Agronegócios
15/10/2020 06:15

Desigualdade digital de gênero ocorre em 17 dos 23 países da América Latina e do Caribe, mostra pesquisa


São Paulo, 15/10/2020 - Em 17 dos 23 países da América Latina e do Caribe, menos mulheres declararam possuir celulares em comparação com homens. Mulheres de baixa escolaridade que vivem em áreas rurais são, ainda, as menos “conectadas”, mostra o estudo “Desigualdade digital de gênero na América Latina e no Caribe”, coordenado pela cientista social italiana Valentina Rotondi, com base em dados da Pesquisa Mundial Gallup, informações dos países e rastreamento da rede social Facebook.

Apesar de que haver diferença de gênero na maior parte dos países, o estudo mostrou exceções. Enquanto no Brasil e na Argentina há uma situação de quase paridade, Guatemala e Peru são exemplos de nações em que a diferença é maior, enquanto no Chile e no Uruguai a proporção tende a favorecer as mulheres. A pesquisa, divulgada nesta quinta-feira, foi realizado pela Universidade de Oxford com apoio do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA).

De acordo com comunicado do IICA, o tema estudado adquire especial relevância em tempos de pandemia de covid-19, que acelerou mudanças nas formas de produção e nas redes de comercialização de todo tipo de produtos, como alimentos e outros bens fornecidos pelo campo.

“A rápida difusão dos telefones celulares mostrou potencial para reduzir a exclusão digital e afetar positivamente a economia e o desenvolvimento social. Para muitas pessoas, dispositivos móveis são computadores baratos, fáceis de usar e eficazes, que permitem comunicar-se, ter acesso a informações e a serviços vitais de saúde, educação e economia, ou venda de sua produção”, disse Rotondi, no comunicado.

A proporção de pessoas que possuem telefones celulares nos países analisados aumentou cerca de 80% em 2017 e 45% desde 2006, segundo os dados anuais do Gallup, e a lacuna entre os gêneros na posse de celulares diminuiu na última década. No entanto, voltou a piorar nos últimos cinco anos.

“Apesar dos avanços, as mulheres ainda estão atrasadas no acesso digital. De acordo com o mais recente informe divulgado pela União Internacional de Telecomunicações (UIT), na maioria dos países as mulheres ainda estão atrás dos homens no sentido de se beneficiar do poder de transformação das tecnologias digitais. Mais da metade da população feminina global (52%) ainda não usa internet, em comparação com 42% de todos os homens”, acrescentou Rotondi, que analisou dados da Pesquisa Mundial Gallup (2017) associados a informações proporcionadas por celulares.

O estudo concentrou atenção na correlação da lacuna de gêneros na posse de telefones com três medidas de empoderamento utilizadas pela Organização Mundial do Trabalho (OIT): proporção da taxa feminina de emprego vulnerável em relação à masculina; força de trabalho feminina em relação à masculina e desemprego juvenil feminino em relação ao masculino (medidas em 2019).

O estudo concluiu que, de modo geral, quanto menor a diferença de gênero na posse de celulares, melhores são as perspectivas para a inserção de mulheres no mercado de trabalho e menores são as disparidades entre os gêneros em trabalhos vulneráveis e desemprego juvenil.

Facebook - Com relação ao uso das redes sociais, foram utilizados dados do segmento digital sobre a composição de gênero dos usuários do Facebook (obtidos em fevereiro de 2020) para medir a diferença entre os gêneros na conexão nas redes. O Facebook foi escolhido por ser a rede social mais utilizada na região.

O resultado mostrou que as taxas de penetração do Facebook entre homens e mulheres na América Latina estão bastante equilibradas na comparação com países da África subsaariana e da Ásia, mas também há diferenças.

Brasil, Argentina, Venezuela, Colômbia, Suriname, Uruguai e Paraguai são países em que as mulheres têm maior probabilidade de serem usuárias de Facebook, enquanto no México, na Nicarágua e na Guatemala os homens são mais ativos nessa rede social.

O trabalho coordenado por Rotondi se concentra na denominada exclusão digital de primeiro nível, ou seja, mede o acesso às Tecnologias da informação e Comunicação (TICs) e destaca a necessidade de avançar na pesquisa de segundo nível, que se refere aos dados sobre as competências necessárias para a utilização mais plena das tecnologias.

“O estudo revela que o acesso reduzido a telefones celulares e a internet se soma a diversos problemas enfrentados pelas mulheres no campo, como as barreiras à obtenção de financiamento, à captação, ao emprego formal e à propriedade da terra”, disse o diretor-geral do IICA, Manuel Otero.
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