Mesmo sob tensão do tarifaço, ministro Geraldo Alckmin mantém hábito de sair do seu gabinete para tomar café
8 de agosto de 2025
Por Flávia Said
Sete de agosto de 2025, quinta-feira pós-tarifaço americano aos produtos brasileiros, 17h45 em Brasília, Esplanada dos Ministérios iluminada pela golden hour típica da seca, que oferece o pôr-do-sol mais bonito do Brasil. Nesse cenário, o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, desce de seu gabinete no Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), pasta que acumula com a Vice-Presidência, e passa pelos repórteres “acampados” em cadeiras de praia à espera de uma entrevista.
A calma do vice contrasta com o furor dos jornalistas que, surpresos e com câmeras nas mãos, correm atrás dele com questões sobre o tarifaço contra o Brasil. Acompanhado por um assessor, ele sai caminhando dizendo apenas que irá tomar um café. Garante que falará com a imprensa na volta, mas não é o suficiente para dispersar a horda, que segue no encalço de Dr. Geraldo.
Alckmin para em uma banca em frente ao bloco K da Esplanada, que abriga o ministério do Planejamento e Orçamento e da Gestão. A banca, um de vários pequenos comércios entre as duas pastas, não vende revistas e jornais como em tempos passados, mas, sim, frutas e bebidas diversas, incluindo energético e água de coco, além de cigarro, misto quente, tapioca e açaí.
Percebendo que o vice-presidente não dará as informações sobre o tarifaço naquele momento, os repórteres engatam em conversas mais amenas. Pergunto a ele qual é o melhor café da Esplanada e ele se limita a dizer: “Brasília tem bom café”.
Mas não é café, muito menos de licitação, que o vice-presidente e ministro compra. O vendedor entrega nas mãos do ex-governador paulista uma Coca-Cola, que ele divide com o assessor, enquanto engata em uma conversa com os donos do pequeno comércio e a filha do casal, que cursa o oitavo semestre de Direito em uma faculdade de Brasília.
O vice-presidente diz que sempre vai até a Banca da Deisi e dispara aos repórteres: “Vocês não ficam atentos”. Ao terminar o refrigerante e o tête-à-tête, Alckmin abre a carteira e paga o vendedor com uma nota de Real. Sim, um Pix físico. “Acerto todo dia, mas às vezes fica um crédito”, diz o vice já na caminhada de volta. Ele faz questão de frisar aos repórteres que o acompanham que os comerciantes abrem a banca às 6h30 e encerram às 19h, uma jornada de mais de 12h de trabalho.
Ao voltar à sede do MDIC, Alckmin cumpre a promessa e concede uma entrevista de pouco mais de cinco minutos aos jornalistas, desta vez, sobre o tarifaço. Como de costume desde meados de julho, o vice-presidente classifica a sobretaxa de 50% aplicada pelo governo Donald Trump aos produtos brasileiros como um perde-perde. E assim termina a golden hour em Brasília de uma quinta-feira atípica de agosto.