Agronegócios
29/09/2021 12:15

Fairr Initiative/Carnes: investimentos globais em carne cultivada somam US$ 506 mi no 1ºsem21


Por Julliana Martins

São Paulo, 28/09/2021 - Companhias globais do setor alimentício têm ampliado seus investimentos na produção de proteínas alternativas, com carnes cultivadas ou à base de plantas, elevando o compromisso com uma produção mais sustentável, avalia a Fairr Initiative, no relatório "Apetite por Ruptura: o último prato" antecipado ao Broadcast Agro. No primeiro semestre de 2021, as 25 varejistas e indústrias líderes globais na fabricação de alimentos investiram o recorde de US$ 506 milhões na produção de carne cultivada. Isso é mais do que o valor alocado durante todo o ano de 2020, de US$ 366 milhões, segundo a pesquisa.

A Fairr, que é uma associação de investidores que gerencia US$ 17,7 trilhões e atua na área de sustentabilidade, classificou o ano de 2021 como "o ano da carne cultivada", não só por causa do crescimento dos investimentos, mas também pelo destaque desse tipo de proteína no mercado. Somente neste ano, a MeaTech e a BioMilkmilq fizeram listagens públicas, cita. Além disso, a marca Eat Just, da Good Meat, foi a primeira no mundo a receber uma aprovação, feita pela Agência de Alimentos de Cingapura, para comercializar carne cultivada em restaurantes, comentou.

O relatório ressalta que diversificar a produção de proteínas será crucial para atingir as metas de sustentabilidade, ligadas às questões ambientais e climáticas, como prevê o Acordo de Paris. Mas, embora tenha havido avanços, uma porcentagem ainda aquém do esperado das empresas de alimentos está alinhada com o compromisso de aumentar a produção de proteínas alternativas. O ponto de preocupação é que, das 25 líderes mundiais de alimentos, 18 ainda não têm metas formais para diversificar as fontes de proteína, equivalente a 72%.

"Os varejistas e fabricantes de alimentos têm um papel vital a desempenhar na transição para uma economia de baixo carbono, mas o relatório da Fairr mostra que a maioria das empresas líderes de alimentos ainda não possui metas concretas para enfrentar os riscos climáticos em suas cadeias de abastecimento de proteínas, ou para atender à demanda do consumidor em expansão por carnes alternativas e laticínios", afirmou o presidente da Fairr Initiative, Jeremy Coller, em nota.

A Fairr também afirmou que os principais varejistas dos Estados Unidos, a Amazon (Whole Foods), Costco, Kraft Heinz e Kroger não relatam as emissões de Escopo 3 relacionadas à pecuária e estão com as piores posições no índice da pesquisa. As primeiras posições, com pioneiras em pesquisa e inovação de proteínas sustentáveis, são das empresas Unilever, Tesco, Nestlé, Sainsbury's e Conagra.

"A Tesco se comprometeu com um aumento de 300% nas vendas de alternativas de carne até 2025 e prometeu reduzir pela metade os impactos ambientais da cesta básica no Reino Unido. A Sainsbury's endossou publicamente a necessidade de realinhar as dietas para reduzir as emissões e tem planos de aumentar o volume de vendas de proteínas e laticínios vegetais - após um aumento impressionante de 40% nas dietas vegetais no Reino Unido em 2020", exemplificou.

Quanto aos quesitos relacionados às condições climáticas, 48% das empresas que fizeram parte da pesquisa passaram a rastrear e divulgar publicamente as suas emissões de gases do efeito estufa no Escopo 3. Em 2019, esse número era apenas 21%. Além disso, 52% das companhias envolvidas passaram a ter uma meta de zerar o saldo de emissões, contra 8% em 2019. O estudo mostrou, ainda, que 68% das empresas têm metas de reduzir as emissões agrícolas no Escopo 3, que representam cerca de 92% de todas as emissões de cada companhia.

O setor alimentício tem registrado um aumento na diversificação de fontes de proteínas no âmbito global, mas essas estratégias chegam atrasadas ao Brasil, apesar da demanda crescente por proteínas alternativas. Esta é outra das conclusões do relatório da Fairr Initiative. A pesquisa inclui as 25 varejistas e indústrias líderes globais na fabricação de alimentos e identificou dificuldades da cadeia varejista em expandir as práticas sustentáveis para a operação brasileira.

O estudo destaca a atuação de três empresas francesas que têm avançado apenas no país de origem: Carrefour, Grupo Casino e Mondelez. No caso do Carrefour, ainda que haja um aumento do mix no Brasil, pesa a suspeita de venda de carne oriunda de áreas de desmatamento, diz o relatório. Em relação ao Casino, a expansão do portfólio de base vegetal ocorre apenas na França, sem estratégias claras para o Brasil. Já a Mondelez sofre do mesmo mal, sem planos para o abastecimento sustentável de lácteos, conforme o documento.

Segundo a Fairr, demanda não parece ser o problema, já que uma pesquisa recente com consumidores do Reino Unido, Estados Unidos, Alemanha, Índia e Brasil apurou que quase 80% dos entrevistados experimentariam queijo lácteo sem origem animal.

"Enquanto a cadeia varejista francesa parece ter dificuldades para expandir
seus projetos sustentáveis para cá, no Brasil BRF e JBS já investem no mercado de proteínas vegetais", destacou na pesquisa, ao citar a linha "Sadia Veg&Tal", da BRF, e a parceria entre a empresa e a startup israelense Alpeh Farms para produção de carne cultivada. Quanto à JBS, os destaques são o segmento de proteína vegetal da Seara, com a linha "Incrível Seara", além da startup Planterra Foods, criada na JBS USA no ano passado, e da aquisição da europeia Vivera.

contato: julliana.martins@estadao.com
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