A expectativa era uma e a realidade, bem outra. Juro alto na gestão de Gabriel Galípolo frustra Brasília
16 de novembro de 2025
Por Simone Cavalcanti e Denise Abarca
Só o tempo para mostrar como pode ser inevitável mudar algumas percepções. Há exatos um ano e sete meses, o presidente Lula estava tecendo elogios a Gabriel Galípolo, que viria a ser o novo presidente do Banco Central. O chamou, inclusive, de menino de ouro.
Após embates públicos com o antecessor, Roberto Campos Neto, o mandatário suavizou o discurso. Talvez pela questão política, uma vez que Galípolo era seu e, somente seu, indicado para a função. Talvez porque havia ali uma esperança de um posicionamento mais brando com relação à condução da política monetária.
Nos primeiros dois meses de sua posse, um baque político: a Selic subiu em vez de descer. Isso já era justificado com uma herança maldita. Passado o tempo, os juros foram a 15%, lá estão até agora e devem ficar por um período bastante prolongado, como o Banco Central gosta de frisar.
Podem ter passado despercebidos para Lula e os integrantes mais radicais do Partido dos Trabalhadores os indicativos públicos dados pelo próprio Galípolo no ano passado, antes de ser presidente do BC. Em agosto, ele já afirmava que, se necessário, não deixaria de elevar mais os juros.
No mercado financeiro, a desconfiança com a nomeação de Galípolo, que foi sócio do economista Luiz Gonzaga Belluzzo, ainda para a diretoria de política monetária foi sendo, aos poucos, dissipada. Só superada mesmo quando mostrou que conseguia andar com suas próprias pernas.
Explicamos: Campos Neto passou o bastão para seu sucessor com o compromisso firmado de elevar os juros nas reuniões de janeiro e março. E um ponto porcentual em cada! Com isso, levou a taxa básica, para desgosto político, a 14,25%.
Não foi o bastante e, com a mesma firmeza de antes, o “menino de ouro” bancou a alta para 15% e a sua manutenção nesse nível. Hoje tem conseguido imprimir mais credibilidade à gestão no BC.
A despeito da torcida do mercado pela queda da Selic, já antecipada pela Bolsa e precificada na curva de juros, soa como música aos ouvidos dos economistas quando o chefe do BC fala que o objetivo é perseguir a meta de inflação de 3%, sem desvios.
A defesa da convergência do IPCA ao alvo central antes mesmo da queda da Selic terá teste importante em 2026, ano eleitoral. Muito em função do risco fiscal, as expectativas futuras têm cedido a passos lentos, num ritmo que, em tese, não autoriza o início dos cortes do juro básico tão cedo, como tem defendido a comunicação do BC.
Seria coisa para o fim do primeiro trimestre e, ainda assim, o corte total dos juros pode não estar a contento do que deseja o Planalto. Talvez a Selic não emagreça na quantidade esperada, dado o prazo curto para o ajuste. Historicamente, não é de bom tom a política monetária concorrer com o ruído das urnas, que aumenta a partir do segundo semestre.
Mas a esperança, como dizem, é a última que morre.
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