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) segue em busca de romper resistências no vencimento julho, que desde a semana passada é o mais negociado. O contrato tem dificuldades de superar os 13 cents até chegar aos 13,29 cents por libra-peso, meta seguinte, e terá de contar com a ajuda dos fundos.

Relatório semanal da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC, na sigla em inglês) mostra que fundos e especuladores tinham um saldo vendido de 77.471 lotes ao final da semana encerrada na terça-feira passada, 9 de abril, forte queda ante o saldo vendido de 100.097 lotes da semana finalizada em 2 de abril. Ao menos essa "fotografia" mostra que a aposta desses agentes é por um mercado mais altista.

No entanto, vários fatores limitam o avanço dos papéis mais líquidos, como a fixação de origem perto dos 13 cents e a rolagem de produtores do maio para o julho em busca de preços melhores. Na sexta-feira, com a ajuda do petróleo, o julho avançou 10 pontos (0,78%) e fechou em 12,92 cents, perto da máxima de 12,93 cents.

Contato: leticia.pakulski@estadao.com, tomas.okuda@estadao.com e gustavo.porto@estadao.com
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