Açaí, bacuri, biribá e o fruto da pupunha são exemplos do que pode ser aprendido pelos estrangeiros
30 de maio de 2025
Por Karla Spotorno
Que o ‘Apolo’ e chef paraense Thiago Castanho me desculpe. Mas quando ele se deliciava comendo açaí batido com farinha de mandioca no programa da televisão, eu simplesmente não acreditava que aquela mistura poderia agradar paladares da selva de pedra.
A minha descrença só aumentava com os relatos que eu ouvia sobre a textura e sabor terrosos do açaí verdadeiro: bem diferente do sorvete doce coberto com leite condensado, Ninho e granulado de chocolate à venda nas regiões ao sul do Pará. Quem nunca?
Na semana passada, descobri que o chef tem toda razão. Num almoço na ampla casa sobre palafita do Seu Milton e da dona Odinéia, provei o verdadeiro açaí. E adorei. E olha que nem estava gelado, como gosta o Seu Milton desde que a energia solar passou a abastecer a família com açaí e água gelada todo o dia – algo que ele não abre mais mão.
O açaí batido na cozinha da casa no arquipélago do Marajó (PA) combina com farinha baguda*, pode ser bebido na cuia (que é uma tigela e não aquela cuia de chimarrão) ou comido com colher. Acompanha bem um filé de filhote – peixe do rio Amazonas que devia ser tão ou mais famoso que o tambaqui – e mais ainda um charque bem salgado.
Essa surpresa para novatos ignorantes em floresta amazônica – juntamente com o bacuri, o biribá, o fruto da pupunha – são um pequeno exemplo da força pedagógica que a COP30 vai exercer sobre estrangeiros de dentro e fora do Brasil.
O que o mundo inteiro vai encontrar na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas em Belém, a partir do dia 6 de novembro, é a floresta tropical e toda sua exuberância de sabores, águas, pessoas, cultura, logística totalmente diferenciada. A estrada para chegar em muitas cidades é brilhante, porque é feita das águas dos rios. Para chegar na casa do Seu Milton, em pleno igarapé do Rio Amazonas, só é possível usando barco.
O efeito pedagógico de uma COP em plena floresta certamente será muito mais impactante do que as experiências em região de deserto, como foi no Egito e em Dubai, e mesmo na região montanhosa do Cáucaso, em Baku. Talvez viajar até a Amazônia seja o que está faltando para aceitarmos o que o chef paraense diz na televisão e também executarmos, juntos, o que as 195 partes -194 países mais a União Europeia – assinaram há exatos dez anos no Acordo de Paris.
*farinha graúda de mandioca
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