Agronegócios
30/06/2022 10:45

Entrevista/Citi/Doshi: petróleo seguirá "forte e volátil", antes de perder ímpeto em 2023


Por Gabriel Bueno da Costa e Letícia Pakulski



São Paulo, 29/06/2022 - Diretor de Pesquisas em Commodities para as Américas do Citi, Aakash Doshi avalia que o preço do petróleo seguirá em nível "forte e volátil" no curto prazo, com o Brent em média ainda perto de US$ 100 o barril no terceiro trimestre. Em entrevista ao Broadcast, o analista diz que isso pode manter latentes tensões políticas e sociais decorrentes desse movimento recente das commodities, que puxa para cima a inflação. Mas Doshi projeta recuo nos preços do petróleo em 2023, com maior oferta e risco de perda de fôlego na economia global e, consequentemente, na demanda pelo óleo.

Broadcast: Qual sua previsão para o mercado de petróleo, no curto prazo?
Aakash Doshi:
Esperamos que o preço do petróleo siga bastante forte e volátil no terceiro trimestre, com o Brent ficando em média ainda perto de US$ 100 o barril como cenário-base. Há três razões para isso: a capacidade ociosa está muito restrita, globalmente; a grande demanda por produtos refinados, com a capacidade de refino muito baixa; e o terceiro fator são alguns desses impactos com a guerra entre Rússia e Ucrânia e o fato de que a oferta dos EUA ainda não retornou totalmente. Já no médio prazo, para 2023, prevemos viés de baixa para os preços do petróleo, os mercados podem cair para a faixa de US$ 75 a US$ 80 o barril, em média. Nós de fato acreditamos que muito da oferta de fora da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) deve crescer, no médio prazo. Isso inclui Brasil, Canadá, México, eventualmente os EUA, Guiana, Noruega e alguns países. A Opep e aliados (Opep+) continuará a elevar a oferta também, e acreditamos que a demanda começará a desacelerar, com os riscos de recessão.

Broadcast: Irã e Venezuela também devem estar nesse grupo com aumento na produção?
Doshi:
Pode haver aumento na Venezuela. No caso do Irã acho que muito depende de haver um acordo, com o Ocidente em particular. Boa parte do fato do mercado estar mais "apertado" no curto prazo foi a expectativa de que o acordo com o Irã estaria concluído no segundo trimestre deste ano. Agora isso foi levado para ao menos no fim de 2022 ou até no início de 2023. A entrada do Irã no acordo multilateral seria algo negativo para os preços do petróleo. O Irã poderia elevar suas exportações de 800 mil barris por dia a 1 milhão de barris por dia, se as sanções contra ele forem removidas.

Broadcast: Você espera alguma mudança no acordo atual da Opep+, de aumento gradual na oferta?
Doshi:
O presidente dos EUA, Joe Biden, visitará a Arábia Saudita em julho. Não posso prever o que acontecerá lá, mas sem dúvida é algo importante a se monitorar. Neste momento, acreditamos que a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos realmente têm capacidade ociosa [para produzir mais].

Broadcast: Há alguma possibilidade de o petróleo cair no curtíssimo prazo?
Doshi:
Acho que será difícil. Houve uma onda de vendas em junho por causa desses temores de recessão. Os preços do petróleo tiveram pico deste ano em março, mas ainda estamos com preços elevados. Acho que o lado da oferta e o risco geopolítico ainda está presente no mercado no curto prazo. Temos também quadro apertado na capacidade de refino. Os preços do gás estão bastante elevados, o que apoia a demanda por produtos refinados de petróleo. Mas há capacidade ociosa na China, que poderia elevar produção, e há algumas refinarias que devem ter capacidade ociosa nos próximos seis a 12 meses. Conforme a demanda diminui e os preços caem, isso deve ajudar a reequilibrar o mercado.

Broadcast: Nesse quadro, é possível esperar que tensões políticas decorrentes dos preços elevados de combustível prossigam?
Doshi:
Isso é algo que está afetando países de modo desigual, mas sem dúvida há um impacto. Dentro dos mercados desenvolvidos, sobretudo na Europa, e nos emergentes é bastante disseminado. Alguns países são exportadores líquidos, mas muitos outros sentem o impacto negativo com os preços de energia e alimentos mais caros. Esses componentes são muito importantes para impulsionar a inflação nesses países, particularmente no Oriente Médio e na África. Os preços de commodities mais elevados exacerbam riscos geopolíticos, seja no Sri Lanka, em outras partes da Ásia, Bangladesh, bem como em partes do Oriente Médio, como no Líbano.

Broadcast: A tentativa dos EUA de impor um teto no preço do petróleo da Rússia pode se materializar?
Doshi:
Acho que pode ser desafiador materializar isso. Não sei se o mercado de fato acredita que eles serão bem-sucedidos. Há um desconto já no preço vendido pelo petróleo russo. Uma opção seria recorrer ao mercado de seguros dos navios-tanque, mas acho que será difícil fazer isso com sucesso, no curto prazo.

Contato: gabriel.costa@estadao.com
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