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O rebelde virou refém

Será que a aura antissistema da moeda virtual Bitcoin acabou?

3 de dezembro de 2025

Por Gustavo Nicoletta

A bitcoin, moeda virtual criada para evitar ineficiências de intermediação do sistema financeiro tradicional, ganhou notoriedade por funcionar de forma descentralizada e por ter um estoque limitado -diferentemente do que ocorre com moedas tradicionais, cuja oferta pode aumentar ou diminuir a depender de decisões dos bancos centrais e governos nacionais. Estes fatores conferiram à bitcoin uma aura antissistema. Apesar da fama, porém, o preço da criptomoeda parece cada vez mais ouvir o coro de Wall Street e das grandes instituições financeiras.

Desde julho, quando atingiu seu pico mais recente, a bitcoin teve desvalorização de aproximadamente 25%. O movimento ocorreu a despeito da perspectiva de cortes nos juros dos Estados Unidos, que em ocasiões anteriores ajudou na valorização da moeda. Desta vez, pesou mais a preocupação com a exposição a ativos de risco dos grandes players do mercado, que vinham aumentando a posição em bitcoin até ali.

Dados compilados pelo site Macromicro mostram que, desde a metade do ano, houve redução na participação dos investidores considerados institucionais no mercado de bitcoin. O movimento de saída ganhou intensidade principalmente em novembro, quando a parcela de investidores institucionais voltou aos níveis vistos pela última vez em 2024, antes de este grupo entrar no mercado e alçar a criptomoeda a um preço recorde.

O movimento não foi coincidência!

Outubro e novembro foram os meses em que o debate sobre uma bolha pesou sobre as ações do setor de tecnologia dos Estados Unidos, em particular no grupo de papéis ligados à inteligência artificial. Foi também quando aumentou a especulação de que o banco central do Japão pudesse aumentar os juros, diminuindo o apetite de institucionais por risco nas operações de carry trade. Ambos os fatores pautaram os negócios dos grandes players e os movimentos nos mercados globais no período, indicando que quando quem dita tendência aperta o botão de venda, o ativo “rebelde” também segue a manada.

A bitcoin ainda pode sofrer nova pressão vendedora vinda de investidores institucionais. A Strategy, empresa de capital aberto e que detém 3% de todo o estoque global de bitcoin, indicou que poderia vender parte da reserva para honrar pagamentos de dividendos e outras obrigações se o valor da carteira passasse a ser menor que o da empresa (considerando valor de mercado e dívida, menos o caixa).

A conferir.