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Higiene mental

O que têm em comum entre a Amy Webb, um entalhador na madeira, Leandro Karnal e a Marinha do Brasil?

18 de agosto de 2025

Por Karla Spotorno

O que a Amy Webb, membros da Marinha do Brasil, o Leandro Karnal e um entalhador de madeira têm em comum? Todos circularam na Rio Innovation Week (RIW) na semana passada no Píer Mauá, região central do Rio de Janeiro. Num evento de inovação repleto de telas de LED, luzes e robôs, dá para entender a participação da futurista Amy Webb, cujo relatório anual é conhecido como um guia obrigatório sobre inovação e tecnologias emergentes. Também dá para entender a escalação de Leandro Karnal, filósofo e best-seller que, com uma escrita límpida e classuda, põe o leitor a pensar sobre o presente e o futuro.

Mas o que tem a ver um artesão que usa um formão como ferramenta de trabalho com uma feira pautada pela Inteligência Artificial (IA)? Absolutamente tudo a ver. A atual narcose digital, como classifica outro filósofo, o também palestrante na RIW Eduardo Giannetti da Fonseca, exige um momento de higiene mental. E ocupar as mãos e a mente com trabalhos manuais é uma forma de dar um reset no looping cerebral abastecido pelo arrasta-pra-cima.

O estande da Polo Maker, uma oficina compartilhada de marcenaria, elétrica e outros ofícios no Rio Comprido, estava dentro de um dos dois navios da Marinha do Brasil atracados no Píer Mauá -o veleiro Cisne Branco e o porta-helicópteros A140. Essa segunda embarcação, inclusive, disputou o topo do ranking de maior-fila-para-entrar da feira. Os motivos para esse alto grau de visitação eram alguns: um deles era o fato inusitado de o evento ter um gigante cinza de 200 metros de comprimento sobre a água. Logo depois do mergulho futurista nos túneis com exposições de arte repletas de luzes logo na entrada, era o A140 que capturava o olhar dos mais de 205 mil visitantes da RIW.

Maior navio de guerra em atividade na América Latina, o Navio-Aeródromo Multipropósito Atlântico acolheu outros expositores além dos artesãos da Polo Maker. Estavam lá atletas de e-sports, faculdades e também oficiais da Marinha expondo inovações tecnológicas da própria corporação. Os visitantes podiam dar um salto de pára-quedas no simulador para treinamentos desenvolvido internamente. Também podiam conhecer um barco autônomo por IA, capaz de rodar um dia inteiro para detectar bombas submersas.

Essa miscelânea de saberes e fazeres foi distribuída por mais de 40 palcos, em dois navios e seis armazéns. Não passou despercebida, porém, a fumaça escura saindo da chaminé do porta-helicópteros, movido a combustível fóssil. A inovação para resolver esse problema, por ora, estava embarcada apenas fora do navio, em terra firme, em um painel sobre descarbonização no transporte marítimo.

Especialmente em ano de COP30, a solução para as emissões de gases de efeito estufa poderia também ter sido escalada entre os 3 mil palestrantes para estar sobre a água.