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Simpatia é o nome do jogo

Belém vê seu dia a dia ser invadido por línguas e rostos com identidades distintas e reage com sorriso e atenção

7 de novembro de 2025

Por Cristina Canas, enviada especial


A COP ainda não tinha começado e Belém não era mais a mesma. Até porque, a cúpula de líderes antecedeu o evento e trouxe quase 60 chefes de governo à capital do Pará, Estado que abriga boa parte da Amazônia Legal. E isso exigiu alterações na rotina da cidade.

Não foram poucas as ruas interditadas, provocando trânsito acima do habitual e interferindo na rotina da população. Em cada esquina, um aparato de segurança. Ora das Forças Armadas, ora das polícias militar e civil.

A população foi vendo seu dia a dia ser invadido por línguas e rostos com identidades distintas. A maior parte delas, completamente estranha a essa comunidade que resulta da miscigenação de povos indígenas, negros e descendentes de imigrantes europeus, principalmente portugueses.

“Vocês não podem passar por aqui, têm que dar a volta pela outra avenida”, explicou a policial a um grupo de 3 ciclistas que tentavam acessar a avenida que dá acesso ao Parque da Cidade, preparado para sediar os trabalhos da COP30.

“Um transtorno!”, diriam os cidadãos de qualquer parte do planeta. Mas isso não aconteceu em Belém. A cidade, ou melhor, seus habitantes, escolheram a simpatia e um sorriso constante no rosto, em todas as situações e locais.

Ao perguntar no aeroporto: “onde se pega o Uber”? a resposta que recebi foi: “logo alí, posso levá-la até lá”. Já dentro do carro, a conversa era: “queremos que a COP ajude Belém, mas principalmente, ajude todo o País a viver melhor. Espero que a senhora tenha um ótimo evento”. Em outro deslocamento o motorista decidiu: “Não desça, vou perguntar à policial e vamos achar outro caminho para deixá-la mais perto. Aqui a senhora vai andar muito”.

Já dentro do Parque da Cidade, a recepcionista me indicou o caminho: “identificação alí, à esquerda, e a senhora está muito bonita, com essa blusa colorida”. Trabalhando de pé há horas, um estudante fazia as fotos para credenciais, mostrava e perguntava: “gostou? posso fazer outra se quiser”. Enquanto isso, perguntava de onde as pessoas vinham e se estavam gostando. Às minhas curiosidades ele respondeu sorrindo: “é cansativo, mas estou treinando meu inglês e conhecendo muitas pessoas diferentes, de todos os lugares do mundo. É muito bom”. Sobre a cidade, a colega do lado analisou: “fizeram muitas coisas boas e Belém não é mais a mesma; foi rápido e isso mostra que já podiam ter feito antes”.

No restaurante, o garçom se divertiu com a minha estranheza diante do cardápio: maniçoba, vatapá paraense, moqueca de filhote, unha de caranguejo…e incansável, explicou um a um, orgulhosamente.

Os belenenses escolheram a simpatia para receber a COP30.