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Pole position

Dois Kevin disputam a cadeira de presidente do Banco Central dos EUA. Qual deles vai sair na frente?

17 de dezembro de 2025

A disputa pela presidência do Federal Reserve (Fed) ganhou clima de Fórmula 1. No grid, dois Kevins aceleram rumo ao cargo mais poderoso da política monetária global. Kevin Hassett e Kevin Warsh brigam pelo cockpit do Fed, enquanto Donald Trump fala pelo rádio pedindo mais velocidade. Leia-se: juros mais baixos.

Hassett parecia ter largado na frente. Conselheiro econômico da Casa Branca, ele cruzou a volta mais recente em alta rotação, afirmando que há muito espaço para cortes de juros após um payroll misto e repetindo que Trump acha que as taxas deveriam estar mais baixas. No rádio, o recado ao republicano foi claro: se no Fed estivesse, negociaria, sim, a redução das taxas com os outros membros. Ao mesmo tempo, tentou manter o carro na pista institucional, dizendo que a independência do banco central é muito importante para o país.

O problema é que, em corridas longas, proximidade excessiva com o box pode custar caro. As falas de Hassett, inclusive a de que conversaria com Trump todos os dias até que ambos morressem só porque é muito divertido, fizeram o mercado, que faz o papel da organização da corrida, acionar o safety car. A preocupação com a autonomia do Fed voltou aos painéis. A vantagem começou a evaporar.

Foi aí que Kevin Warsh reapareceu pelo retrovisor. Ex-diretor do Fed, ele ganhou tração após reportagem do Wall Street Journal apontá-lo como favorito de Trump. Segundo o jornal, o presidente chegou a pressioná-lo para saber se poderia confiar nele para cortar juros. Warsh não fala tanto quanto o rival, mas carrega o peso do currículo – algo que agrada parte do mercado em busca de credibilidade no volante.

As apostas captaram rápido a mudança de ritmo. Pela primeira vez em quase três semanas, Hassett deixou de ser o favorito na casa de apostas Polymarket. Warsh passou a liderar, com cerca de 48% das chances, contra 40% do rival em 16 de dezembro. O problema é que, já no dia 17, Hassett aproveitou uma parada no box de seu xará e pisou no acelerador, fazendo com que o placar das apostas fosse a 56% a 23% – 33 pontos de vantagem para ele. Em uma corrida tão acirrada, isso equivale a assumir a pole position na véspera da prova.

O detalhe é que nenhum dos dois corre em pista livre. Trump já deixou claro que espera juros a 1% ou menos. O presidente dos Estados Unidos quer também ter um papel nas conversas sobre a taxa básica. O desafio do próximo chairman do Fed não será apenas baixar o tempo de volta, mas convencer a torcida de que o cronômetro ainda é controlado pelo Comitê, e, não, pelo dono da equipe.

No fim, a corrida dos dois Kevins não é apenas sobre quem chega primeiro, mas sobre como chega. Hassett corre com o motor aberto e fala em produtividade, IA e crescimento acima de 4%. Warsh aparece como o piloto experiente, mas carrega o risco de parecer duro demais… até o momento em que precise aliviar o pé.

A bandeirada final ainda não tem hora marcada. Trump diz que a escolha sai em breve. Até lá, o mercado segue apostando, o dólar reage a cada manchete e o Fed assiste da arquibancada, torcendo para que, qualquer que seja o vencedor, não termine em bandeira vermelha.

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