Presidente Donald Trump mirou em seu homólogo Lula, mas acertou mesmo no governador Tarcísio de Freitas
10 de julho de 2025
Por Fábio Alves
Não são somente os grandes exportadores agrícolas e de outras indústrias, como Embraer, os maiores perdedores da tarifa de importação de 50% sobre os produtos brasileiros que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou ontem: o governador paulista e presidenciável Tarcísio de Freitas deve arcar com uma parcela considerável dessa fatura política.
Trump deu um novo gás para o presidente Lula na corrida presidencial de 2026, oferecendo de bandeja um tema para aglutinar o apoio não somente da esquerda, mas também do centro – algo que se viu na eleição de 2022, com uma coalizão contra o temor de uma marcha autoritária por Bolsonaro e aliados.
A decisão de Trump foi considerada injusta e injustificável do ponto de vista econômico, ao atrelar a imposição da alíquota de 50% à perseguição política ao ex-presidente Jair Bolsonaro e às restrições à operação das redes sociais – decisões fora do controle do presidente Lula e sob alçada da Justiça brasileira, com os processos em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF).
Choveram críticas a Trump não somente no Brasil, não somente por economistas, não somente por diplomatas e ex-diplomatas, não somente por políticos da base aliada a Lula.
As críticas abundaram no exterior, de vozes importantes, como a de Paul Krugman, economista ganhador do Prêmio Nobel e colunista do jornal The New York Times. Krugman, inclusive, disse que a tarifa de 50% sobre o Brasil é “motivo suficiente” para o impeachment de Trump. O economista chamou a decisão do republicano de “megalomaníaca”.
Obviamente, desde o anúncio da tarifa de 50%, a expectativa era grande pela reação de Tarcísio de Freitas, considerado pelo mercado financeiro um dos nomes com maior probabilidade de derrotar Lula em 2026.
Mas a resposta de Tarcísio já está gerando críticas ao governador paulista.
“Lula colocou sua ideologia acima da economia, e esse é o resultado”, escreveu Tarcísio na rede X (antigo Twitter). “Tiveram tempo para prestigiar ditaduras, defender a censura e agredir o maior investidor direto no Brasil. Outros países buscaram a negociação. Não adianta se esconder atrás do Bolsonaro. A responsabilidade é de quem governa. Narrativas não resolverão o problema.”
A reação de Tarcísio foi, no mínimo, míope politicamente. Ele não percebeu o quanto a tarifa de 50% vai atingir duramente o Estado de São Paulo, cujas indústrias abocanham a maior parcela de exportação aos Estados Unidos.
Mais ainda: faltou à declaração de Tarcísio a sagacidade política de perceber que a decisão de Trump é algo que vai aglutinar o sentimento dos brasileiros em reação a um ataque econômico sem base.
Tarcísio decidiu se agarrar cegamente a uma subserviência ao bolsonarismo, sem atentar que o ex-presidente Bolsonaro e seus filhos, além de ícones da extrema direita, vão arcar com o ônus político do impacto dessa tarifa sobre a economia brasileira.
Basta ver o editorial desta quinta-feira do Estadão, por exemplo.
“Que o Brasil não se vergue diante dos arreganhos de Trump. E que aqueles que são verdadeiramente brasileiros não se permitam ser sabujos de um presidente americano que envergonha a democracia”, diz o texto do editorial.
Assim, não é difícil enxergar o erro estratégico político de Tarcísio com uma reação inadequada à tarifa de 50% de Trump sobre o Brasil.
Na edição de hoje do seu podcast, o analista político da LCA 4intelligence, Ricardo Ribeiro, observa que a evidente vinculação da família Bolsonaro a Donald Trump, reforçada pelo autoexílio de Eduardo Bolsonaro nos Estados, e o alinhamento do entorno bolsonarista à figura do presidente americano, fornecerão munição para Lula, o governo e o PT atribuírem à oposição bolsonarista responsabilidade pela decisão americana, danosa à economia brasileira.
“A exaltação à defesa da soberania nacional contra o ‘imperialismo americano’ também será utilizada como mensagem a favor do governo e de Lula”, argumenta Ribeiro. “Ontem, já começou a circular nas redes sociais o slogan ‘Lula quer taxar os bilionários; Bolsonaro quer taxar o Brasil’.”
É possível que, em breve, o governador paulista Tarcísio de Freitas descobrirá o erro de cálculo ao apenas culpar Lula pela decisão de Trump, sem criticar duramente a tarifa de 50% e mostrar-se solidário ao Brasil neste momento.
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