Brasil e combate à febre aftosa: onde o negacionismo antivacina nunca prosperou
29 de maio de 2025
Por Tânia Rabello
O reconhecimento pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), nesta quinta-feira, de que o Brasil é um território livre de febre aftosa, sem vacinação, coroa um esforço de décadas. Iniciativa privada e governo federal, além de governos estaduais e municipais, trabalharam por pelo menos 50 anos, de forma conjunta e intensa, para livrar o rebanho bovino e bubalino brasileiro da febre aftosa, que fechava portas à carne brasileira no exterior e trazia prejuízo ao produtor por causa dos animais doentes. Com o novo status, o País pode conquistar valorizados mercados, como Japão e Coreia do Sul.
A imunização, principal ferramenta para brecar o avanço da aftosa, se transformou em política pública, abraçada pelo setor produtivo. Nesse período, virou rotina nas fazendas separar o rebanho pra vacinar contra a “fetosa” duas vezes por ano. Fazia parte do manejo. Dava trabalho? Dava. Custava dinheiro? Custava. Imagine retirar milhões de animais do pasto (para se ter ideia, hoje o rebanho brasileiro bovino brasileiro é maior do que a população do País), levar para o curral, vacinar e, depois, comprovar que vacinou… Operação de guerra.
Mas todos cumpriram com a obrigação e os índices vacinais ficavam rotineiramente acima de 90%, sobretudo a partir da década de 1990. Em 2017, quando o Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa (PNEFA) foi lançado pelo Ministério da Agricultura, é que se traçou o objetivo de obter, em 2026, o status de livre de aftosa sem vacinação pela OMSA. Com um ano de antecedência, o objetivo foi alcançado.
O pecuarista abraçou a vacinação, mesmo com alguns percalços no caminho. E viu resultados. Ano a ano, o Ministério da Agricultura declarava áreas do País como livres de aftosa, mas ainda com vacinação. A primeira região a obter o reconhecimento como livre de aftosa, sem vacinação, foi Santa Catarina, em 2007. O pequeno Estado do Sul reinou sozinho com este status que lhe abriu importantes mercados, sobretudo à carne suína, até 2021, quando a OMSA deu ao Paraná a mesma chancela, além do Rio Grande do Sul, Acre e Rondônia.
A partir daí, regiões após regiões deixaram de vacinar o rebanho, conquistaram o mesmo status, conferido inicialmente pelo Ministério da Agricultura e confirmado, posteriormente, pela OMSA. O último foco de aftosa no País foi registrado em 2006, em Mato Grosso do Sul e no Paraná. Depois, nada, comprovando a eficácia da vacinação e, onde não se vacinava mais, das políticas de defesa sanitária para impedir a entrada do vírus.
Agora, neste dia histórico para o setor pecuário brasileiro, o que se comprova também é que, quando poder público e iniciativa privada se unem em torno de um objetivo comum (o que poderiam fazer também para implementar de vez o Código Florestal), os resultados aparecem. E que vacinação funciona.
Em um setor que faturou com exportações de carne bovina US$ 12,8 bilhões no ano passado, um recorde, graças, em grande parte, à erradicação da aftosa no rebanho, o negacionismo antivacina não cabe.
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